A noite foi longa para os cerca de 40 torcedores do Bangu que saíram de ônibus do Rio de Janeiro para acompanhar no Estádio do Canindé, em São Paulo, a classificação da equipe para a segunda fase da Copa do Brasil. Apesar da derrota por 1 a 0 para a Portuguesa - no jogo de ida os cariocas venceram por 3 a 1 - eles se emocionaram com o feito e deixaram o estádio em festa. Em sua terceira participação no torneio, é a primeira vez que a equipe avança para a segunda fase. O time espera agora o vencedor do confronto entre Trem (AP) e Náutico (PE). Na primeira partida, em casa, os amapaenses venceram por 2 a 1.
Foram cerca de sete horas de viagem, e a chegada da trupe aconteceu a menos de uma hora do apito inicial da partida. Ali, o grupo sofreu o primeiro desfalque. A Polícia Militar impediu a entrada de dois trombones e um piston da charanga que acompanha o time. Por questão de segurança, os instrumentos não são permitidos em eventos esportivos no Estado de São Paulo. Foram liberados apenas os instrumentos de percussão, para desgosto dos veteranos da charanga. Também na chegada ao estádio, os policiais se viram às voltas com o mascote do clube, um castor de pelúcia.
"O bicho passou por uma revista rigorosa. Viraram ele de cabeça para baixo, levantaram a camisa dele, apertaram a barriga. Mas ainda bem que foi liberado", disse o responsável pela guarda do mascote, Carlos Alberto Leite, o Beto. O mascote é uma alusão ao antigo bicheiro Castor de Andrade, patrono do clube. "Eu carrego ele comigo há pelo menos 30 anos. Este castor que está aqui já é da quarta geração. Torcer pelo Bangu é uma paixão", diz o morador da Vila Vintém.
Beto diz que ainda se lembra da primeira partida que viu de perto, a goleada por 4 a 1 do Bangu contra o Fluminense em 1963. "Quando eu morrer, quero ser enterrado em Moça Bonita. De preferência, no gramado", disse ele.
Nálio Manfrenatti, 71 anos, teve uma estreia menos vibrante. Em Caio Martins, viu o Bangu ser goleado por 6 a 0 pelo Vasco, em uma época em que Domingos da Guia ainda defendia as cores do Bangu. "Eu devia ter uns oito anos. De lá para cá, nunca abandonei o Bangu. Tivemos grandes momentos, como o título de 66 e os vice-campeonatos brasileiro e carioca de 1985. É bom ver o time disputando novamente uma competição nacional", disse.
Depois de um primeiro tempo relativamente tranquilo, a preocupação tomou conta dos torcedores após os 23min da segunda etapa, quando o volante Ademir Sopa, com um chute de fora da área, colocou a Portuguesa em vantagem. Caso a Portuguesa vencesse por 2 a 0, tiraria a vaga do Bangu.
Críticas ao técnico Gabriel Vieira a cada substituição, a frequente pergunta de "quanto falta?" e toda a sorte de reclamações só tiveram uma pausa com o apito final. Empolgado, Victor Marassi, 30 anos, já fazia planos de viajar para o jogo da segunda fase.
"Espero que passe o Náutico, que é mais perto", disse ele, que veio ao estádio de carro. "Meu pai saiu de Resende, passou em Guaratinguetá, onde moro, e deu tudo certo. É muito bom ver o Bangu classificado".
Marassi quebrou um jejum de 15 anos sem ver o Bangu em um estádio. A última vez havia sido em 1995, nas Laranjeiras, em uma vitória por 3 a 1 sobre o Fluminense. "Eu era atleta do Fluminense, jogava basquete, mas acompanhei esse jogo das sociais do clube, com a camisa do Bangu por baixo". Na noite passada, no Canindé, ele ostentava uma réplica da camisa do Bangu, campeão carioca de 1966: "com muito orgulho