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Pedro Manga se prepara para surfar ondas grandes no Taiti

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Nilo Junior, Agência JB

RIO - Depois de se aventurar nas maiores ondas do planeta pela Austrália, Peru, Califórnia e Havaí, o surfista gaúcho Pedro Manga Aguiar se prepara para mais um novo desafio: voltar ao Taiti, mas precisamente a Teahupoo, aquela que é considerada a onda mais pesada e perfeita do mundo. Nesta quarta-feira, o big rider embarca rumo aos tubos perfeitos e perigosos da Costa Oeste da Polinésio Francesa. Nada que assuste o surfista de apenas 24 anos, que morou 8 meses numa barraca de camping de frente para pico que irá encarar nos próximos dias. Foi lá que, em 2006, Pedro pegou na remada uma onda grande que repercutiu no mundo do surfe e abriu as portas para o gaúcho. Patrocinado pela FreeSurf, Manga pretende ficar no Taiti até uma semana antes do Natal. Confira abaixo a entrevista exclusiva com o atleta.

JB Online: A pouco mais de 24 horas de embarcar para o Taiti, como está a expectativa, a ansiedade para encarar Teahupoo?

Pedro: A expectativa em termos de surfe são as melhores possíveis. Já estou vivendo o clima da viagem, resolvendo os últimos detalhes, arrumando as pranchas ( cinco no total: 7.0 (duas), 6.7, 6.1 e 5.0). Cada passo da operação é emocionante. Minha adrenalina já está a mil, só de pensar em Teahupoo.

JB Online: Você tem acompanhado a previsão das ondas em Teahupoo? Como é a sua preparação?

Pedro: Estou ligado em tudo o que está acontecendo. Semana passada o mar chegou a oito pés (quase três metros), mas espero pegar umas maiores. O meu treinamento é basicamente alimentação e condicionamento aeróbico. Procuro nadar ou correr pelo menos 3 vezes por semana e faço bastante alongamento, praticamente todo dia, para manter a flexibilidade. Na verdade, estou um pouco parado. Nos últimos dois meses caí pouco na água, talvez quatro ou cinco vezes, desde que voltei de Puerto Escondido, no México.

JB Online: Você já surfou no México, Peru, Califórnia, Havaí, Taiti e Chile. Qual dessas viagens foi a que mais te trouxe benefícios, pessoal e profissionalmente?

Pedro: Cara, todas elas. Cada lugar, cada mar grande é um passo. Não tem como queimar etapas. Se não tivesse passado quase dois anos entre idas e vindas em Puerto Escondido, não teria dropado aquela onda em Teahupoo.

JB Online: Você é novo, conseguiu um patrocínio e já surfou ondas de respeito, como Pipeline, Puerto e Teahupoo. Como foi o começo da sua carreira?

Pedro: Fui um surfista de final de semana até os 18 anos, pois morava em Porto Alegre, longe da praia. Foi quando passei no vestibular e, após um semestre estudando administração de empresas, tranquei minha matrícula e fui para a Califórnia. Minha intenção era trabalhar e juntar dinheiro para depois viajar para picos com ondas perfeitas. E foi o que aconteceu. Trabalhei por seis meses e depois comprei uma passagem para o Havaí. Aos 18 anos estava realizando um dos meus sonhos de infância: conhecer as praias onde quebram algumas das maiores e mais perfeitas ondas do mundo, como Pipeline e Sunset. Não me senti muito à vontade no mar nessa primeira estada no Havaí, mas pude aprender bastante. Aprendizado que desde então foi se acumulando ao longo das diversas viagens que vieram em seguida.

JB Online: Viagens como a que fez para o México, onde ficou dois anos surfando?

Pedro: Passei mais de dois anos vivendo em Puerto Escondido. Saía do México apenas para renovar meu visto de seis em seis meses e aproveitava para trabalhar um pouco na Califórina nessas oportunidades. Sempre que o inverno do hemisfério norte se aproximava em vez de voltar para Puerto eu ia para o Havaí, onde as ondas grandes estariam começando a entrar. Lá era possível viver em campings e trabalhar no que quer que fosse, e as ondas eram incríveis. Ao final do inverno, no entanto, eu geralmente regressava para Puerto Escondido, onde a temporada de ondas grandes estava apenas começando. Lá surfei tubos grandes e perfeitos, e aprimorei bastante minha técnica em ondas grandes.

JB Online: A onda que você pegou em Teahupoo foi a melhor da sua carreira?

Pedro: Foi a que me deu maior projeção no mundo do surfe. Foi um mar enorme e havia pouca gente desafiando as ondas, mas eu resolvi tentar minha sorte e acabei pegando uma onda que foi destaque na mídia nacional, e me rendeu fotos em sites e revistas especializadas.

JB Online: Como foi?

Pedro: Quando cheguei no canal tinha mais uns cinco surfistas na água, além de alguns bodyboards. Depois de uma meia hora tentei pegar uma onda, mas remei atrasado e acabei caindo. Fiquei mais umas 2h na água só tomando coragem. O mar cresceu e os outros surfistas saíram do pico, sobrando apenas eu e os bodyboards. As séries deviam ter uns 21 pés (cerca de sete metros) e a galera do tow-in (que entra nas ondas rebocados por jet ski) estava mandando ver. Foi quando vi entrando uma menorzinha, devia ter uns 12 pés (quatro metros). Estava numa posição boa, remei forte e me concentrei apenas em terminar o drop. Despenquei para dentro do tubo. Senti uma aceleração violenta no meu corpo, como se estivesse acelerando um carro e ficasse com o corpo colado no banco. Ainda fiquei uns três segundos dentro da baforada . Foi tudo muito rápido. Quando saí da onda, caí, o estrepe (corda que prende o surfista à prancha) arrebentou e ainda machuquei o ombro. Fui parar no meio da bancada de coral e quando subi uma série gigantesca entrava. Nadei e consegui passar por baixo das ondas. Depois peguei uma carona no jet de um havaiano até a praia, recuperei minha prancha e fui para o barco assistir o surfe do pessoal.

JB Online: Você não tem medo?

Pedro: Claro. Tenho muito medo de me dar mal em Teahupoo, mas não consigo e não quero evitar a atração que sinto. Amo aquilo e quero aquilo, mas morro de medo. É curioso esse paradoxo.

JB Online: Nas outras viagens que você fez, sempre teve que correr atrás de trabalho, ficou acampado na casa de pessoas que conheceu... Agora você tem um patrocinador. Já tem lugar para ficar? Como funciona?

Pedro: A FreeSurfe está pagando as passagens e meu deu uma grana para a viagem. Daria para ficar lá numa boa, num lugar mais confortável, mas eu gosto de acampar. Faço isso por opção mesmo. Ainda não contatei as pessoas lá, mas fiz boas amizades e acho que vão gostar de me receber novamente.