Fim de um era! Saraiva demite todos os funcionários e coloca pá de cal em livrarias físicas

Ao fechar últimas cinco lojas físicas, rede praticamente deixa de existir, uma vez que seu e-commerce tem desempenho financeiro irrisório

Por GABRIEL MANSUR

Saraiva já teve mais de 100 lojas pelo país

Fim de uma era. Após 109 anos como referência, a Livraria Saraiva demitiu 100% de seus funcionários, colocou uma pá de cal em suas últimas cinco lojas presenciais que ainda estavam ativas e, a partir desta quinta-feira (21), funcionará apenas no modelo e-commerce. A informação foi dada em primeira mão pelo site PublishNews e confirmada pelo jornal O Globo.

Em 2018, a Saraiva fez seu primeiro movimento de fechamento de lojas. Foram 20 num mesmo dia, em outubro. Naquela altura, a rede ficou com 84 unidades físicas, além do seu site. Um mês depois, ela entrou com pedido de recuperação judicial. A dívida revelada naquele momento era de R$ 674 milhões

A empresa seguia fechando lojas em ritmo acelerado nos últimos meses. Desde meados de junho, foram mais 30. Até esta semana, a rede tinha quatro lojas em São Paulo - na Praça da Sé, a segunda inaugurada pela empresa, ainda nos anos 1970, e também no Shopping Aricanduva, Jundiaí e Novo Shopping - e uma em Campo Grande (MS). Agora, quem entra no site da Saraiva encontra um link para a área “Nossas lojas”, mas ao clicar nele é direcionado para uma página de “Mais vendidos”.

Ao fechar as lojas físicas, a Saraiva praticamente deixa de existir, uma vez que seu e-commerce tem desempenho financeiro irrisório. No segundo trimestre, a receita das lojas físicas foi de R$ 7,2 milhões, enquanto o e-commerce vendeu apenas R$ 128 mil ao longo de três meses - ou apenas R$ 1,4 mil por dia.

O corte parece ser o desfecho melancólico daquela que já foi a maior rede de livrarias do Brasil, com mais de 100 lojas espalhadas pelas cinco regiões do país, mas que sucumbiu à crise de um modelo que apostava em megastores e na venda de eletrônicos.

O fecho em massa ocorre às vésperas da Assembleia Geral Especial de Preferencialistas (AGESP), agendada para esta sexta-feira (22). Segundo o PublishNews, publicação especializada em mercado editorial, uma das discussões previstas é a transformação das ações preferenciais (sem voto) em ações ordinárias (com voto). Assim, o controle da empresa, atualmente com a família Saraiva, poderia ser transferido para os principais acionistas preferenciais.

Nesta semana, a Saraiva ganhou o noticiário quando conselheiros renunciaram e fizeram acusações contra os controladores da empresa, em carta para Olga Maria Barbosa Saraiva, presidente do Conselho de Administração. Nesta carta, eles mencionaram o “pagamento da remuneração da KR Capital”. Trata-se da empresa que fez a reestruturação operacional da Saraiva em 2021, que atualmente trabalha na renegociação das dívidas e que tem entre seus sócios Marcos Guedes, CEO da Saraiva.

De acordo com denúncias feitas pela ex-conselheira fiscal Francine Bruscato, que também estava nessa leva de renúncias, a companhia não vinha pagando verbas rescisórias de trabalhadores demitidos com o fechamento de lojas. Na publicação mais recente da empresa no Instagram, há queixas de ex-funcionários cobrando o pagamento de seus direitos trabalhistas.

A Saraiva ainda não se pronunciou, mas a reportagem segue aberta para eventuais esclarecimentos.