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Leticia Spiller ousa em peça que homenageia David Bowie

Atriz dá vida à excêntrica galerista  Peggy Guggenheim, no musical 'Outside'

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A atriz Leticia Spiller pode até ser (bem) mais conhecida na televisão do que nos palcos, mas é no teatro que ela realmente se encontra. 

Veja o exemplo: mesmo gravidérrima de Stella, e logo após o nascimento da filha, em janeiro, ela dedicou-se a mais de oito meses de estudos, pesquisas e ensaios para a estreia, hoje, de Outside, musical noir em homenagem a David Bowie, concebido pela Aquela Cia de Teatro para o Espaço Tom Jobim, no Jardim Botânico. 

“O teatro é a minha base, é onde me reciclo, é o lugar onde posso me aprofundar durante meses e meses para a criação de um personagem. 

Na televisão, isso é impossível”, define a atriz, que participou de montagens como Isadora Duncan – É dançando que a gente se aprende (2007) e Bodas de sangue (2009).

Com direção de Marco André Nunes e texto de Pedro Kosovski, a peça tem um argumento nada convencional. Nasceu da história esboçada por David Bowie no encarte do disco Outside, lançado pelo músico inglês em 1995. Nela, um detetive tem que investigar o desaparecimento de uma adolescente de 14 anos dentro de uma galeria – pretexto para uma discussão sobre body art e os limites da arte no novo milênio. Na peça, Leticia Spiller vive a colecionadora de arte Peggy Guggenheim, que dá a possibilidade à intérprete de ousar. “Gosto de ser meio camaleônica, como o próprio David Bowie. Odeio ficar amarrada a um tipo apenas, a um tipo de história, um tipo de cabelo. Isso é entediante”, expõe. Para ela, quanto maior o distanciamento entre ator e personagem, melhor. “Quando fiz um workshop com a (atriz) Juliana Carneiro da Cunha, por exemplo, entre interpretar uma mocinha e o urso (do espetáculo O urso, de Tchecov), escolhi o urso, claro”.

A Peggy do espetáculo não é exatamente como a Peggy da vida real (importante colecionadora de arte americana, que morreu em 1979). “Ela acha que morrer pela arte é o máximo, é excêntrica. Tem uma galeria que está no ostracismo e quer sacudir esse universo”, explica Leticia, que divide a cena com os atores Andre Mattos, Jorge Caetano, Bruno Padilha, Gabriela Geluda, George Sauma, Laura Araújo, Remo Trajano, Marina Magalhães, Paula Otero e Carolina Lavigne.

Para a construção do espetáculo, a equipe estudou (e ouviu muito) não só o disco Outside mas toda a obra de David Bowie, elegendo um repertório de clássicos, que vai de Life on Mars e Let’s dance a Hallo Spaceboy. “As músicas, mesmo as que não são de Outside, foram inseridas para ajudar a contar a história, não são simplesmente ‘ilustrativas’. Por isso mesmo, colocamos legendas poéticas, para explicar cada uma”, avisa o diretor, que acalenta este projeto há 15 anos. “Ganhei este CD numa festa e, um tempo depois, lendo o encarte, me entusiasmei pelo projeto. Esta discussão sobre os limites da arte é antiga, vem desde o século 19 ou até antes, mas está sempre presente”. Apesar de homenagear um artista contemporâneo, a peça não é uma ruptura na trajetória d’Aquela Companhia, que até hoje focou nos clássicos, dissecando obras de Kafka, Goethe, James Joyce, entre outras. “É o prosseguimento de um trabalho, com foco numa figura fundamental da nossa história, mas uma figura contemporânea”, frisa Marco André Nunes. 

Apesar desse clima todo de mistério com fundo musical, vale avisar que a montagem tem muito humor. “A gente tira sarro de tudo. A peça tem muita ironia e sarcasmo. E, pela resposta que tivemos nos ensaios abertos, o público diverte-se muito”, acrescenta Leticia.

Rua Jardim Botânico, 1.008, Jardim Botânico. Tel.: 2274-7012.  6ª e sábado, às 21h, e domingo, às 20h30. R$ 60 e R$ 30 (meia). Duração: 2h. Classificação etária 14 anos.