ECONOMIA

Copom reduz Selic em 0,50% a 11,75% e anuncia corte igual nas 'próximas reuniões'

...

Por GILBERTO MENEZES CÔRTES
[email protected]

Publicado em 13/12/2023 às 20:09

Alterado em 13/12/2023 às 20:09

Comitê de Política Monetária (Copom) Marcelo Camargo/Agência Brasil

Na última reunião de 2023 do atual colegiado, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) reduziu, por unanimidade, a taxa Selic em 0,50 ponto percentual para 11,75%, completando uma redução de dois pontos desde agosto. E também, de forma unânime, anunciou “redução de mesma magnitude nas próximas reuniões” (de janeiro e março), avaliando que “que esse é o ritmo apropriado [redução de meio ponto por reunião] para manter a política monetária contracionista necessária para o processo desinflacionário”.

No comunicado de dez parágrafos distribuído após a reunião, o Comitê assinala que “o conjunto dos indicadores de atividade econômica segue consistente com o cenário de desaceleração da economia antecipado pelo Copom”. E que “a inflação cheia ao consumidor, conforme esperado, manteve trajetória de desinflação, com destaque para as medidas de inflação subjacente, que se aproximam da meta para a inflação nas divulgações mais recentes”.

Metas fiscais são lembradas

Num fato praticamente inédito, o Comunicado só dedicou um pequeno parágrafo para destacar a importância de cumprimento das metas fiscais já estabelecidas [o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu déficit zero em 2024, mas o Orçamento ainda não foi aprovado no Congresso]. O Copom observou que “tendo em conta a importância da execução das metas fiscais já estabelecidas para a ancoragem das expectativas de inflação e, consequentemente, para a condução da política monetária, o Comitê reafirma a importância da firme persecução dessas metas”.

A decisão final do Copom foi precedida três horas antes pela decisão do Federal Reserve Bank, o Banco Central dos Estados Unidos, de manter as taxas dos fundos federais entre 5,25% e 5,50% ao ano, mas já com o anúncio de que deverá haver redução de 0,75 ponto percentual (para a faixa de 4,50% a 4,75%) em 2024.

Ao abordar o cenário externo, o Copom reconheceu que “o ambiente externo segue volátil e mostra-se menos adverso do que na reunião anterior, marcado pelo arrefecimento das taxas de juros de prazos mais longos nos Estados Unidos e de sinais incipientes de queda dos núcleos de inflação, que ainda permanecem em níveis elevados em diversos países. Os bancos centrais das principais economias permanecem determinados em promover a convergência das taxas de inflação para suas metas em um ambiente marcado por pressões nos mercados de trabalho. O Comitê avalia que o cenário segue exigindo cautela por parte de países emergentes”.

Limites da inflação

O Copom avaliou no seu cenário para definir a trajetória futura da taxa Selic que “as expectativas de inflação para 2023, 2024 e 2025 apuradas pela pesquisa Focus encontram-se em torno de 4,5%, 3,9% e 3,5%, respectivamente”. E adiantou que as projeções de inflação do Comitê em seu cenário de referência

As projeções de inflação do Copom em seu cenário de referência* situam-se em 4,6% em 2023 [dentro do teto da meta do ano, que é de 4,75%], 3,5% em 2024 [teto de 4,50%] e 3,2% em 2025 [teto de 4,50%]. As projeções do Copom, para “a inflação de preços administrados, são de 9,1% em 2023, 4,5% em 2024 e 3,6% em 2025”.

O Comitê ressalta que, em seus cenários de inflação, há fatores de risco em ambas as direções. Para a alta, apontou:”(i) uma maior persistência das pressões inflacionárias globais; e (ii) uma maior resiliência na inflação de serviços do que a projetada em função de um hiato do produto mais apertado”. Do lado da baixa, apontou: “(i) uma desaceleração da atividade econômica global mais acentuada que a projetada; e (ii) os impactos do aperto monetário sincronizado sobre a desinflação global se mostrarem mais fortes que o esperado”. Assim, a conjuntura “exige cautela na condução da política monetária”.

Nova composição em janeiro

Votaram por uma redução de 0,50 ponto percentual os seguintes membros do Comitê: Roberto de Oliveira Campos Neto (presidente), Ailton de Aquino Santos, Carolina de Assis Barros, Diogo Abry Guillen, Fernanda Magalhães Rumenos Guardado, Gabriel Muricca Galípolo, Maurício Costa de Moura, Otávio Ribeiro Damaso e Renato Dias de Brito Gomes.

Acontece que os mandatos de Fernanda Guardado, da área Internacional, e de Maurício Moura, de Cidadania, terminam no dia 31 de dezembro. Em janeiro, deverão ser substituídos, respectivamente, por Paulo Pichetti, que é um especialista em acompanhamento de inflação e pesquisas macroeconômicas, e Rodrigo Teixeira. Ambos se aliam com Gabriel Galípolo, de Política Monetária, e Aílton Aquino, de Fiscalização, na ala menos ortodoxa do Copom.

O time de preconizava mais cautela na redução dos juros, que poderia ter acontecido em junho ou julho, mas só ocorreu em 2 de agosto, por pressão de Galípolo e Aquino (empossados em julho), que atraíram votos dos diretores Otávio Damaso e Carolina de Assis Moura para uma baixa de 0,50 pontos (que foi a corrente vencedora, com voto de minerva do presidente Roberto Campos Neto. Além de Furtado e Moura, os votos mais conservadores (que resistiram à baixa em julho e defenderam baixa de apenas 0,25 p.p. em agosto) foram de Diogo Guillen, de Política Econômica, e de Renato Gomes, de Organização do Sistema Financeiro Nacional.

Guillen chegou a ter muito poder quando acumulou, desde março, a diretoria de Política Monetária, com o fim do mandato de Bruno Serra. Sua teimosia em prever um repique inflacionário – que não veio – levou o Banco Central a manter a Selic inalterada, excesso de cautela, enquanto a inflação despencava, que está comprometendo o crescimento da economia no 2º semestre e continua projetando desaceleração para 2024. Por isso, o setor produtivo espera um Copom mais ágil e sensível ao crescimento a partir de janeiro.