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Hayao Miyazaki fala sobre'Ponyo', seu novo filme que estreia quinta

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Marco Antonio Barbosa, Jornal do Brasil

RIO DE JANEIRO - Maior nome do cinema japonês de animação e o único não americano a ganhar um Oscar de melhor longa de animação (com A viagem de Chihiro, 2001, também o único desenho a vencer o Urso de Ouro no Festival em Berlim), Hayao Miyazaki investe mais uma vez no universo onírico que lhe deu o título informal de Walt Disney Nipônico. Em seu 10º longa-metragem, Ponyo, o cineasta de 69 anos narra a história da peixinha dourada que dá nome ao filme, cujo amor pelo dono, Sosuke, é tamanho que a leva a transformar-se num ser humano, para ficar mais tempo perto de seu amigo. O longa, que estreia no circuito carioca nesta quinta-feira, mescla lendas populares japonesas com narrativas nutridas pelos clássicos da literatura de aventura e pelos mangás.

Recluso, o cineasta raramente é visto longe de sua casa, nos subúrbios de Tóquio, mesmo para receber prêmios ou tributos. Para surpresa dos fãs, ele foi aos Estados Unidos em julho do ano passado, para ser homenageado em San Diego e Los Angeles, onde falou sobre seu último longa.

No começo, Ponyo não estava nos planos. Tinha um garoto, mas ele não tinha nome. Tinha também uma casa em um penhasco. Ela estava vazia por um bom tempo até que um cara estranho passou a morar lá descreve Miyazaki. A pessoa era o Fujimoto (o pai de Ponyo na versão final). Fujimoto perguntou para o garoto: Você não viu nada de estranho por aqui? . Nessa parte, o que ele estava procurando não era Ponyo e sim um sapo mecânico de brinquedo.

A princípio, o diretor planejava transformar em filme o livro infantil Kaeru no Eruta, de Rieko Nakagawa.

Eu tentei transformá-lo em um enredo por um tempo, mas percebi que seria impossível e acabei desistindo. Apesar disso, eu ainda levei o livro comigo para Tomonoura comenta o cineasta. De qualquer forma, as histórias de Nakagawa têm uma falta de lógica incrível. Ela é uma escritora que consegue explicar tudo sem nexo nenhum. Ela costuma argumentar: Por que precisa de mais explicações? Ela não precisa de regras.

Miyazaki diz que cria histórias como a de Ponyo, em que a fantasia está acima de uma pretensa lógica narrativa, para evitar cair numa fórmula, como acontece com tantos outros animadores.

Inspiração na literatura

Existe uma teoria sobre como criar uma história, como quando uma pessoa encontra outra, a trama se desenvolve, um pequeno clímax no meio, um maior no fim, e, depois, um final feliz fecha a história. Se um diretor repete esse molde, seus filmes começam a decair sentencia. Sei que há pessoas repetindo um estilo várias vezes, sem hesitar. Apesar disso, devemos perceber isso por nós mesmos. Se eu começar a fazer um filme com uma história previsível, logo vejo que há algo errado. Nesse caso, eu jogo tudo fora.

O universo fantástico que brota da imaginação do diretor tem origem, segundo ele, na literatura:

Eu era um garotinho fraco na infância, vivia cercado de livros. Queria ser um herói forte quando crescesse, como os personagens das aventuras que lia. Hoje crio histórias realistas, mas que, no fundo, se baseiam em contos de fadas.

O trabalho de Miyazaki é, a rigor, dirigido às crianças. Mas seus desenhos animados, que combinam temas clássicos da ficção fantástica com fortes referências à cultura japonesa, têm apelo entre fãs de todas as idades.

Ao criar A viagem de Chihiro, lembro que queria fazer um filme realmente assustador, baseado em lendas japonesas observa o diretor. É um filme dirigido à juventude apática do Japão, que tem medo de se aventurar, de conhecer o mundo.

Para o diretor, a complexidade na criação dos personagens é importante. O que o leva a ter opiniões surpreendentes sobre protagonistas e antagonistas.

Prefiro os vilões aos heróis. Eles dão mais duro, trabalham mais. Sempre os faço com coração, capazes de sorrir. Quando desenho alguém sorrindo, sorrio também.

Apesar de toda a evolução técnica da animação computadorizada, o estúdio Ghibli,