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Biografia de amante de Mussolini revela intimidades do ditador

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Agência ANSA

BUENOS AIRES - Uma biografia sobre a italiana Margherita Sarfatti, amante do ditador Benito Mussolini e destacada figura do fascismo, que por suas origens judaicas se exilou após as leis racistas do ditador e viveu vários anos no Rio da Prata, foi publicada recentemente em Buenos Aires.

"El amor judío de Mussolini, Margherita Sarfatti, del fascismo al exilio", do jornalista e advogado argentino Daniel Gutman, de 36 anos, conta a história de uma vida que passou dos círculos mais poderosos do regime ditatorial a anos difíceis, em Montevidéu primeiro e na capital argentina depois.

O livro de Gutman, que em 2004 ganhou o Prêmio Jovens Jornalistas instituído pela Embaixada da Itália na Argentina, evoca por meio da biografia de Margherita mais de meio século de história italiana, em particular os anos do socialismo e do fascismo.

Com estilo ágil, sem se submeter às limitações de uma seqüência cronológica, o autor arma o relato alternando os anos em que Margherita era "a rainha sem coroa do fascismo" com sua chegada ao Rio da Prata, onde teve o apoio de personalidades da arte e da cultura locais, como os argentinos Victoria Ocampo, Jorge Romero Brest e Emilio Pettoruti.

Gutman destaca em particular no capítulo "La liberación de Roma" a situação sobre os seis mil judeus que abandonaram a Itália depois da sanção das leis racistas em 1938, dos quais "mil chegaram à Argentina".

A hist¢ria da relação entre Margherita, mulher culta, ambiciosa, socialista e depois devota do fascismo, que em 1934 - quando ainda gozava dos favores do regime - foi recebida na Casa Branca, e o ditador mulherengo, rústico, de origem humilde, serve a Gutman para reconstruir o clima da época, em muitos casos por meio de abundante material epistolar.

O autor também faz a reconstrução com citações de meios de comunicação, escritos pela própria Margherita, e artigos dos diários argentinos 'Noticias Gráficas' e 'La Nación', os jornais uruguaios 'Marcha' e 'El Diario', e os americanos 'The New York Times' e 'Washington Daily News', entre outros.

Nesse último meio, o jornalista Westbrook Pegler evocou Margherita como "uma traficante de influências, sórdida e arrogante", a acusou de "ter enriquecido ilegalmente durante o fascismo" e questionou se o verdadeiro motivo de seu exílio "eram as leis racistas".

Margherita (1880-1961), em sua biografia sobre Mussolini - traduzida em 18 idiomas e com 16 edições na Itália, até que foi tirada de circulação em 1934 por ordem do genro do próprio ditador, Galeazzo Ciano - havia definido sua amante como "romana de alma e de rosto", e "a ressurreição do tipo italiano, que volta a florescer através dos séculos".

Essa mulher, que recebeu quase 1.300 cartas do ditador enquanto estiveram juntos, nunca se autocriticou e destacou uma "mudança" na personalidade de Mussolini ao atribuir à família do ditador ("gente baixa e vulgar") o desastre político italiano.

A figura da rainha sem coroa que depois mendigou sem sucesso moradia e trabalho nos Estados Unidos interessou Gutman devido a uma nota jornalística de 2003 sobre documentos relativos & "sua saída intempestiva da Itália", com dados que o levaram a resgatá-la do esquecimento.