Depois que lhe mataram o filho, odylo, em vez do ódio, dedicou-se à causa dos menores abandonados, o que fez parte de sua vida a s editoras brasileiras estão todas cooptadas pela força da globalização.
Nossos escritores estão esquecidos e os enlatados ocuparam seus lugares. nas listas de livros mais vendidos é raro encontrar um autor brasileiro. eu sempre dizia que a juventude não conhecia josé lins do rego. há muitos anos não era editado. felizmente, aproveitando seu centenário, a josé olympio acaba de editar sua o b ra .
Com os poetas a coisa não é diferente. é até pior. foi com grande felicidade que vi agora a publicada a obra de odylo costa, filho, a quem manuel bandeira primeiro lançou entre os poetas bissextos e guimarães rosa dizia ser o seu poeta preferido. seus sonetos são antológicos. o soneto da fidelidade e o boca da noite são textos dos mais bonitos e raros da língua portuguesa. tive a felicidade de ser seu amigo-irmão.
Quem tem um amigo tem duas almas; odylo foi minha segunda alma. era um homem de uma integridade sem mácula, de uma cultura ilimitada. um ser feito de bondade, sábio e humano. reler seus versos agora editados como poesia completa é uma oportunidade da juventude conhecê-lo e dos que o conheceram relerem um dos poetas da galeria dos divinos. religioso e de profunda fé, teve um golpe do destino que marcou sua vida. seu filho odylinho, que despontava como gran de talento, foi baleado por um pequeno marginal, em santa teresa, e ali morreu. vim correndo do maranhão e quando encontrei odylo no cemitério do caju, ele apenas me disse: “deus quis, deus fez, deus seja louvado”. em vez do ódio dedicou-se à causa dos menores abandonados, e essa campanha fez parte de sua vida.
Deus lhe deu uma filha deficiente, maria aurora, ele a integrou no cotidiano da família – até hoje lembro-me do seu sorriso sem som, leve, doce, belo. odylo dedicou à causa do deficiente toda sua fé e sua força, e tão forte esse sentimento que transmitiu a sua filha teresa, diretora do ibdd, que é a melhor entidade de assistência aos deficientes no brasil. é dela a lei que protege o deficiente e sobre a qual exerce vigilância permanente.
A casa de odylo foi o último salão literário do rio. lá conheci deslumbrado drummond, bandeira, nava, afonso arinos, rachel de queiróz, peregrino júnior, jorge amado, gilberto freyre, eneida, castelo, gilberto amado, prudente de moraes neto e tantos outros, e deles me tornei amigo.
Quando ele morreu, drummond escreveu: “…facilmente um cristão imagina / o sorriso de odylo respondendo / domingo de manhã / ao sorriso de deus”. a poesia completa , de odylo costa, filho, agora publicada, é para se ler e se tornar melhor pessoa humana. é a beleza das palavras transfiguradas pelo talento de um grande e maior poeta.