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Fluminense lança 3º uniforme em homenagem ao 'aniversariante' Cartola

Sambista, nascido em 11 de outubro de 1908, era apaixonado pelo Tricolor; camisa leva as cores verde e rosa da Estação Primeira de Mangueira

Por Gabriel Mansur
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Publicado em 11/10/2023 às 15:46

Alterado em 11/10/2023 às 18:23

Sambistas João Nogueira e Cartola em 1977 Foto: Reprodução

Neste mesmo 11 de outubro, há 115 anos, nascia um dos maiores compositores - e sambistas e poetas - brasileiros de todos os tempos: o carioca 'da gema' Angenor de Oliveira, mais conhecido como Cartola. Que o cantor era apaixonado por samba e pela Estação Primeira de Mangueira, escola de samba que ajudou a fundar, isso não é uma novidade. Mas o Divino também era fascinado por futebol e pelo seu clube do coração, o Fluminense.

Em homenagem a um dos torcedores mais ilustres da instituição, o Tricolor lançou, nesta quarta (11), não coincidentemente, o seu terceiro uniforme. As cores verde e rosa (nos detalhes da gola, manga, ombros e numeração) fazem referência à parceria de sucesso entre o Cartola e a Mangueira.

A camisa, que também carrega os patrocinadores do clube, exibe de ponta a ponta a letra do samba clássico "Corra e olha o céu", composto por Cartola e Dalmo Castello, em 1974. A fonte escolhida para estampar o poema no uniforme foi inspirada na caligrafia do próprio Cartola, transformando o uniforme em um manuscrito do artista.

O presidente do Fluminense, Mário Bittencourt, afirmou que a homenagem é um desejo antigo do clube e que é um orgulho ter o poeta como torcedor.

Tricolor homenageou sambista no lançamento
Foto: Divulgação/Fluminense

"Essa é uma camisa carregada de força e significado. Reverenciamos a vida, obra, poesia e o legado de alguém que tem sua história entrelaçada à do clube que tanto amou", disse Mario Bittencourt, presidente do Fluminense.

As vendas da nova camisa nos modelos masculino, feminino e infantil começaram a ser realizadas nesta quinta-feira nas lojas oficiais físicas e online do clube.

Patch do Cartola em nova camisa do Fluminens
Divulgação/Fluminense

Cartola

O sambista nasceu e viveu no bairro do Catete, na zona sul do Rio, até os oito anos, e depois se mudou para a vizinhança, em Laranjeiras, onde sua conexão com o clube cresceu. Ele era o mais velho dos oito filhos do casal Sebastião Joaquim de Oliveira e Aída Gomes de Oliveira.

Com dificuldades financeiras, sua numerosa família se mudou para o Morro da Mangueira, a nascente favela, em 1919, onde fez amizade com Carlos Cachaça e outros bambas, além de se iniciar no mundo da boemia, da malandragem e do samba.

Aos 17 anos, após a morte de sua mãe, ele abandonou os estudos - terminou apenas o primário. Virou servente de obra e passou a usar um chapéu-coco para se proteger do cimento que caía de cima das construções. Por usar esse chapéu, ganhou dos colegas de trabalho o apelido "Cartola".

Pouco depois, após conflitos crescentes com o pai, inimigo da malandragem, acabou expulso de casa. Levou então algum tempo uma vida de vadio, bebendo e namorando, frequentando zonas de prostituição e contraindo doenças venéreas, perambulando pelas noites e dormindo em trens de subúrbio.

Esses hábitos o levaram a se enfraquecer fisicamente, adoecido e mal alimentado, na cama de um pequeno barraco no morro da Mangueira. Uma vizinha chamada Deolinda, sete anos mais velha, casada e com uma filha de dois anos, passou a cuidar dele e se apaixonou. Os dois acabaram se envolvendo romanticamente. Deolinda deixou o marido, levando a filha, que o compositor criaria como se fosse sua - ele era estéril.

O barraco dividido por Cartola e Deolinda virou praticamente uma casa de samba. Cartola exercia a atividade de pedreiro apenas esporadicamente, preferindo assumir o ofício de compositor e violonista nos bares e tendas locais. À época, já se firmava como um dos maiores criadores do morro, ao lado do grande amigo Carlos Cachaça e Gradim.

Foi quando Cartola tinha 18 anos, em 1926, que ele fundou, ao lado de Carlos Cachaça, Saturnino, Zé Espinguela, Antonico e outros mais, o Bloco dos Arengueiros. O grupo, que passou a concorrer com os outros blocos do morro, era um dos mais temidos, pois seus membros eram conhecidos por ser brigões. Além de bons no samba, eram bons também nas pernadas e na navalha. Mas eram melhores no samba! Dois anos depois, se reuniram os Arengueiros e mais alguns sambistas do morro para fundar a Estação Primeira de Mangueira, que hoje é a segunda maior campeã do carnaval carioca, com 20 títulos.

Cartola, que teve o cargo de primeiro Diretor de Harmonia da Escola, foi quem escolheu as cores oficiais do grupo: verde e rosa. Ele compôs também o primeiro samba para a agremiação: "Chega de Demanda".

Em 1944, além de Diretor de Harmonia, Cartola tornou-se o presidente de honra da recém-reatada Ala de Compositores da Mangueira. Dois anos depois, porém, novos acontecimentos o afastaram definitivamente da Escola. Primeiro, o sambista teve uma forte meningite, que durou quase um ano e que foi superada com a ajuda de Dona Deolinda.

No entanto, pouco depois de Cartola se recuperar, a mulher faleceu. Um tempo depois, o compositor se apaixonou por uma mulher chamada Donária, nada quista na Mangueira, que o convenceu a deixar a música e o morro. Com ela, Cartola foi morar em Nilópolis, depois no Caju, e ficou um bom tempo afastado do violão, do samba e do morro que aprendeu a amar.

Nesse período distante, transcorrido ao longo da década de 50, o compositor foi até tido como falecido. Quem o trouxe de volta ao morro da Mangueira, após o rompimento do namoro com Donária, foi Dona Zica, cunhada do seu amigo de longa data, Carlos Cachaça.

Cartola estava magro, abatido e bebendo muito, mas nada como um novo amor. Zica ajudou o sambista a se recuperar e conseguir um emprego, desta vez como lavador de carros no Pirajá. A nova companheira também se esforçou para trazer o marido de volta para o samba e para a Estação Primeira de Mangueira.

No intervalo do trabalho como lavador de carros, quando Cartola decidiu ir até uma cafeteria, ele encontrou o jornalista Sérgio Porto, que se esforçou para reintegrar o sambista no meio artístico. Ele até conseguiu um emprego para Cartola no rádio, que não durou muito, é verdade, mas fez com que o Divino retomasse velhos contatos. Daí em diante, graças à ajuda dos amigos, jamais ficaria desempregado.

Vida humilde

Embora suas composições tenham se popularizado na década de 1930, nas vozes ilustres de Araci de Almeida. Carmen Miranda, Francisco Alves, Mário Reis e Sílvio Caldas, o cantor só veio a produzir o primeiro de seus quatro discos-solo em 1974, aos 66 anos, seis antes de morrer.

Sua carreira, só então, tomou um impulso com clássicos instantâneos como: "As Rosas não Falam"; "O Mundo É um Moinho"; "Acontece"; "O Sol Nascerá" (com Elton Medeiros); "Quem Me Vê Sorrindo" (com Carlos Cachaça); "Cordas de Aço"; "Alvorada", e "Alegria".

No final da década de 1970, mudou-se para o bairro Jacarepaguá, onde morou até a morte, em 1980.

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