Para o filósofo e pesquisador Alípio Casali, professor da Pontifícia Universidade Católica (PUC/SP), a ética é o principal vetor para uma sociedade sustentável. ´A fraudes corporativas escondem apenas a ponta do iceberg que pode retomar o terror da grande depressão´.
Casali explica que a governabilidade político-econômica está cada vez mais em risco e se nada for feito, a calamidade é questão de tempo. ´O mercado está na fronteira da legitimidade de suas condutas´, observa. O principal risco é a mudança de um desvio pessoal para um modus operandi de todo o mercado. ´Um bom exemplo dessa atuação macro são as companhias norte americanas Enron, Tycon e WorldCom. Não eram desvios de uma única pessoa e sim sistêmicos´.
A criação e aplicação de códigos de ética corporativos podem ser eficazes ferramentas de negócios, adicionando grife e valor para empresas e produtos, além de servirem como importante regulador de comportamento. ´Onde falta espírito tem que ter lei´, disse.
Para o pesquisador, não é mais possível uma empresa ou país ser sustentável deixando de lado os compromissos com as condutas. ´Não há mercado sem confiança. Quando ela se quebra muita coisa pode acontecer. A sociedade cível começa a reagir e vai ao mercado de forma seletiva´.
No Brasil não é diferente. Uma pesquisa realizada no ano passado pelo Instituto Ethos e Akatu mostrou que os consumidores reagem punindo ou premiando empresas. A hipótese é que no futuro as empresas que ignorarem estas questões tenham seus produtos e serviços vetados.
Segundo Casali, hoje o valor agregado da ética para os organismos públicos e privados é fantástico. Mas muitas empresas param por aí. ´Não adianta apenas dizer que se tem lealdade e honra. Até a máfia está calcada nos valores de servir e receber proteção. O grande desafio é social. Se quisermos um futuro, as regras têm que ser criadas com base em todos e não só entre seus pares. É necessário também equilíbrio cultural. Valor na criação, cuidado e desenvolvimento da vida. A ética, seja pessoal ou empresarial, está ligada em última instância a estes critérios´, conclui.
(Kelly de Souza - Especial para InvestNews)