"Dois amigos iam viajando por uma estrada quando, de repente, apareceu um urso. Antes que o animal os visse, um dos homens correu para uma árvore ao lado da estrada, pendurou-se num galho e conseguiu puxar o corpo para cima e ficar escondido entre as folhas.
O outro não foi tão rápido, e como era mais pesado, não tinha forças para subir sozinho. Ficou um tempo pendurado e, ao perceber que seria impossível escapar daquela maneira, jogou-se no chão e fingiu que estava morto.
Quando o ursco chegou perto, ficou andando em volta do homem, cheirando-o por toda parte. O coitado prendeu bem a respiração e ficou imóvel, só com o coração batendo forte. Dizem que os ursos não atacam cadáveres e deve ser verdade, porque o bicho acabou desistindo, convencido de que o homem tinha mesmo morrido. Acabou indo embora.
Quando não havia mais perigo, o viajante que estava na árvore desceu. Curioso, perguntou ao outro o que é que tanto o urso lhe segredava ao ouvido, quando encostara o focinho em sua orelha.
- Ah, ele estava me aconselhando a nunca mais viajar com um amigo que me deixa sozinho no primeiro sinal de perigo".
Reprodução autorizada pela editora FTD do conto O urso e os viajantes, de Ana Maria Machado, para o especial de Dia das Crianças do Jornal do Brasil