Grave crise de liquidez motivou liquidação do Master

Banco Central afirma que houve violações das normas do Sistema Financeiro Nacional e seguirá apurando responsabilidades

Por ECONOMIA JB com Agência Estado

Fundo de Previdência do Amapá, que tem como conselheiro o Irmão de Alcolumbre, presidente do Senado, aplicou R$400 milhões no Banco Master

.

Por Marianna Gualter - A liquidação extrajudicial do Banco Master e de outras empresas do conglomerado foi motivada pela grave crise de liquidez do grupo e pelo comprometimento significativo da sua situação econômico-financeira, assim como pela detecção de graves violações às normas que regem a atividade das instituições integrantes do Sistema Financeiro Nacional (SFN), afirma o Banco Central, em nota.

A autarquia também esclarece que a opção pelo regime administrativo especial temporária (Raet) no caso do Banco Master Múltiplo S.A. mostrou-se a mais adequada, considerando “a possibilidade concreta de solução que preserva o funcionamento da sua controlada Will Financeira”.

Afirma que continuará tomando todas as medidas cabíveis para apurar as responsabilidades nos termos de suas competências legais. Acrescenta que o resultado das apurações “poderá levar à aplicação de medidas sancionadoras de caráter administrativo e a comunicações às autoridades competentes, observadas as disposições legais aplicáveis”.

Nos termos da lei, detalha o BC, ficam indisponíveis os bens dos controladores e dos ex-administradores das instituições objeto dos regimes especiais decretados.

O Master detém 0,57% do ativo total e 0,55% das captações totais do SFN. Trata-se de um conglomerado bancário, classificado como de crédito diversificado, porte pequeno e enquadrado no segmento S3 da regulação prudencial.

Fundos de pensão têm perto de R$ 2 bilhões aportados no Master sem garantia do FGC

Ao menos 12 fizeram investimentos em papéis que ajudaram a financiar o avanço do banco após aperto na regulação pelo Banco Central

Por Gabriel Baldocchi e Alvaro Gribel - Enquanto mais de um milhão de investidores que aplicaram em títulos do Banco Master serão ressarcidos por recursos do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), os aportes feitos por entidades de previdência de Estados e municípios estão expostos à liquidação do banco e correm risco de perdas. Como mostrou a Broadcast/Estadão, ao menos 12 fundos de pensão de servidores públicos fizeram investimentos que somam quase R$ 2 bilhões em papéis do banco.

As aplicações se deram em letras financeiras do Master, títulos que ajudaram a financiar o avanço do banco depois que o Banco Central apertou a regulação para as captações voltadas a investidores pessoa física, por meio dos Certificados de Depósitos Bancários (CDBs), até então a principal fonte de financiamento do grupo.

Tradicionalmente voltada para investidores profissionais, as letras financeiras não têm cobertura do FGC. O Master emitiu um total de quase R$ 3 bilhões do papel. Desse total, a reportagem identificou R$ 1,81 bilhão aplicados por fundos de pensão de Estados e municípios no Master, com recursos que são voltados para a aposentadoria futura de servidores públicos.

A liquidação do Banco Master foi anunciada pelo Banco Central, após o anúncio, na segunda-feira, 17, de uma nova tentativa de venda da instituição. Após a publicação do decreto de liquidação, o FGC informou que 1,6 milhão de investidores detêm títulos que estão sujeitos à cobertura do seguro.

Já os investidores que estão fora dessa garantia, como os fundos de pensão, só conseguirão saber quanto será possível resgatar das aplicações no processo de liquidação dos ativos, que costuma se arrastar por anos.

A maior exposição às letras do Banco Master está concentrada na entidade de previdência dos servidores do Estado do Rio de Janeiro. O Rioprevidência aplicou cerca de R$ 1 bilhão nos papéis. Em seguida, está o fundo de pensão do Estado do Amapá (Amprev), com R$ 400 milhões.

O Amprev tem entre os seus conselheiros o advogado Alberto Alcolumbre, irmão do presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e aplicou, neste ano, também R$ 250 milhões em letras financeiras do BRB, numa operação irregular, já que a compra de títulos de bancos públicos é proibida a entidades de previdência de servidores.

O fundo de pensão Maceió Previdência, dos funcionários públicos da prefeitura da capital de Alagoas, também comprou R$ 100 milhões de letras financeiras do Master.

A maior parte dessas operações feitas em títulos do Master é alvo de apurações e auditorias por tribunais de contas em todo País. No Rio de Janeiro, o Tribunal de Contas do Estado proibiu, em outubro, a entidade de fazer novos aportes em produtos ligados ao Master depois de identificar que o instituto continuou a fazer operações com o banco, apesar de recomendação contrária.

Na terça-feira, o Rioprevidência informou que está tentando reverter suas aplicações em letras financeiras por precatórios federais.

“O Rioprevidência ressalta ainda que o pagamento de aposentadorias e pensões está garantido, não havendo qualquer risco para os segurados do Estado do Rio de Janeiro. Cabe destacar ainda que o valor investido junto à instituição é inferior ao da folha mensal paga pela autarquia aos aposentados e pensionistas, hoje em R$ 1,9 bilhão, custeada em grande parte pela receita de royalties e participações especiais”, acrescentou o fundo de previdência, em nota.

Outros investimentos

Além dos fundos de pensão, outras instituições também aplicaram recursos milionários em títulos do banco. O Banco da Amazônica comprou R$ 40 milhões em letras financeiras do grupo.

Como mostrou a Broadcast, a Cedae, estatal de água do Rio, aplicou R$ 200 milhões do caixa da companhia em CDBs do banco. A Oncoclínicas também ficou com mais de R$ 1 bilhão em papéis do Master, saldo reduzido para R$ 433 milhões, conforme informou a companhia na terça-feira.