Ricardo Schott, JB Online
RIO - Carlos Imperial foi um homem multimídia antes que o termo começasse a definir quem atua em todas as frentes. Produziu discos, lançou artistas (de Clara Nunes a Gretchen, passando por seu maior pupilo, Roberto Carlos), dirigiu filmes, apresentou programas, compôs sucessos e até tentou carreira política.
Na música, esteve presente em quase tudo, da bossa nova ao rock, passando pela MPB. E uma detalhada biografia de Imperial sai em dezembro. "É Dez! Nota dez!", do historiador Denilson Monteiro. O título do livro vem da maneira como Imperial anunciava as notas máximas nas apurações de desfiles de escolas de samba.
- Ele leu as notas da apuração só em 1984 e 1985. E até hoje todo mundo lembra - brinca Denilson.
Em 1973, Imperial lançou a hoje esgotada autobiografia "Memórias de um cafajeste".
- Mas a idéia dele era só tratar de sua vida como incentivador do rock nos anos 50. O meu livro mostra um relato completo da vida de Imperial, um sujeito que acho que faz muita falta no Brasil de hoje - diz Monteiro, que crê que Luciano Huck, por seu lado empreendedor e bom-vivant, tenha pego, em parte, o bastão do popular Impera.
- Ele também batalhou muito, começou em canais pequenos. Mas poderia fazer como o Imperial e recuperar pessoas esquecidas. Graças a uma fofoca do Imperial, a de que os Beatles iriam gravar Asa Branca, o Luiz Gonzaga, que estava sumido, voltou à mídia.
No começo, Imperial fez pontas em chanchadas da Atlântida como "O petróleo é nosso", de Watson Macedo (1954). Seu envolvimento com a música se deu a partir dos anos 50, com a explosão do rock. Foi a partir de então que ele se envolveu com dois personagens que marcariam sua vida. Roberto Carlos, nascido na mesma cidade de Imperial (Cachoeiro do Itapemirim/ES), foi lançado por ele, que percorreu gravadoras, lhe arrumou um contrato com a CBS (hoje Sony-BMG) e compôs quase todo o repertório do primeiro álbum do rei, o hoje proscrito "Louco por você" (1960). Já Erasmo Carlos trabalhou nos bastidores dos programas de rock de Imperial e assinava notas da coluna do patrão na Revista do rádio.
Denilson, que não conseguiu falar com Roberto (mas entrevistou Erasmo), diz que não se intimidou com a censura a Roberto Carlos em detalhes, de Paulo Cesar Araújo, e falou sobre o rei em "Dez! Nota dez!".
- É um livro sobre o Imperial, não sobre o Roberto. Foquei apenas na persistência dele para atingir seu objetivo e sobre o apoio que ele recebia do Imperial - diz Monteiro, que não deixa de ironizar o clima criado pela censura ao livro sobre o rei.
- No futuro, quem for escrever uma biografia só poderá falar que o personagem acordou e foi ao banheiro, mas sem mencionar o que ele foi fazer lá.
O ator humorístico Paulo Silvino também foi lançado por Imperial, no fim dos anos 50, mas como cantor de rock.
- Lembro dele como um grande amigo, e um produtor e criador fenomenal - diz Silvino, afirmando que, apesar de imagem pública de doidão, Imperial sempre foi um grande careta.
- Ele não bebia, não fumava e não usava drogas. Lembro dele como um grande glutão, viciado em Coca-Cola e mulher.
Para lançar seus produtos ou simplesmente para não sumir da mídia, Imperial fazia tudo. Em abril de 1983, carregou uma cruz nas costas pelo Centro do Rio, para protestar contra o diretor teatral Aderbal Freire Filho - que dirigira uma peça sacra que Imperial acreditava ter sido superfaturada.
No natal de 1968 foi preso ao enviar aos militares um cartão em que aparecia sentado numa privada, com a legenda "espero que Papai Noel não faça no seu sapato o que faço neste cartão". Em 1985, se candidatou a prefeito pelo PTN (Partido Tancredista Nacional, uma homenagem a Tancredo Neves, sem autorização da família do próprio). Nos programas eleitorais, aliciava patrulheiros mirins e convocava a população a bater panelas como forma de protesto.
E graças à sua vida como produtor de pornochanchadas como "As delícias do sexo" e "O sexo das bonecas", e aos programas de TV em que aparecia cercado de "lebres" (as garotas do Imperial), a imagem pública de garanhão marcaria sua vida, encerrada em 4 de novembro de 1992, a 10 dias de fazer 57 anos.
- O livro mostra como ele relaxa na cama ao lado de várias meninas. Só não deu para citar os nomes porque seria deselegante - diz Denilson.
- Saíram livros sobre Roberto Carlos, Clara Nunes e Tim Maia e é impossível falar deles sem o Imperial. É mais fácil falar do que ele não fez.