CURIOSIDADES
O Brasil que cria: economia criativa fora dos grandes centros
Por CURIOSIDADES
Publicado em 30/06/2025 às 15:07
Alterado em 30/06/2025 às 15:11
Quando o interior dita tendência
Durante décadas, o circuito cultural e criativo do Brasil foi associado às capitais: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Recife. No entanto, nos últimos anos, um movimento silencioso e transformador tem ganhado força no interior do país. Cidades médias e pequenas estão se tornando polos dinâmicos de inovação cultural, empreendedorismo e produção simbólica — mostrando que a criatividade brasileira não tem CEP fixo.
Esse fenômeno é impulsionado por vários fatores. Um deles é o avanço da internet e das redes sociais, que permitem que artistas, artesãos, músicos, designers e produtores culturais se conectem com públicos e mercados de todo o Brasil (e do mundo), sem precisar sair de suas cidades de origem. Outro fator é o esgotamento do modelo concentrador das grandes metrópoles, que enfrentam altos custos, precarização e saturação dos circuitos tradicionais.
O poder da cultura enraizada
Ao contrário do que muitos pensam, a criatividade no interior não é uma “cópia” do que se faz nos grandes centros. Pelo contrário: ela parte de repertórios locais, linguagens próprias, modos de fazer que dialogam com a história, o território e os saberes populares. Um coletivo de teatro em Petrolina, uma editora independente em Caruaru, um estúdio de design em Montes Claros — todos esses projetos trazem uma força estética e política que desafia os modelos urbanos convencionais.
Essas iniciativas têm criado ecossistemas culturais sólidos, que incluem oficinas, festivais, feiras, espaços autônomos, rádios comunitárias, redes de colaboração e financiamento coletivo. É uma cena viva, descentralizada e conectada, que não depende de grandes editais ou patrocínios para existir — embora, claro, políticas públicas mais estruturadas pudessem impulsionar ainda mais esse potencial.
Inovação e acesso: o futuro é diverso
Um dos traços mais marcantes da economia criativa no interior é a combinação entre inovação e acessibilidade. A escassez de recursos financeiros leva muitos produtores a desenvolver soluções criativas, econômicas e sustentáveis. Isso se reflete, por exemplo, em produtos culturais que priorizam materiais recicláveis, circuitos curtos de distribuição e eventos gratuitos ou a preços populares.
Esse modelo também tem inspirado plataformas digitais que buscam democratizar o acesso à produção e ao consumo cultural. Um bom exemplo é a Plataforma de 5 Reais, que reúne iniciativas acessíveis em diversos segmentos criativos, com experiências rápidas, descomplicadas e de baixo custo para o usuário final.
Esse tipo de solução mostra que há uma demanda crescente por modelos culturais e econômicos mais inclusivos, capazes de valorizar a criatividade como potência transformadora — e não apenas como produto de elite.
Desafios e oportunidades de permanência
Apesar do crescimento, ainda existem muitos obstáculos para quem cria fora dos grandes centros. A falta de apoio institucional, de espaços físicos adequados, de infraestrutura digital estável e de canais de distribuição impede que muitos projetos floresçam plenamente. No entanto, o avanço da educação artística, da autoformação online e da mobilização coletiva tem sido chave para superar essas barreiras.
Além disso, o fortalecimento das redes regionais de apoio — como cooperativas culturais, associações de produtores, festivais itinerantes e editais estaduais — tem sido fundamental para garantir que a cultura do interior se mantenha viva e relevante. A economia criativa, nesse contexto, é também uma forma de afirmação territorial: ela diz que é possível viver, criar e prosperar fora do eixo Rio–São Paulo.
O Brasil plural que ainda precisa ser visto
Dar visibilidade à economia criativa do interior é, portanto, uma questão de justiça cultural. É reconhecer que o Brasil não é feito apenas dos centros urbanos hegemônicos, mas de uma pluralidade de vozes, ritmos, estéticas e narrativas que enriquecem o país em todas as suas dimensões. É também uma oportunidade de pensar novas formas de desenvolvimento, mais sustentáveis, afetivas e ligadas à comunidade.
O futuro da cultura brasileira passa por essas bordas férteis — onde a arte nasce da necessidade, da coletividade e da invenção cotidiana. Reconhecer e apoiar essas experiências é ampliar o horizonte do que chamamos de cultura nacional.