ECONOMIA

Por unanimidade, Copom mantém Taxa Selic parada em 10,50% ao ano

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
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Publicado em 19/06/2024 às 18:59

Alterado em 19/06/2024 às 19:40

Dólar chegou a superar hoje os R$ 5,48, mas encerrou a quarta-feira a R$ 5,442 Arquivo/Agência Brasil

Depois de muita especulação no mercado financeiro, com apostas refletidas na disparada do dólar, que chegou a superar hoje os R$ 5,48, mas encerrou a quarta-feira a R$ 5,442, depois que o governo Lula garantiu o compromisso com redução de despesas, o Comitê de Política Monetária do Banco Central decidiu, por unanimidade – oito diretores e o presidente, Roberto Campos Neto – interromper o processo de baixa da taxa Selic em 10,50%.

Na última reunião de 8 de maio, o colegiado se dividiu: os quatro diretores indicados pelo governo Lula, insistiram em manter o corte de 0,50% já anunciado, mas os demais diretores e o presidente defenderam a maior cautela, porque o Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, tinha anunciado que não mais cortaria três vezes os juros americanos e limitaria os cortes em apenas 0,25%. A interrupção da baixa dos juros vai custar bilhões a mais no giro da dívida pública.

A divisão no Copom criou muito ruído no mercado financeiro e o aumento geral do dólar frente a outras moedas (exceção do franco suíço, do dólar australiano e da libra esterlina) se fez forte nos países emergentes e em especial no Brasil, realimentando as expectativas inflacionárias. No comunicado, o Copom considera que “a conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária”. Ou seja, não houve aceno de quando a Selic voltará a cair

Setor produtivo contrariado
A interrupção do processo de queda das taxas básicas, sem que tenha havido uma disparada – à vista e a prazo nas expectativas da inflação – foi vista com contrariedade pelo setor produtivo, pois a manutenção dos juros em níveis elevados no crédito bancário tende a comprimir o consumo e a inibir os investimentos na transição energética e na modernização industrial.

A Federação do Comércio de São Paulo – Fecomércio SP, considerou, no entanto que o “Banco Central age com responsabilidade ao interromper ciclo de cortes da Selic”. Para Federação, incertezas fiscais e dinâmica inflacionária exigiam manutenção da taxa de juros em 10,50%. A Fecomércio SP observa que “a volta da redução depende de um ajuste fiscal mais efetivo”.

Sucessão no Banco Central
Esta deve ter sido a última reunião do Copom sem agitação quanto à substituição do presidente Roberto Campos Neto, cujo mandata expira em 31 de dezembro, juntamente com os mandatos dos diretores Carolina de Assis Barros e Otávio Ribeiro Dalmaso. O presidente e os diretores são indicados pelo governo de turno, com escolha do ministro da Fazenda (ou Economia, no caso do governo Bolsonaro).

Diante do calendário eleitoral e da necessidade de que o mercado financeiro e os agentes econômicos absorvam, sem sobressaltos, o pensamento do novo comandante do BC e a nova composição da diretoria, era importante que as indicações ocorressem antes do recesso parlamentar em 18 de julho. Portanto, apaziguado o mercado com a unanimidade do Copom, a escolha do comando da Autoridade Monetária e a fixação da meta de inflação para 2027, na próxima reunião do Conselho Monetário Nacional (dia 26) estão na pauta.

Entre os atuais componentes do Comitê de Política Monetária, o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, e o diretor da área Internacional, Paulo Pichetti, são os mais cotados. Mas as críticas recentes do presidente Lula à filosofia imperante no Copom, com excesso de cautela pode levar à indicação de um presidente menos preso à ortodoxia monetária, como o economista André Lara Resende, um dos pais do Cruzado e do Real – a ideia era a desindexação da economia – que diverge da ortodoxia da teoria quantitativa da moeda, face à rapidez dos atuais ativos financeiros operados no mercado.

A íntegra da nota do Copom
“O ambiente externo mantém-se adverso, em função da incerteza elevada e persistente sobre a flexibilização da política monetária nos Estados Unidos e quanto à velocidade com que se observará a queda da inflação de forma sustentada em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”.

“Em relação ao cenário doméstico, o conjunto dos indicadores de atividade econômica e do mercado de trabalho segue apresentando dinamismo maior do que o esperado. A inflação cheia ao consumidor tem apresentado trajetória de desinflação, enquanto medidas de inflação subjacente se situaram acima da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”.

“As expectativas de inflação para 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,0% e 3,8%, respectivamente”.

“As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,0% em 2024 e 3,4% em 2025. As projeções para a inflação de preços administrados são de 4,4% em 2024 e 4,0% em 2025. Em cenário alternativo, no qual a taxa Selic é mantida constante ao longo do horizonte relevante, as projeções de inflação situam-se em 4,0% para 2024 e 3,1% para 2025”.

Fatores de risco
“O Comitê ressalta que, em seus cenários para a inflação, permanecem fatores de risco em ambas as direções. Entre os riscos de alta para o cenário inflacionário e as expectativas de inflação, destacam-se (i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado. Entre os riscos de baixa, ressaltam-se (i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada do que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes do que o esperado. O Comitê avalia que as conjunturas doméstica e internacional seguem mais incertas, exigindo maior cautela na condução da política monetária.

O Comitê monitora com atenção como os desenvolvimentos recentes da política fiscal impactam a política monetária e os ativos financeiros. O Comitê reafirma que uma política fiscal crível e comprometida com a sustentabilidade da dívida contribui para a ancoragem das expectativas de inflação e para a redução dos prêmios de risco dos ativos financeiros, consequentemente impactando a política monetária.

Considerando a evolução do processo de desinflação, os cenários avaliados, o balanço de riscos e o amplo conjunto de informações disponíveis, o Copom decidiu manter a taxa básica de juros em 10,50% a.a. e entende que essa decisão é compatível com a estratégia de convergência da inflação para o redor da meta ao longo do horizonte relevante, que inclui o ano de 2025. Sem prejuízo de seu objetivo fundamental de assegurar a estabilidade de preços, essa decisão também implica suavização das flutuações do nível de atividade econômica e fomento do pleno emprego.

A conjuntura atual, caracterizada por um estágio do processo desinflacionário que tende a ser mais lento, ampliação da desancoragem das expectativas de inflação e um cenário global desafiador, demanda serenidade e moderação na condução da política monetária.

O Comitê, unanimemente, optou por interromper o ciclo de queda de juros, destacando que o cenário global incerto e o cenário doméstico marcado por resiliência na atividade, elevação das projeções de inflação e expectativas desancoradas demandam maior cautela. Ressalta, ademais, que a política monetária deve se manter contracionista por tempo suficiente em patamar que consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. O Comitê se manterá vigilante e relembra, como usual, que eventuais ajustes futuros na taxa de juros serão ditados pelo firme compromisso de convergência da inflação à meta."

Votaram por essa decisão os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Gabriel Muricca Galípolo, Otávio Ribeiro Damaso, Paulo Picchetti, Renato Dias de Brito Gomes e Rodrigo Alves Teixeira.

 

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