Trio de controladores da Americanas fala sobre o rombo bilionário da companhia

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Por Gilberto Menezes Côrtes

[Os donos da Americanas] Jorge Paulo Lemann entre seus sócios Sicupira (à esquerda) e Marcel Telles

Só 11 dias depois da revelação das “inconsistências contábeis” bilionárias de R$ 20 bilhões, anunciadas dia 12 de janeiro pelo então presidente Sérgio Rial, que depois renunciou ao cargo, e três dias após o juiz Paulo Assed, da 4ª Vara Empresarial do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, deferir, em 19 de janeiro, o pedido de recuperação judicial da companhia, com dívidas de R$ 43 bilhões, o trio de bilionários que controla a companhia e outras cinco empresas afiliadas decidiu se manifestar, assessorado por experientes advogados empresariais.

Em nota oficial na noite desse domingo, divulgada pelo jornalista Bruno Rosa, de "O Globo", e que deve ser distribuída ao mercado como Fato Relevante nesta segunda-feira, o trio de acionistas - Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira -, que controla mais de 30,13% das ações com direito a voto das Americanas, através da 3G Capital, afirma que “jamais teve conhecimento de problemas na companhia e que não admitiria "quaisquer manobras ou dissimulações contábeis na companhia".

"Nossa atuação sempre foi pautada, ao longo de décadas, por rigor ético e legal. Isso foi determinante para a posição que alcançamos em toda uma vida dedicada ao empreendedorismo, gerando empregos, construindo negócios e contribuindo para o desenvolvimento do país", diz o trio que integra as listas de maiores bilionários do Brasil e do mundo e controla a Ambev, que atua no Brasil e nas Américas e é forte acionista na InBev, parceria com a belga Interbrew como o maior grupo cervejeiro do mundo, e ainda a Burger King e a Kraft-Heinz.

O controle das Lojas Americanas foi assumido em 1982. Com a multiplicação das atividades, a 3G Capital ampliou as vendas por canais digitais - os sites Submarino, Shoptime, e o ramo B2W, que formou uma única companhia, as Americanas, em novembro de 2021. Ainda integram o grupo a Hortifruti Natural da Terra e a Vem Conveniência (parceria com a Vibra, ex-BR Distribuidora).

Assumindo finalmente a responsabilidade no futuro das Americanas, como grupo controlador, o trio declarou o "empenho em trabalhar pela recuperação da empresa, com a maior brevidade possível, focados em garantir um futuro promissor para a empresa, seus milhares de empregados, parceiros e investidores e em chegar a um bom entendimento com os credores".

 

Se eximindo de culpa

Embora reconhecendo a responsabilidade pela solvência da empresa, o trio procurou se distanciar da responsabilidade por eventuais fraudes contábeis na companhia ao destacar que “a empresa nos últimos 20 anos foi administrada por executivos considerados qualificados e de reputação ilibada”.

E na mesma toada, para se eximir de responsabilidades, a carta frisa que a Americanas contava com uma das maiores e mais conceituadas empresas de auditoria independente do mundo, a PwC (Price Whitehouse Cooopers). "Ela, por sua vez, fez uso regular de cartas de circularização, utilizadas para confirmar as informações contábeis da Americanas com fontes externas, incluindo os bancos que mantinham operações com a empresa. Nem essas instituições financeiras nem a PwC jamais denunciaram qualquer irregularidade", acrescenta o trio, que diz acreditar que tudo estava “absolutamente correto".

"Portanto, assim como todos os demais acionistas, credores, clientes e empregados da companhia, acreditávamos firmemente que tudo estava absolutamente correto", destacaram na nota. O trio lembrou também que o comitê independente da companhia terá "todas as condições de apurar os fatos que redundaram nas inconsistências contábeis, bem como de avaliar a eventual quebra de simetria no diálogo entre os auditores e as instituições financeiras".

"Manifestamos mais uma vez nosso compromisso de integral transparência e de total colaboração em tudo que estiver ao nosso alcance para esclarecer todos os fatos e suas circunstâncias", diz a carta.

Por último, diante do risco de serem acionados pelos detentores da ADRs (American Depositary Receipts) negociados nos Estados Unidos e pelos gigantescos fundos de investimento Capital Group (que tem 9,91% das ações com direito a voto) e Blackrock (dono de 5,05% das ações), o trio, que controla quatro das sete cadeiras do Conselho de Administração das Americanas faz pedido formal de desculpas, procurando dizer que também sofreu perdas:

"Lamentamos profundamente as perdas sofridas pelos investidores e credores, lembrando que, como acionistas, fomos alcançados por prejuízos".