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Gigantes aderem aos hackatons

Ambev e Petrobras entram na moda das startups e buscam hackers para inovar em suas cadeias produtivas

Divulgação -
Maria Eduarda (à dir.) comemora vitória no hackaton da Ambev junto à equipe do LaBim BeerLab
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Depois do Hacking.Rio, a maratona que trouxe mais de 700 hackers para o Rio de Janeiro no maior evento do tipo já realizado na América Latina, as duas maiores empresas do país, Ambev e Petrobras, despertaram para a prática e decidiram organizar eventos próprios na cidade. Desta vez, a missão ficou a cargo da aceleradora portuguesa Fábrica de Startups, cuja metodologia permite que os clientes saiam do evento com um modelo de negócio minimamente validado pelo mercado em vez de somente uma boa ideia.

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Maria Eduarda (à dir.) comemora vitória no hackaton da Ambev junto à equipe do LaBim BeerLab (Foto: Divulgação)

Para chegar a esse resultado, o tempo de trabalho é maior, seis dias, e o número de criativos é limitado: 50 pessoas, não necessariamente hackers e uma boa parte altamente especializada nas áreas de interesse das empresas - produção cervejeira e petróleo e gás. Dividido em equipes de quatro ou cinco pessoas, o grupo disputa pela melhor ideia que, no caso da Ambev, será recompensada com um contrato de pesquisa e desenvolvimento dentro da estrutura da empresa.

O hackaton da produtora de bebidas aconteceu até ontem e tinha como objetivo encontrar soluções ligadas à sustentabilidade, qualidade e segurança da linha de produção. O grupo vencedor foi o LaBim BeerLab, formado por quatro pesquisadores bioquímicos que já trabalham em uma startup homônima dentro do laboratório de biotecnologia microbiana da UFRJ. Quando não estão faturando prêmios por aí, o grupo presta serviço de análises para cervejarias de todos os tamanhos.

A farmacêutica Maria Eduarda Vitorino, 27, uma das integrantes da equipe explica que o projeto vencedor focou o reaproveitamento do bagaço de malte, um dos resíduos da produção, na própria fabricação de cerveja em uma espécie de reciclagem biológica. “A Ambev produz uma quantidade imensa desse bagaço que é quase 100% vendido como insumo para a fabricação de ração animal, principalmente gado. O problema é que esse negócio perfiférico tem um baixo valor agregado”, explica.

Maria Eduarda conta que a tonelada do bagaço de malte é vendida por apenas R$ 70 reais no mercado. De acordo com o projeto do Labim BeerLab, o material pode ser reutilizado na produção de moléculas úteis à indústria cervejeira, o que levaria a uma economia de nada menos que R$ 9.900 por tonelada de resíduo. Além disso, a empresa se livra da responsabilidade pelo transporte do resíduo. “Há um risco ambiental envolvido. Se esse material é derramado na estrada, a companhia é responsabilizada. Com o reaproveitamento, essa não será mais uma preocupação”, resume.

Ela explica que o diferencial deste hackaton foi o grau de imersão. Todas as equipes visitaram a fábrica da empresa na Zona Oeste do Rio e se confrontaram com os principais desafios do processo produtivo, sempre subsidiadas pelos números e a dinâmica da operação, detalhada por mentores da companhia em palestras. Esta não é a primeira vez que a Ambev lança mão de programas como esse. Outras três edições mais simples já foram realizadas em São Paulo.

Já o Hackathon da Petrobas será realizado entre os dias 20 e 27 de setembro em dois ambientes. Nos dias 20 e 21, ocupará o Instituto Brasileiro de Petróleo, Gás e Biocombustíveis (IBP) para que os participantes entedam as demandas da petroleira. Depois do dia 24 ao dia 27, a maratona de ideias acontecerá durante O&G Tech Week, evento incorporado ao Rio Óleo & Gás, que acontece no Riocentro. A competição busca o desenvolvimento de soluções e inovações a serem aplicadas em plataformas de petróleo e gás. Ao contrário do processo da Ambev, no entanto, os criativos vencedores não serão incorporados à estrutura da empresa, mas receberão uma recompensa de R$ 30 mil.

“Nossa proposta é fomentar a cultura do empreendedorismo e criar um novo ecossistema para ajudar grandes corporações a resolverem seus problemas do dia a dia”, explica Hector Gusmão, CEO da Fábrica de Startups no Brasil. “Vamos além da criação de uma tecnologia sem aplicação prática imediata. Aqui os desafios são reais e conduzimos o processo para que as inovações já saiam como negócios prototipados”, diz no afã de se distinguir de hackatons menos especializados que se multiplicam pelo país.