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Sexo, drogas e rock and roll na biografia de Paulo Coelho

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Leandro Souto Maior, JB Online

RIO - Acaba de ser lançado O Mago (Editora Planeta), que detalha a surpreendente vida de Paulo Coelho contada pelo escritor Fernando Morais. Em entrevista coletiva virtual, o autor de outras biografias históricas, como Chatô e Olga, garante que nada foi deixado de fora. Coelho mergulhou nas drogas, encontrou-se com o diabo, fez parte da história do rock brasileiro e transfromou-se em um dos escritores mais lidos do mundo. O próprio Fernando Morais deve ter neste lançamento sua obra mais lida em toda sua carreira. Pela primeira vez, um livro seu sai com 100 mil exemplares de tiragem inicial, um recorde pessoal. A produção da obra durou quatro anos.

- A editora sugeriu que meu próximo livro focasse um tema ou personagem que não fosse estritamente brasileiro, já que ela tem sucursais em diversas partes do mundo. Eu já tinha o nome do presidente Hugo Chávez, com quem já tinha relações há algum tempo. Sugeri ao presidente venezuelano, que se encantou pela idéia, mas disse que eu tinha chegado tarde. Outro jornalista já havia proposto a idéia a ele. Acabei sugerindo o nome de Paulo Coelho, movido inicialmente pela curiosidade. Não conhecia muito sobre ele, e queria saber quem é que estava debaixo da pele do homem que tinha se transformado no único autor vivo que tem mais obras traduzidas que Shakespeare - conta Morais.

Logo no primeiro encontro, o autor disse que o biografado não leria os originais, só quando o livro já estivesse impresso. Paulo Coelho topou, para a surpresa de Morais, que teve acesso a muitas revelações polêmicas, revelando um personagem que não imaginava encontrar.

- Paulo Coelho é sobretudo um obstinado, como nunca tinha visto. Nunca quis ser roqueiro! Desde que se entende por gente, ele queria ser o que é hoje: um autor lido e respeitado no mundo todo - revela Morais, que antes de escrever a biografia só havia lido O diário de um mago e pela curiosidade jornalística de desvendar aquele fenômeno. Gostou dos livros, mas não me transformou em um leitor fiel, como centenas de milhões de pessoas pelo mundo.

- Ele escreve para pessoas que acreditam, que tem fé. Eu não tenho, e é mais dificil seduzir o leitor materialista - analisa Fernando Morais, que durante a entrevista revelou estar ansioso, porque na última sexta-feira enviou um exemplar do livro para Paulo Coelho, que ainda não tinha dado notícias. Foram quatro anos muitos cansativos e estressantes para o autor, porque o tempo todo passou a viver o dilema de publicar ou não as informações que estava levantando. Paulo Coelho em nenhum momento pediu sigilo.

- No testamento de Paulo Coelho, me chamou a atenção não o destino que seria dado à sua grande fortuna, mas sim a informação de que em sua casa no Rio havia um baú trancado com dois cadeados, e que assim que ele morresse esse baú deveria ser incinerado. É claro que pedi a ele para ter acesso ao conteúdo, mas a princípio ele tentou me dispensar, dizia que 'aquilo é coisa da primeira infância', que eram apenas 'brinquedinhos' que deixara lá. Ele tem o hábito de fazer pequenos desafios com as pessoas que o cercam. Daí que me fez uma proposta: se eu descobrisse o nome do militar que o torturou no Paraná, em agosto de 69, ele me liberava o conteúdo do baú.

Fernando Morais acabou conseguindo descobrir a informação, e Paulo Coelho teve que cumprir a promessa e mandou as chaves. Não se tratava de um simples baú. Era um arca enorme.

- Abri aquilo me sentindo um Indiana Jones, e dali de dentro saíram demônios que mudaram o livro todinho. Joguei fora as 200 páginas que havia escrito. Eram 40 anos de diários do Paulo Coelho, registados em cerca de 190 cadernos grossos e diversas fitas cassetes - conta Morais, que juntou tudo e fez outro livro, que é o que está chegando agora às livrarias.

Eram descobertas escabrosas. O autor se perguntava: 'esse sujeito está sendo leal comigo?' E Paulo Coelho não exitou em mostrar momentos obscuros de sua vida. Morais diz que em nenhum momento tinha o interesse de criar algum desconforto, mas também não queria submeter o leitor a uma censura que o próprio Coelho não havia pedido.

- Eu pensava: 'o cara está vivo!' O que o zelador do prédio dele vai dizer depois de ler o livro? 'Seu Paulo... o senhor, hein... quem diria?' - diverte-se hoje, lembrando de momentos em que descontração era a última das sensações que passavam em sua cabeça.

Foram quatro anos também de muita intimidade, que produziu laços afetivos. O Mago promete revelar como Paulo Coelho é com a mulher, com o empresário, com o vizinho, com o jornaleiro. O livro também mostra um homem carinhoso, afetivo, sem arrogância, que se preocupa com os velhos amigos do tempo em que ainda não era ninguém. Surpreende o fato dele não adotar a postura de pop star, sem limusines, jatinhos e puxa sacos, a despeito de ser dono de uma fortuna enorme, 'absolutamente merecida e legitima', garante Fernando Morais. É claro que também estão lá sua tumultuada vida sexual, a aproximação com o satanismo (incluindo sacrifícios de animais para satisfazer um anjo da morte), tentativa de suicidio e mais uma avalanche de tragédias e êxitos.

- Durante esses quatro anos, minha barba ficou branquinha, engordei, fiquei estressado... agora o que eu quero é pegar minha moto, ir parar em Santiago do Chile e descansar - revela Fernando Morais, que ainda vai ter que esperar um pouco para realizar esse sonho, já que começa uma turnê nacional para divulgar o lançamento, que antes mesmo de ter seu último ponto final, já estava vendido para países que o autor nem sabe pronunciar o nome.