ESPORTES
NAS QUADRAS - Tudo sobre basquete
Por PEDRO RODRIGUES
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Publicado em 22/03/2021 às 10:30
Alterado em 22/03/2021 às 10:39
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A definição do dicionário da palavra escapismo diz que o substantivo é o desvio mental dos aspectos desagradáveis ou enfadonhos do cotidiano, geralmente por meio de atividades que envolvem imaginação ou entretenimento. Durante algumas horas na última sexta (19) e no sábado (20), a Liga Nacional proporcionou um bom espetáculo para mostrar que pode ser uma boa válvula de escape para este período complicado que o país passa.
Como tudo nas nossas vidas, desde que começamos com a pandemia da covid-19, o Jogo das Estrelas foi completamente diferente de qualquer edição anterior. E digo tudo mesmo. Passando da quadra até a transmissão, a Liga Nacional de Basquete teve que se adaptar a estes sombrios tempos para transformar um evento fortemente baseado em aglomeração e interações com o público em ginásio em um espectáculo televisivo e digital.
Se “quebrarmos” a mensagem do Jogo das Estrelas este ano temos três grandes pilares: Ação Social, evento e basquete. Não necessariamente em ordem de prioridade, por favor. Vamos ver um a um:
Ações Sociais
Com a acertada mudança do formato tradicional do jogo de fundo com Time Brasil contra Time Mundo para o formato de quatro times, a Liga Nacional de Basquete e o NBB utilizaram de sua plataforma para ajudar instituições apadrinhadas pelos capitães dos respectivos times. Tivemos 4 instituições:
1. Time Marquinhos (Flamengo), o jogador escolheu o Hospital Municipal Ronaldo Gazolla (RJ), especializado no tratamento da covid-19.
2. Time Brabo, de Alex Garcia (Bauru), a instituição escolhida foi a creche Maria Ribeiro, em Bauru.
3. Time Shamell, de Shamell do São Paulo, foi o Hospital Infantil Darcy Vargas (SP);
4. Time Georginho, de Georginho, também do São Paulo, jogou pelo Hospital Santa Marcelina ( SP)
Acredito que independente de covid-19 (porque este inferno vai acabar), o formato com os quatro times deve perdurar junto com as ações sociais. Não tivemos ainda a divulgação de quanto foi arrecadado para as instituições, mas não importa. A Liga Nacional usou sua conhecida competência na criação de vídeos informativos (veja o video oficial aqui https://www.youtube.com/watch?time_continue=2&v=vbd8rZN1l6E&feature=emb_logo ) e sua maior marca, que são os jogadores, para divulgar as instituições e colocar o público do NBB engajado. Definitivamente, um acerto. Quem quiser contribuir pode utilizar o link ( https://playforacause.com.br/NBB/ ).
Evento
Podemos usar todos os adjetivos, críticas e elogios para definir o Jogo das Estrelas, isso faz parte. O que não podemos perder de vista é que o Jogo existe por um simples motivo: receita. O evento traz uma boa receita para a Liga Nacional de Basquete que utiliza sua enorme plataforma para divulgar seu maior produto, que é o NBB. Trazer o componente social, especialmente este ano, é fundamental não só para esta edição, mas para as futuras. Mas não se enganem, o evento mostrou que o basquete nacional da Liga Nacional, seus times e associados, ainda pulsa e precisa do evento para manter este pulso ainda pulsando, como diz a música.
E o evento, como todo produto, teve erros e acertos. E o maior de todos acertos, sem dúvida, foi a quadra.“Esta é mesmo a quadra do Tijuca”? O espanto de algumas pessoas foi justificável. A quadra do tradicional Tijuca Tênis Clube nunca esteve tão bonita com belos telões de altíssima resolução e um belo show de luzes. E como foi um evento planejado para transmissões nas televisões (a ESPN e a TV Cultura transmitiram o evento) e on-line (Facebook Watch e Twitch), a acertada decisão de colocar os telões cercando 3/4 da quadra arrancou elogios e reações positivas ao layout. E o melhor de tudo, apesar de constantes anúncios de seus patrocinadores, o jogo e os torneios não foram em nada atrapalhados. Tirando o cômico “toco" de uma câmera em uma grua em um arremesso de Léo Demétrio. Nem isso atrapalhou. Acabou como parte do show.
Basquete
Por último chegamos no pilar final do Jogo das Estrelas: o basquete. Vamos começar por sexta-feira. As festividades começaram com a vitória de Kevin Cresceni, do time do Cerrado. Ele passou por Felipe Ribeiro, do Fortaleza, Wesley, do Mogi, na semi, e na final, por Luciano Parodi, do Minas.
No campeonato de 3 pontos, tivemos a vitoria do pivô Rafael Hettsheimeir, do Flamengo. Uma curiosidade aqui: a primeira rodada acabou sendo infinitamente superior à própria final. E o começo foi insano. O novato Matt Frierson, do Campo Mourão, chegou com tudo e anotou impressionantes 23 pontos. Hetts também teve os mesmo 23 pontos na fase de classificação, e acabou indo para a final no critério de desempate, já que acertou mais “bolas bônus” que Frierson. O grande momento, sem dúvida, foi Shamell. O maior pontuador do NBB chegou pressionado para bater os 23 pontos para ir à final, e conseguiu marcar 24 pontos! Passagem garantida para a final e, ainda por cima, Shamell é o novo recordista do torneio, batendo o lendário Marcelinho Machado, do Flamengo. Já a final ficou devendo. Apesar do ótimo desempenho na fase de classificação, a final acabou vencida por Hetts por 11 a 9. O pivô do Fla tem agora dois títulos da competição. Ele venceu em 2018 e agora em 2021.
Já o campeonato de enterradas confirmou que o jogador Mogi, que joga no time do Mogi, é um dos melhores “dunkers" desta geração NBB. Ele concluiu suas enterradas com a competência de sempre, e venceu ao pular sobre o gigante Mike, seu ex-companheiro de Botafogo. Cabe ressaltar aqui a excelente participação do vice-campeão Alex Dória, do Cerrado Basquete. Além de acertar as suas enterradas, a ideia de se vestir do personagem Billy Hoyle, do filme “Homens Brancos não sabem enterrar”, funcionou.
Para o ano que vem queremos Alex Doria, Mogi e Gui Deotado no campeonato de enterradas!
E chegamos ao evento de fundo aqui. Conforme mencionado na primeira parte do texto, o novo formato do Jogo com quadrangular está mais que aprovado. Mal posso esperar pelo evento do ano que vem, já com público, para acompanhar as reações de um possível game-winner que tivemos na primeira partida. Só faltou isso mesmo para dar nota 10 para o formato. Aprovadíssimo! Vejam como os 3 primeiros jogos tiveram placares apertados:
Jogo 1 - Time Brabo 26 x 24 Time Marquinhos
Jogo 2 - Time Georginho 23 x 21 Time Shamell
Disputa terceiro Lugar: Time Marquinhos 18 x 19 Time Shamell
Final: Time Georginho 16 x 26 Time Brabo
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Lucas Dias do Franca acabou escolhido como MVP pela sua performance nas duas partidas (14 pontos, 9 rebotes e 3 roubos de bola).
Saindo um pouco do evento e indo para o mundo on-line, vimos muitas reações contrárias ao evento devido ao nosso estado atual, seja sanitário, humanitário e de país. E todas elas estão corretas. Porém convém lembrar que a realização do Jogo das Estrelas não vai curar mazelas sociais e nem se propõe a isso. O Jogo existiu para garantir a sobrevivência do basquete enquanto esporte nacional. Já sabemos que o Governo Federal não realiza mais investimentos no esporte, apesar de todo o apoio de jogadores e técnicos ao atual governo na época da eleição, e os investimentos de patrocinadores serão cada vez mais escassos, já que a nossa economia se encontra em forte retração. O ponto é de sobrevivência aqui.
No final, deixo as palavras de uma pessoa que em qualquer lugar do mundo seria reverenciada por tudo que fez pelo esporte, o técnico do São Paulo, Claúdio Mortari. Em entrevista à ESPN, no final do jogo Mortari, com olhos marejados disse “Sofremos muito com toda esta situação que estamos passando. Só queríamos passar um pouco de diversão, mostrando o nosso trabalho.”