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Trilha sonora da animação 'Rio' cria a apoteose do filme

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Rio, o filme que vai tomar conta de praticamente todas as grandes salas de cinema do País nesta próxima sexta-feira (8), pode e deve ser reconhecido por todo o seu mérito visual. Mas na produção que carrega no título o nome de uma das cidades mais musicais do mundo, é de se esperar que sua trilha sonora tenha nada menos que momentos geniais. E não seria diferente com um disco assinado pela produção de Sergio Mendes, hábil em reconhecer os elementos mais cativantes da sonoridade nacional. E ainda que aqui e ali escorregue na proposta, o disco do filme do brasileiro Carlos Saldanha dá mais do que a conta do recado. Até porque, em uma animação-musical, a melodia e letra são o próprio recado cantado. Confira abaixo um faixa-a-faixa do álbum.

Real In Rio - Poucas aberturas de filmes são tão impactantes quanto a de Rio, de um jeito que dá até medo de ver o gráfico cair no resto da história (o que não é o caso). Mas o espetáculo visual aqui só funciona graças a essa que é possivelmente a faixa do disco que melhor dá conta da expressão "tirar o fôlego". Tudo começa com pequenos assovios de passarinhos, e aí escutamos o agogô, a cuica, surdo e lá vem a escola de samba inteira com o corinho la-laiá la-laiá e uma letra fácil fácil de grudar da cabeça com rimas do tipo "dia de festa, salve a floresta". O trabalho de gigantes nas vozes do grupo The Rio Singers não termina ao fim dos versos em português e, com a mesma batida, serve à versão americana do samba, igualmente apoteótica (e aqui com as vozes de Jesse Eisenberg, Jamie Foxx, George Lopez, will.i.am e uma Anne Hathaway bem afinada).

 

 

 

 

Let Me Take You To Rio - Com letra e voz de Carlinhos Brown e um versinho em inglês muito fofinho cantado por Ester Dean, essa é a faixa que introduz o protagonista, a arara Blu, ao Rio de Janeiro. A ideia, portanto, é: uma batida, uma letra e uma malemolência que dê, ao mesmo tempo, brisa e sol à música. O resultado é um sambinha de fundo de quintal com requintes de coros bem discretos e um pianinho fininho lá longe. Como diria a letra, o som "faz 40º para esquentar a vida".

Mas Que Nada - Essa é fácil e todo mundo conhece. Quase um cartão-postal do Brasil, a música de Jorge Ben Jor ganha aqui uma releitura bem elegante e respeitosa do grande mestre por trás dessa trilha: Sergio Mendes. Com a voz de Gracinha Leporace, ele cria uma batida ainda mais melódica para este clássico do samba popular brasileiro.

Hot Wings (I Wanna Party) - Depois de toda a introdução carioca da gema da trilha, é chegado o momento de will.i.am (Black Eyed Peas) mostrar porque participa do filme, não apenas como músico, mas como dublador e, portanto, cantor. Hot Wings tem a vibe do Black Eyed Peas, com o benefício de quase todos os instrumentos de uma escola de samba ao fundo. É este o momento em que a trilha recebe um retoque eletrônico mais forte e, com ele, um senso de humor necessário aos personagens engraçadinhos da história. Além do próprio will.i.am, a faixa ganha a voz de Jamie Foxx e de Anne Hathaway emitindo curiosos sons de arara + o básico laiá laiá laiá laiáááá.

Pretty Bird - De longe a faixa mais bem sacada, humorada, irônica e encaixada dentro de todo o espírito "musical Broadway" do filme, em um samba quase-tributo aos tempos Carmen Miranda, com o advento de um pequeno rap no meio da faixa. Interpretada por Jemaine Clement, com um sotaque acentuado da Nova Zelândia, esta é a música da cacatua vilã do filme, seu momento de glória maior, quando recorda os tempos em que era uma estrela de cinema nos moldes dos anos dourados da Hollywood. A trilha preserva a versão em inglês dos versos e a decisão é mais do que acertada. Jermaine dá o tom "ambicioso e malicioso", como diria a letra, de um vilão original em sua caricatura.

Ararinha (Fly Love) - É chegado o momento banquinho e violão. Carlinhos Brown cria a primeira composição romântica da trilha com uma música que se explica já no título diminutivo: Ararinha. Nesse espírito, podemos dizer que se trata de um sambinha gostoso de versinhos meigos, facinho de se assoviar pela rua. Em tempo: na trilha que será vendida lá fora, quem canta a música, em inglês (Fly Love), é o ator/cantor Jamie Foxx.

Telling The World - A faixa de Taio Cruz, jovem rapper inglês (de mãe brasileira), sussurra uma letra-chiclete que você já deve ter ouvido antes em algum lugar. É certamente a faixa menos inventiva de todo o disco, mas com certeza a mais pronta e redonda pra estourar em hits de FM. Aliás, a música é tão especialmente hábil na junção óbvia de batidas fortes e versos que se esticam naquele momento "cantando de olhinho fechado", que dá até para fazer uma sugestão. Troque a palavra "girl" (garota) por "ball" (bola) e você já tem pronta a próxima música-tema da Copa do Mundo no Brasil. E o momento "ô-ê-ô" já está lá.

Funky Monkey - Estava demorando, mas ele chegou, ainda que muito discreto. O funk entra em cena na trilha, com uma interessante vibe do soul americano na voz de Siedah Garrett. Para aliviar a sensualidade (afinal, estamos falando de um filme infantil), Carlinhos Brown surge novamente em cena para cantar o "funk do macaquinho". E assim fica tudo numa boa, em uma rápida, porém bastante proveitosa, mistura de referências marcantes e modernas da música brasileira e americana.

Te Levar Pro Rio - O "Let me take you to Rio", de Ester Dean, ganha uma versão em português cantada por uma Ivete Sangalo que, estranhamente, parece abafada pela leitura americana da música. De outro modo não se explica a acentuação "Riô", "Naviô", "Assoviô" da cantora. Montagem eletrônica em excesso para uma música que podia ganhar o costumeiro calor de sua intérprete, mas termina achatada por batidas sem assinatura.

Balanço Carioca - Parece Marcelo D2, mas não é. Estamos falando de Mikael Mutti, o baiano que facilmente se faz passar por carioca nessa letra rápida, funkeada e suingada, com saudações do tipo "Salve, Salve, meu Rio de Janeiro". Pena que a letra só tome 10% da faixa, que logo se transforma em um grande momento instrumental da trilha, misturando tudo aqui e agora. Funciona mais no filme que no disco.

Sapo Cai - Se a faixa anterior se resolve melhor no filme que no álbum, aqui temos o resultado inverso. Na história, essa música passa bem ao fundo de uma cena cheia de ação e diálogos. Mas no disco dá pra escutar esse pequeno momento de genialidade da trilha em um criativo e poético samba-enredo para uma fictícia escola de samba. Com um refrão absolutamente encantador em sua brincadeira - "Piuí, piuí, piuí, piuí, piuí. Balança a cadeira pro lado. Não deixa o sapo cair" - a faixa assinada por Carlinhos Brown e Mikael Mutti é nada menos que épica nesse conjunto de sons que, à medida em que a bateria vai crescendo, insere violinos, cellos e toda aquela orquestração dos bons tempos das animações clássicas de Walt Disney.

Samba de Orly - Entra a voz macia e transparente de Bebel Gilberto para cantar uma das faixas mais belas que a nada poética ditadura produziu. A música é linda, a interpretação é perfeita, o coro do ouvinte vai junto. Só não dá pra entender exatamente porque uma letra tão política como essa entrou na trilha sonora de um filme tão apolítico.

Valsa Carioca - Sergio Mendes fecha o disco com uma música que não consegue se explicar mais do que seu título diz. Sim, trata-se de uma valsinha criada no piano de Mendes, tendo como fundo esse discreto samba que se despede na história.

Faixa Bônus - Forró da Fruta (Carlinhos Brown) - E como nunca é demais, Carlinhos Brown volta à cena com uma composição totalmente instrumental que mistura samba com piano e um forró lá de fundo. Trata-se do momento chill out da trilha.