Bernardo Costa, Jornal do Brasil
RIO DE JANEIRO - Para Waltercio Caldas, o Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro é um velho conhecido. Foi lá que começou a estudar artes plásticas com Ivan Serpa, em 1963, que lhe transmitiu, segundo suas palavras, a noção clara desta inclinação espiritual que é ser artista . Sua primeira exposição individual, em 1973, com 21 desenhos e 13 objetos-caixa, também ocupou as dependências do MAM.
Tanto melhor assim, se pensarmos que o trabalho de Waltercio está intimamente ligado à interação entre as obras e os espaços que elas ocupam, uma relação que flerta com a arquitetura. Sua arte tem sido pautada dessa forma desde aquela exposição inaugural, que lhe rendeu o Prêmio Anual de Viagem da Associação Brasileira de Críticos de Arte, também conferido a Alfredo Volpi.
Depois de suas obras terem percorrido o mundo, o bom filho à casa torna com a exposição Salas e abismos, que entra em cartaz a partir da próxima sexta-feira, no MAM, abrigando 12 obras, entre esculturas, instalações, projeções de imagens e objetos, produzidos de 1978 (O jogo do romance) a 2009 (Silêncio do mundo).
Não se trata de uma retrospectiva, mas da iniciativa do artista em buscar novos paradigmas para trabalhos anteriores, expondo-os ao lado de obras recentes. Nesse jogo de significações, o espectador é peça fundamental.
Os visitantes trarão suas próprias histórias para confrontarem com as obras, daí surgem novos significados que variam de pessoa para pessoa. A visitação, para mim, é tratada como elemento indispensável ao trabalho, é o componente que mais me interessa.
A partir dessa perspectiva, Waltercio vai caminhando pela montagem da exposição e comentando o sentimento que pretende provocar no espectador com cada ambiente criado, detalhadamente dividido pela sala com a ajuda do arquiteto Ivan Pascarelli.
A mostra começa com Silêncio do mundo, uma sala com iluminação escura, que traz uma sensação calma, e segue para o ambiente A velocidade, que passa uma ideia vertiginosa, fazendo uma composição musical, com ritmo.
Não só a relação entre as obras, mas a interação delas com a sala e, no caso de Escultura para todos os materiais não transparentes, com a paisagem, são cuidadosamente compostas. Na obra, criada em 1985, a partir da disposição no chão de diversas semi-esferas de tamanhos e materiais diferentes, Waltercio faz menção entre a linha horizontal formada pelo toque das esferas no chão, formando um horizonte hipotético com o horizonte avistado da janela ao fundo, com a imagem do Pão de Açúcar.
Pena que a inauguração da exposição será à noite e as pessoas não perceberão isso.
Assim como a composição espacial, as relações temporais também são caras à obra de Waltercio. Mais precisamente a capacidade de o artista contemporâneo captar com efeito o momento em que determinada obra foi criada.
Nesse sentido, apesar de contar com trabalhos produzidos desde 1978, a exposição será sempre atual. Até porque, a inserção de um trabalho novo, modifica as obras anteriores e antecipa o que virá. Assim, esta mostra não se interessa pelo aspecto cronológico, mas sim pela densidade dos núcleos das obras. Gosto de uma frase do filósofo Novalis que diz que tempo é espaço interior e espaço é tempo exterior. Acho que ela define bem minha obra.
Enquanto Waltercio fala sobre seu trabalho, por vezes temos a impressão de que estamos ouvindo as palavras de um arquiteto. A influência pode ser familiar, já que seu pai era engenheiro, mas Waltercio conta que foi a construção de Brasília que marcou sua geração de artistas, composta por nomes como Cildo Meirelles, Carlos Vergara e Rubens Gerchman.
Temos uma relação forte com o moderno, principalmente com a construção daquela cidade da forma como se deu. Eu tinha oito anos na época e lembro de ter ficado muito impressionado. De certa forma, o pensamento de arte e de espaço sempre estiveram unidos.
Sua geração, aliás, contribuiu de forma decisiva para a inserção da arte brasileira no exterior, q