Agência JB
RIO - Angélica Lopes recebeu o JB Online em seu apartamento na Lagoa, Zona Sul do Rio, com o mínimo de cerimônia. Cecília, filha da autora, uma gracinha loira de 3 anos, estava de saída. Ela também se sentiu um pouco entrevistada e contou que ia ao colégio cantar e que sua mamãe ainda estava em casa. Falar sobre literatura com uma novelista não é tarefa das mais fáceis. Angélica tem no currículo participação nos roteiros de três novelas: xxx, xxx e xxx. Depois que saiu da extinta TV Manchete, foi trabalhar no canal Futura, e aí não teve mais jeito. Foi mordida pelo bichinho da literatura de vez.
Começou a falar uma linguagem didática, estudar e saber mais sobre adolescentes. Passou também pela revista Capricho, lá como jornalista, ficou mais antenada e perdeu preconceitos sobre a nova geração de jovens. Percebeu que seus 30 anos não estavam tão distantes dos 14, 15, 16...
Adolescentes não são números. Eles lêem, mandam cartas, agradecem, contam suas próprias histórias. No meu primeiro livro, eles me mandaram cartas. Agora, tenho até comunidades no Orkut... Procuro não me meter para não intimidá-los, mas é um barato, não é? , disse Angélica, que está lançando o livro 'Vida de Modelo', o quarto para jovens. Ela já tinha escrito uma trilogia sobre um grupo de amigas. Esse foi o pontapé inicial para uma conversa matinal.
JB Online: Você já tinha uma série de livros para o público juvenil?
Angélica Lopes: Sim, o XXX, quando trabalhei na Capricho, acabei fazendo um 'laboratório' inevitável sobre essa faixa etária... As adolescentes agora são cheias de assunto, de opiniões próprias, escolhem tudo: dos livros que lêem as roupas que compram, é um grande barato. A resposta é incrível, por que elas criaram um local para debater no Orkut, então sempre que eu entro tem mais um ponto de vista sobre cada desenrolar do meu livro, é como que escrever a várias mãos, e como eu tenho origens novelística, sempre deixo gancho, em todos os meus livros para um próximo, e com esse feedback as personagens quase que ganham vida.
JB Online: O que você acha da literatura similar a sua que existe no mercado hoje? Gossip Girl, por exemplo fez um sucesso estrondoso nos Estados Unidos é muito lido aqui, e bate bem com essa descrição, já que é uma série de sete livros sobre um grupo de amigas e se passa num período de um ano. Como você se localiza neste nicho?
Angélica Lopes: Acho que o diferencial é a cartela de personagens que eu escolho. Eu falo para jovens e sobre jovens, personagens adultos não são destaque nos meus livros, como acontece na maioria dos outros materiais sobre o mesmo assunto. Acaba não cabendo... Pareço uma mãe orgulhosa, mas com uma gama de possibilidades e de conflitos internos que podem acontecer quando você junta três ou quatro meninas de treze a dezesseis anos, elas são muito intensas não privilégio os adultos, esse é o diferencial. Acho mais importante falar sobre o que acontece com elas.
JB Online: E como começou o 'Vida de Modelo'?
AL: A história básica gira em torno de treze meninas que entram num concurso chamado 'New Face'. Elas entram no mercado de trabalho de maneiras e por razões diferentes. Umas vem do interior e escutaram a vida inteira que são lindas demais para ficar ali. Outras tem menos vontade do que suas mães, que planejam isso para elas desde que elas nasceram. Algumas querem uma vida melhor para a família.
JB Online: E foi fácil encontrar uma agência que te ajudasse a fazer a pesquisa?
AL: Tudo acontece de forma muito profissional hoje em dia. Não há muito o que esconder. Toda essa polêmica sobre distúrbios alimentares e pressões existe, mas nem sempre é da parte dos administradores das carreiras. Essas garotas passam, da noite para o dia, a viver uma vida de adultas, mas elas tem doze, treze anos. Elas são infantis, é difícil aceitar todas as limitações da carreira, e é isso que acontece. Elas passam a ter muitas limitações. É um indústria cheia de meandros.
JB Online: Como assim, quais são os fatores que compõe, do início ao fim um casting por exemplo?
AL: O cliente vai a agência e diz o que ele procura. A agência tira as medidas das meninas, existe um 'padrão', quando alguém está fora do padrão e é escolhida para um determinado trabalho, tem que ir ao nutricionista, a clínica de beleza fazer drenagem linfática, massagem... Mas dizer que essa estrutura existe não é o bastante, por que você diz a uma criança: 'olha, nos próximos dias você só pode comer frango grelhado e alface', ok, mas, ela ainda é só uma criança, que mora com outras crianças num apartamento como se fosse uma adulta. Escutei de algumas coisas como: 'um dia sai da dieta e comi um pacote de biscoito e aí passei o dia seguinte sem comer'.
JB Online: E as mães das modelos?
AL: As mães encaram de maneiras diferentes. Tem a mãe de miss, as mães que tem medo, mas a família precisa da grana, tem as mães que além da motivação financeira vêem nisso uma chance para as filhas de ascenderem socialmente, namorar alguém famoso e fazer um bom casamento.
JB Online: O que mais você fez para descobrir como é esse mundo?
AL: Fiz uma sessão como modelo. Fotógrafo profissional, maquiagem, cabeleireiro, pose... O pacote todo.
JB Online: Angélica, precisa ser modelo para ler o livro?
AL: Não! De jeito nenhum, é um guia para as meninas que sonham com isso, já que ser modelo hoje é sonho de um grande número de meninas, e sinceramente acho que de uma forma geral é um passo para reflexão. Se você pensar que hoje as pessoas começam a planejar a vida dos filhos cada vez mais cedo, acho legal saber o que isso pode significar num caso assim.
JB Online: Como assim, tem que se programar para ter filha modelo?
AL: Nossa. Quando minha filha nasceu, cansei de escutar que ela era 'bebê johnson', que eu devia levá-la numa agência. O que acabei escutando foi que teria que me acostumar com a idéia de dar para minha filha a mesma vida que essas pessoas levam. Milhares de rejeições, testes que levam o dia inteiro... Muito tempo até 'construir um nome'. Só tem uma Gisele Bündchen.
JB Online: E a Cecília, que com esses cabelos loiros e olhões azuis promete ser super arrasa quarteirão, o que você faria se ela te dissesse que quer ser modelo?
AL: Não vou pensar nisso agora, ela é fofa é linda e eu não embarquei nessa onda contemporânea de programar entre o nascimento, as escolas bilíngües, para o caso do menino querer fazer faculdade fora... Não sei, só quero pensar agora nos meus próximos livros.
JB Online: E quais serão, já dá para adiantar?
AL: 'Micos de Micaela', que é inspirado em todas as minhas amigas e em mim e meu primeiro infantil: 'O senhor avesso1. Além disso estou terminando o roteiro para teatro do meu livro 'Plano B'.
Bom é esperar para ler. E não se deixe enganar pela sua idade, lembrem-se que seremos sempre meninas