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SÃO PAULO - Um dos filmes mais polêmicos e premiados do Festival de Brasília do ano passado, 'Baixio das Bestas' estréia em São Paulo, Rio e Recife nesta sexta-feira e procura sacudir o público abordando um universo decadente, no qual crueldade, prazer e morte se cruzam sem distinção. Dirigido por Cláudio Assis, o longa traz em seu elenco Dira Paes, Matheus Nachtergaele e Caio Blat. Em Brasília, em dezembro do ano passado, o longa levou os troféus de melhor filme, melhor atriz (Mariah Teixeira), melhor ator coadjuvante (Irandhir Santos), melhor atriz coadjuvante (Dira Paes), melhor trilha sonora (para o músico Pupillo) e também o prêmio da crítica para longa-metragem 35 mm.
A decadência é apresentada logo nas primeiras imagens, onde se vê um engenho abandonado e a narração cita diálogos do filme 'Menino de Engenho', de Walter Lima Júnior. Com a frase 'o tempo vai consumir os engenhos, as usinas, a mim, a você', começa um calvário num mundo de mentes e atos doentios.
Um homem velho (Fernando Teixeira) desnuda uma garota atrás de uma igreja. A cena é vista por um grupo de voyeurs, que pagam para admirar a nudez da menina. Ela é Auxiliadora (Mariah Teixeira), de apenas 16 anos, que vive com esse homem, que é seu avô. Alguns dizem que, na verdade, ele é o pai dela.
Dependente deste falso moralista, Auxiliadora não tem muitas opções na vida, a não ser seguir as ordens dele. Para justificar a exploração da neta, ele diz que 'a necessidade faz o cavalo e o cavaleiro'. Entre os admiradores de Auxiliadora está Cícero (Caio Blat), jovem de família rica que estuda em Recife e volta nos finais de semana. Com outros amigos, entre eles Everardo (Matheus Nachtergaele), promove orgias num bordel local ou num cinema abandonado. O trio de prostitutas é formado por Dora (Dira Paes), Bela (Hermila Guedes) e Ceiça (Marcélia Cartaxo).
Em contrapartida a esse mundo de podridão, 'Baixio das Bestas' mostra um lirismo colorido e melancólico num grupo de pessoas que se fantasiam para participar de eventos carnavalescos. Em algumas cenas, a brutalidade daquela cidade da Zona da Mata é momentaneamente ofuscada pelo brilho das lantejoulas e fantasias. Nesse universo de 'Baixio das Bestas', os homens são cruéis e as mulheres, oprimidas. Retratar esse comportamento rende ao filme cenas assustadoras, embora haja também espaço para beleza visual, ainda que pese a repugnância por alguns personagens e seus atos. Numa das cenas mais polêmicas do filme, um estupro é mostrado como se fosse um teatro de sombras, misturando o brutal com a insinuação erótica.
Num outro momento, em que o grupo de amigos está no cinema abandonado, vendo trechos de filmes antigos com cenas de sexo explícito, Everardo diz que a melhor coisa do cinema 'é que nele tu pode fazer o que tu quer'. Parece até que é o diretor falando através de seu personagem. Para Assis, o cinema não parece ter limites para fazer denúncias, retratar a sociedade e causar incômodo.