ECONOMIA

Na despedida de Castello Branco, Petrobras tem maior lucro trimestral de sua história: R$ 59,890 bilhões

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Por GILBERTO MENEZES CÔRTES, [email protected]
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Publicado em 24/02/2021 às 23:42

Alterado em 24/02/2021 às 23:42

Presidente da Petrobras, Roberto Castello Branco REUTERS/Sergio Moraes

Num ano marcado pela forte retração da demanda doméstica, que encolheu em 21,8% o consumo de óleo diesel e em 17,1% o de gasolina, enquanto o isolamento social na residência, onde a população passou a se alimentar, provocou aumento de 5,8% no consumo de gás de bujão (GLP). Mas, mesmo com a queda dos preços do barril no mercado internacional, a Petrobras aproveitou a alta geral das cotações no último trimestre de 2020, que gerou a reversão de quase R$ 31 bilhões em perdas (“impaiments”) para produzir o maior lucro líquido trimestral de sua história R$ 59,890 bilhões, um aumento de 634,6% sobre os R$ 8,153 bilhões do 4º trimestre de 2020.

Com a recuperação das cotações internacionais, o resultado do 4º trimestre foi suficiente para reverter em mais de R$ 50 bilhões o prejuízo acumulado nos nove primeiros meses do ano e ainda gerar um lucro líquido final de R$ 7,108 bilhões em 2020. Uma queda de 82,3% frente aos R$ 40,137 bilhões de 2019.

Ao apresentar os resultados financeiros e operacionais do último trimestre de sua gestão plena na companhia – seu mandato vai até 20 de março e o presidente Jair Bolsonaro já indicou o general Joaquim Silva e Luna para substituí-lo – o presidente da estatal, Roberto Castello Branco resumiu sua gestão em 2020: “Nós entregamos nossas promessas”.

Esforço na redução de custos e eficiência

Em mensagem aos acionistas, Castello Branco diz que “ em um ano marcado por inúmeros desafios provocados pela pandemia da Covid-19 e a consequente queda da demanda global por combustíveis, conseguimos reverter a trajetória de nosso desempenho contábil nos primeiros nove meses do ano e alcançamos o lucro líquido de R$ 59,9 bilhões no quarto trimestre de 2020. No consolidado do ano, obtivemos lucro líquido de R$ 7,1 bilhões, encerrando 2020 com sólido desempenho operacional e financeiro”.

”Nossa produção de óleo e de óleo e gás alcançou recordes históricos de 2,28 milhões de barris/dia e 2,84 milhões de barris de óleo equivalente, respectivamente, enquanto grande parte de nossos competidores globais mostrou redução na produção”.

Pré-sal responde por 66% da produção

“A maior parte da nossa produção – cerca de 66% – veio dos campos do pré-sal, com um lifting cost médio de US$ 2,5/boe. Isso também significa óleos de melhor qualidade vendidos a prêmio em relação ao Brent, bem como menores emissões de gases de efeito estufa (GEE).

“O lifting cost total médio, de US$ 5,2/boe em 2020, caiu 42,2% em relação à média de 2015-2019, de US$ 9,0/boe.

“Nossas exportações de petróleo e óleo combustível também alcançaram recordes históricos.

“As vendas de petróleo cresceram 33% e as marcas Tupi e Búzios foram consolidadas com clientes asiáticos.

“Nosso time de vendas e marketing está desenvolvendo iniciativas para diversificação geográfica e por cliente. Em 2020, foram capazes de adicionar 14 novos clientes à clientela.

“Exportações de óleo combustível subiram 45,9%, principalmente devido à bem-sucedida exportação de óleo combustível de baixo teor de enxofre para o mercado de Cingapura, um hub marítimo global.

“Novas e bem-sucedidas incursões foram realizadas nas vendas de nafta, propano, etano e coque.

“Enquanto os preços de petróleo derreteram 35,2%, nosso fluxo de caixa operacional (FCO) cresceu 13% e o fluxo de caixa livre (FCL) 20%.

“Nosso FCO alcançou US$ 28,9 bilhões, o maior dos últimos 10 anos, mesmo comparando com o período de preços de petróleo por volta de US$ 100/bbl, mais que o dobro do preço médio do ano passado, de US$ 42/bbl.

“Quando nos comparamos com as grandes empresas globais de petróleo (“majors”), a Petrobras é a única que mostrou aumento em um ambiente tão desafiador.

Redução de estoques e pessoal

Castello Branco disse que “a companhia está tomando ações para otimizar a gestão dos estoques. O estoque foi reduzido, alcançando o menor nível desde 2011, e o estoque de petróleo caiu 8 milhões de barris em um movimento para eliminar ineficiências e realocar capital para melhores usos”, disse.

Da mesma forma, colocamos à venda algo como 50.000 toneladas de sucata e 550 ativos mobiliários.

Demissões podem passar de 11 mil

Ele adiantou que “mais de 11.000 funcionários da Petrobras e suas subsidiárias se inscreveram em vários programas de desligamento voluntário, dos quais 6.100 deixaram a empresa em 2019 e 2020 e 5.000 sairão a partir de 2021”.

No processo de enxugamento, feito em regime de home office para o pessoal não operacional, “quase 1.500 posições gerenciais foram eliminadas, o uso de recursos internos foi adotado para reduzir custos e o uso da transformação digital e da automação reduziram a demanda por serviços terceirizados”.

Outro ponto destacado foram as mudanças no “plano de saúde, antes uma fonte de altos custos e serviços ruins, que está sendo reestruturado, perseguindo ganhos de eficiência, menores custos e serviços muito melhores”.

Redução de custos de exploração

A redução no custo médio de exploração dos poços de petróleo foi obtida com a venda de campos em terra e águas rasas (de alto custo de extração) quando o barril de petróleo passou a flutuar na faixa de US$ 30. A cotação do Brent para entrega em maio subiu para US$ 66, hoje.

Os custos de produção (“Lifting costs”) caíram 33% na comparação anual, de US$ 7,8/boe para US$ 5,2/boe. 63 plataformas de petróleo foram hibernadas devido à baixa produtividade e altos custos operacionais.

O custo de extração do petróleo caiu US$ 2,0 bilhões, para US$ 4,7 bilhões em 2020, de US$ 6,7 bilhões no ano anterior. O custo de refino também reduziu para US$ 1,1 bilhão, de US$ 1,5 bilhão.

“Nos últimos dois anos, os custos de perfuração e completação de poços foram reduzidos em 36%. Passamos a utilizar novas ferramentas de inspeção de dutos submarinos para viabilizar a redução de custos e aumentar a produção de petróleo.

“O projeto básico para uma nova geração de FPSOs foi finalizado. Treze novos FPSOs entrarão em produção entre esse ano e 2025, oito deles já estão sendo construídos”.

Nova plataforma para Búzios

Ontem a estatal anunciou ter fechado contrato com a holandesa SBM para afretamento e prestação de serviços do FPSO – “floating production storage and offloading” (unidade flutuante que produz, armazena e transfere petróleo) Almirante Tamandaré, a ser instalado no campo de Búzios, localizado no pré-sal da Bacia de Santos.

O FPSO será a sexta unidade do sistema definitivo a ser instalada no campo de Búzios e terá capacidade de processamento de 225 mil barris de óleo e 12 milhões de m3 de gás por dia. Os contratos de afretamento e de serviços terão duração de 26 anos e 3 meses, contados a partir da aceitação final da unidade, prevista para 2024.

O projeto prevê a interligação de 15 poços ao FPSO, sendo 6 produtores de óleo, 6 injetores de água e gás, 1 injetor de gás e 2 poços conversíveis, através de uma infraestrutura submarina composta por dutos rígidos de produção e injeção e dutos flexíveis de serviços.

Dívida líquida cai US$ 15,7 bilhões

Graças à venda de ativos, que muitos criticam e que terá o ponto crítico na confirmação ou não, pela nova gestão, na venda de 50% do parque de refino, englobando 8 refinarias, sendo a primeira delas a pioneira Landulpho Alves, na Bahia, a Petrobras reduziu seu endividamento líquido em US$ 15,693 bilhões, de US$ 78,861 bilhões, em 2019, para US$ 63,168 bilhões no ano passado.

A dívida bruta, que tinha alcançado US# 126,3 bilhões em 2015, baixou para US$ 75,538 bilhões.

China, Ásia e Chile lideram compras

A China consolidou sua posição como maior importador de petróleo da Petrobras, com 62% das vendas em 2020 (42% no 4º trimestre). A grande surpresa foi o aparecimento do Chile como o 2º importador do Brasil (7% no ano, superando os Estados Unidos, com 5% e a Índia, também com5%, como a Espanha). Isso se deu com forte aumento de participação no 4º trimestre (11%). Mas no final do ano passado os EUA passaram a ser o 2º comprador, com 14% das vendas. Isso pode estar indicando mudança no mercado.

Outro importante mercado foi Cingapura, que respondeu por 61% das exportações de derivados (mais de 80% do “bunker” óleo combustível para navios), seguido dos Estados Unidos, com 17%.