CRIPTOMOEDAS
Segundo pesquisas, Brasil é um dos principais mercados de stablecoins
Por JB CRIPTOMEDAS
Publicado em 21/07/2025 às 20:44
Alterado em 21/07/2025 às 20:44
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Em menos de dois anos, o Brasil saiu da condição de promessa para ser um dos maiores mercados latinoamericano de stablecoins. O salto é visível nos números, só em junho de 2025, foram movimentados 1,73 bilhão de USDT, o equivalente a R$?9,63 bilhões, volume 32% maior que o registrado em maio, segundo o Biscoint Monitor.
Conforme a procura se diversifica, de compras online a remessas internacionais, essas moedas indexadas ao dólar se tornaram um termômetro preciso do apetite nacional por criptoativos estáveis.
O boom das stablecoins no Brasil em?2025
O avanço das stablecoins mescla conjuntura macroeconômica e inovação financeira. Com o real sob pressão inflacionária, USDT e USDC passaram a funcionar como uma poupança cambial instantânea, acessível via Pix em qualquer hora do dia. Não por acaso, a cotação média do USDT recuou para R$ 5,57 em junho.
Mas o interesse continuou crescendo algo que o mercado interpretou como sinal de migração de liquidez para instrumentos menos voláteis. Outro ingrediente é o apelo lúdico, já que diversas plataformas de NFT e exchanges locais passaram a usar mecânicas inspiradas em box surpresa, uma espécie de caixa misteriosa digital.
Ela sorteia recompensas em stablecoins ou skins colecionáveis. Ao somar entretenimento e retorno potencial, esse formato vem atraindo milhares de novos usuários que, antes, tinham pouco ou nenhum contato com criptofinanças. Muitas plataformas estão utilizando e aceitando USDT, mas o fluxo ainda está concentrado.
A liderança continua com a Binance, responsável por 81,9% de todo o par USDT/BRL no país em junho, de acordo com dados da Biscoint. Entre as corretoras sediadas no Brasil, o BitPreço assumiu a dianteira. A empresa capturou 5,4% do volume desse mesmo par e manteve a primeira posição entre players nacionais desde o início de 2025.
A integração nativa com Pix, saques em reais sem custo adicional e suporte 24/7, vantagens que reduziram drasticamente o atrito para novos entrantes, são algumas das coisas que explicam esses números. A presença de exchanges locais, aliás, é essencial para que o mercado continue crescendo sem depender exclusivamente de gigantes globais.
Com a pressão regulatória do Banco Central, plataformas domésticas vêm investindo pesado em compliance para preservar participação de mercado diante do possível “aperto” ao uso de stablecoins para remessas não declaradas, já que o BACEN quer fechar cerco às stablecoins.
Do varejo às empresas: Usos que impulsionam a adoção
A popularidade das stablecoins não se limita a traders de curto prazo. Freelancers que recebem em dólar adotaram USDT como ponte para converter pagamentos internacionais e evitar o IOF elevado. Ao mesmo tempo, pequenas importadoras passaram a liquidar faturas em minutos.
Isso usando o Bity Payments, plataforma B2B lançada em fevereiro para transferências cross-border instantâneas. O efeito rede reforça o ciclo de adoção. Quanto mais empresas passam a aceitar stablecoins, maior a liquidez disponível para quem quer gastar ou salvar na mesma moeda.
Além disso, a estabilidade intrínseca ao lastro em dólar cria uma zona neutra para investidores conservadores, interessados em fugir da volatilidade de Bitcoin ou Ether sem sair do ecossistema blockchain. Não por acaso, a média diária de negociações com USDT saltou de 41,28?milhões para 57,66?milhões de unidades entre maio e junho.
Isso estabeleceu o USDT como o ativo digital mais transacionado do país. Além disso, a moeda digital de banco central brasileira (CBDC) entrou em 2025 já em fase piloto ampliada. O Drex vem sendo testado por 16 consórcios que simulam desde TED tokenizada até títulos públicos digitais.
Embora compartilhe a mesma infraestrutura de registros distribuídos usada por stablecoins, o Drex não nasce para suplantálas. Sua proposta é servir de camada de liquidação estatal, capaz de integrar sistemas privados de pagamentos por meio de APIs abertas.
O próprio Banco Central reconhece o peso do mercado paralelo. Cerca de 90% dos criptofluxos que entram e saem do país já ocorrem em stablecoins, segundo o diretor de Política Econômica Renato?Gomes, em conferência do BIS em Londres, mencionando a pressão que isso impõe sobre o controle de capitais.
Na prática, Drex e stablecoins tendem a coexistir. Enquanto o real digital barateia pagamentos domésticos, tokens pareados ao dólar seguem dominando remessas internacionais e reserva cambial de curto prazo.
Agenda regulatória, compliance, tributação e segurança
Em junho, o BACEN submeteu à Consulta?Pública?122/2025 um pacote de resoluções que padroniza a contabilidade de ativos virtuais. As contribuições podem ser enviadas até 24 de agosto e a expectativa é que as normas entrem em vigor em janeiro de?2026.
Entre os pontos mais debatidos está a proposta de vedar saques diretos para carteiras de autocustódia, da CP 111/2025, exigindo que custodiante regulado intermedie a operação, medida que, segundo juristas, afeta o princípio de “autobanco” do universo cripto.
O então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, reiterou que a autarquia regulará stablecoins e tokenização ainda este ano, colocando esses ativos sob supervisão prudencial semelhante à de instituições de pagamento.
O Marco Legal dos Criptoativos (Lei 14.478/2022, originado do PL?4.401/2021) já enquadra prestadoras de serviços de ativos virtuais nas leis de lavagem de dinheiro, porém, o texto não define requisitos de lastro nem auditoria para stablecoins, gerando lacunas que o BACEN tenta cobrir via regulação infralegal.
Na esfera tributária, a Receita Federal estuda estender à conversão de stablecoins o mesmo regime de IOF aplicado a cartões pré-pagos em moeda estrangeira, mas a decisão depende de consenso com o Conselho Monetário Nacional.