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Com simpatia, Roger Waters leva multidão carioca ao lado escuro da Lua

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Hugo Cals, Agência JB

RIO - Roger Waters arrebatou a Praça da Apoteose ontem esbanjando competência e simpatia durante quase duas horas e meia de show impecável, para um público de cerca de 35 mil pessoas, apesar de 10 minutos de falha técnica perto do fim do primeiro ato.

Antes mesmo do início o palco já entretia a platéia. Um filme pré-show ia pontuando as músicas. Uma mão, inicialmente solitária e anônima, trocava as estações de um rádio projetado enquanto batia as cinzas de um cigarro (com fumaça de verdade no palco) e enchia um copo de whisky. Clássicos de Chuck Berry entre outros artistas, embalaram a platéia antes do início do show. Ao sintonizar uma música do grupo ABBA, a mão rapidamente trocou de estação.

Britanicamente pontual, às 21h30, a banda subiu ao palco para a primeira parte do show revisitando pérolas do Pink Floyd como 'Mother', 'Shine on you crazy diamond' (em homenagem ao músico recém-falecido e fundador da banda, Syd Barret) e 'Wish you were' (acompanhada de um afinado coro da platéia).

Após a falha técnica, Roger Waters desculpou-se 'culpando a platéia':

- Vocês estão cantando tão alto, que os graves queimaram.

Após o término da primeira parte, um intervalo de 15 minutos intercalou o esperado ato da noite. Enquanto a banda não retornava ao palco , uma lua começou a preencher gradualmente o telão de alta definição do espetáculo. Nesta segunda parte, Waters brindou a platéia carioca com 'Dark Side of the Moon' na íntegra

para o delírio dos presentes.

Os recursos técnicos, onipresentes durante todo o show, deram um espetáculo à parte. Um filme mostrava a solidão de um rockstar, relembrando o filme 'The Wall'. Os efeitos de luzes, como uma pirâmide projetada por lasers ao fim do segundo ato, e o som quadrifônico de 360 graus são recursos raramente apresentados no Brasil. O porco inflável, contendo mensagens customizadas por um grafiteiro carioca, Piá, sumiu nos ares após breve passeio pela Apoteose. Nele liam-se mensagens como 'Bush não estamos à venda' e 'Killers, leave our kids alone' (em referência a um dos mais clássicos refrões do grupo). Em Los Angeles, Waters teve problema com as autoridades por soltar o porco. O telão sempre em sintonia com a música executada, mostrava toneladas de moedas e um pregão da bolsa ensadecido ( em ' Money'), relógios tocando simultaneamente (em 'Time') entre outras muitas imagens de pura psicodelia high-tech.

A banda formada por músicos de estúdio mundialmente conhecidos , tem destaque para os guitarristas Andy Fair Weather e Snowy White que já tocaram com muitos músicos do alto escalão, além do próprio filho de Roger, Harry Waters, nos teclados. Durante o bis, em português improvisado, Waters convidou ao palco o coral infantil da UFRJ que reviveu o clássico coro 'We don´t need no...' no hit 'Another Brick in the Wall'. Apesar da presença infantil do coral, a ausência de microfones e um perfeito sotaque inglês ecoando dos altos falantes deixou no ar a dúvida se as vozes seriam de bases pré-gravadas.

Como já é de costume em eventos na praça da Apoteose, a infra-estrutura marcou o lado escuro do show. Um péssimo serviço, com filas intermináveis para bar e para banheiro, cerveja quente e dificuldade para entrar e sair, foram alguns dos (poucos) pontos negativos do show. Meros obstáculos que não chegaram a ofuscar o espetáculo apresentado. Do Brasil, a turnê segue para a Europa e EUA para mais 50 apresentações.

Roger Waters, com uma super produção, encantou a platéia de gerações que se comprimia na multidão. encontrando a perfeita sintonia entre clássicos antigos com tecnologia de última geração. A apoteose carioca curvou-se ao lado escuro da Lua.