Agência JB
RIO - O assessor especial do Palácio do Planalto, Marco Aurélio Garcia, disse nesta quinta-feira que a tendência será a Petrobras vender os 100% das duas refinarias que possui na Bolívia para contribuir com a "estabilidade institucional" do país.
- Hoje, vale mais a pena o Brasil se desfazer dessas refinarias do que mantê-las - afirmou.
- É melhor se concentrar no gás.
De acordo com Marco Aurélio, os presidentes Lula, do Brasil, e Evo Morales, da Bolívia, deverão divulgar comunicado nesta quinta-feira para informar sobre o acordo da venda total das duas unidades de refino.
Marco Aurélio preferiu não falar em valores.
- Estamos no meio da negociação e, mesmo que eu soubesse dos números, não os revelaria.
O assessor especial da Presidência conversou com jornalistas brasileiros durante entrevista na Embaixada do Brasil em Buenos Aires. Ele está na capital argentina para participar de um seminário sobre marketing político, com palestrantes de vários países da região.
Marco Aurélio disse que a Petrobras, "para preservar seu nome e credibilidade", deverá trabalhar com assessores da estatal boliviana YPFB "em um período de transição".
Ele acrescentou ainda que a empresa brasileira deve se preocupar também com critérios de segurança e, por isso, vai precisar de algum tempo antes de passar a administração das refinarias Gualberto Villaroel, em Cochabamba, e Guillermo Elder, em Santa Cruz de la Sierra, para os bolivianos.
Questionado sobre quem mais dependia hoje um do outro, Brasil ou Bolívia, o assessor especial do Planalto respondeu: "O Brasil depende do gás da Bolívia. Mas a Bolívia depende absolutamente do mercado brasileiro".
Para Marco Aurélio, a Bolívia ainda precisa de cerca de três anos para buscar novos mercados, alternativos ao do Brasil. Já o Brasil, entende, poderia ter, em menos tempo, outras alternativas energéticas.
Na opinião do brasileiro, os dois países têm tido, salvo algumas exceções, atitudes "sensatas". Ele recordou que o governo Lula "herdou" a parceria energética com a Bolívia, formada durante a gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
"Queremos continuar importando gás boliviano e, talvez, até mais do que importamos hoje", acrescentou. "Também pensamos em investir mais na Bolívia. Mas mantemos nossa disposição de diversificar nossas energias."
Marco Aurélio enfatizou que a Bolívia precisa de investimentos e que sua estabilidade política e institucional também é importante para o Brasil.
Entendimento
Em La Paz, o dia foi de reuniões e expectativas. Morales se encontrou, logo cedo, com seu vice-presidente, Alvaro García Linera, o ministro de hidrocarbonetos, Carlos Villegas, e o presidente da estatal YPFB, Guillermo Aruquipa.
Em dois intervalos, no palácio presidencial Quemado, o presidente boliviano fez questão de destacar a sinalização do presidente Lula de chegar a um entendimento com a Bolívia.
"Para nós, o mais importante é o desprendimento do presidente Lula em devolver estas duas refinarias ao povo boliviano", afirmou.
Até a tarde desta quinta-feira, assessores de Morales e de Villegas diziam que a Bolívia ainda esperava que a Petrobras reduzisse mais sua oferta pelas duas refinarias - estimadas em cerca de US$ 110 milhões.
E destacavam ainda que a Bolívia também já estava interessada na compra total das refinarias, e não apenas nos 50% mais 1% (para ter o controle e deixar a Petrobras como prestadora de serviços) ou 80% (como se chegou a negociar), deixando 20% para a empresa brasileira.
"Uma vez, eu ouvi de um boliviano: 'no Brasil vocês vendem um carro pelo preço que compraram, mesmo depois de anos de uso?'", argumentou Marco Aurélio.
Na Petrobras, por sua vez, há quem defenda que a empresa investiu dinheiro para melhorar as duas unidades de refino.
Mas para a Bolívia, observam assessores da Petrobras, a questão é "mais política" e "simbólica" do que matemática porque faz parte do processo de nacionalização do petróleo e gás do país.
(BBC Brasil)