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'A árvore do amor', de Zhang Yimou, é um dos destaques do Festival do Rio

Primeira sessão na mostra Panorama do Cinema Mundial será neste domingo (9)

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Em eventos como o Festival do Rio, temos a oportunidade de ver filmes de cinematografias dos mais diversos lugares do mundo e que estão, durante a maior parte do ano, à margem do mercado e da maioria das salas de exibição. Pretendemos, portanto, com essa oportunidade, observar outras formas de se fazer cinema, conhecer novos cineastas, novos valores, diferentes dos que a grande indústria nos empurra goela abaixo durante o resto do ano. O grande problema é que, às vezes, nos deparamos com as mesmas coisas que tentávamos evitar. É o caso de A Árvore do amor, do diretor chinês Zhang Yimou, que estará nas telas do Festival do Rio 2011.

O premiado diretor de Lanternas Vermelhas (Leão de Prata de melhor diretor no Festival de Veneza de 1991) e dos épicos Herói (2002) e O clã das adagas voadoras (2004), chega a essa edição do festival com uma trama que novamente se passa em um momento histórico da China, dessa vez na década de 60 do século passado, durante a Revolução Cultural de Mao Tse-Tung.

Jing é uma estudante ginasial que é enviada para trabalhar em uma vila remota, no período em que a  “reeducação” era implantada pelo Partido Comunista. Lá, ela conhece Sun, filho de um militar e de uma classe social diferente da sua. Os dois se apaixonam e, após ela retornar á sua cidade para trabalhar e ajudar a sua família, passam a se encontrar escondidos. A mãe de Jing descobre e, com medo do namoro precoce atrapalhar a busca da filha por um trabalho e a reputação da família, proíbe o casal de se encontrar. Jing sabe que qualquer passo em falso pode pôr em risco toda a sua carreira e a vida dela e de seus familiares.

É através dessa tensão imposta por olhares julgadores espalhados por todos os lados, que Zhang Yimou constrói a saga de um amor proibido pelos valores impostos de uma China que passava por transformações radicais. O diretor era um jovem estudante na época e sentiu na pele essas mudanças. Foi enviado de sua escola para trabalhar em laboratórios e depois em uma indústria têxtil. Portanto, fala do assunto com autoridade.

O grande problema, já evidenciado nos filmes anteriores do diretor, é a busca de uma mimetização das super-produções hollywoodianas. Ele não consegue se desprender de um cinema burocrático, em que a estética prevalece sobre o conteúdo. E, seguindo os preceitos de um típico blockbuster americano, parece sentir a necessidade de passar a sua mensagem já mastigada à platéia (chegando ao ponto de se utilizar do recurso de subtítulos explicativos entre as cenas!). Por isso, mesmo com a tentativa de ajudar na criação de uma cinematografia autoral chinesa, com filmes baseados em eventos históricos importantes de seu próprio país, Zhang Yimou acaba por criar produtos finais com uma visão distanciada do que é retratado, apesar de ele próprio ser muito próximo do mesmo, como é o caso em A Árvore do amor. A evidência disso é o próprio roteiro ser baseado em um livro Best-seller na China.

Em um mundo no qual a China se torna mais assustadoramente “ocidental-capitalista” do que o próprio ocidente, A árvore do amor traz às telas essa proximidade. Para quem frequenta o Festival do Rio para buscar novidades e se surpreender, recomendo buscar um pouco mais. Para quem gosta de um típico melodrama americano em que mocinho e mocinha são separados pelo destino, o filme é boa distração na certa. A única diferença é ser falado em chinês. 

Cotação: * (Regular)