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90 anos de expressões e migrações

Pinakotheke celebra as nove décadas de Flavio-Shiró, entre Japão, Brasil e França

Jaime Acioli/Divulgação -
Aterrorizantes, contos de dormir japoneses inspiram parte da obra de Flavio-Shiró
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Com “uma raiz forte ligada ao expressionismo”, em suas “raízes emocionais”, o pintor Flavio-Shiró ganha, exposição em celebração aos seus 90 anos na Pinakotheke Cultural Rio de Janeiro, em Botafogo, até 17 de novembro. São 44 pinturas sobre tela e papel, desenhos e fotografias do artista nascido em 1928, em Sapporo, Hokkaido, no Japão, que chegou aos quatro anos de idade ao Brasil, onde viveu até 1953. Desde então, ele vive e trabalha em Paris, mas mantém estreita ligação com o país que acolheu sua família em 1932.

Foi na margens do Rio Tomé-Açu, no baixo Amazonas, que Hiró viveu até os 11 anos, sendo marcado pela vida ribeirinha em influências do trabalho que passou a desenvolver posteriormente.

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Aterrorizantes, contos de dormir japoneses inspiram parte da obra de Flavio-Shiró (Foto: Jaime Acioli/Divulgação)

As transições de Shiró são abordadas na mostra, que traça um panorama da obra do pintor, do figurativismo que o acompanhou até o início da vida em Paris, passando pelo abstracionismo informal, e retomando a figuração, sempre com o gesto como expressão essencial.

Com produção de Josué Tanaka, filho de Shiró, a exposição inclui objetos da coleção particular do pintor, traçando sua trajetória dos anos 1940 aos dias atuais.

A mostra também aborda sua relação com o cinema, presente nas pinturas “Bonheur” (1965), que retrata a cineasta belga radicada na França Agnès Varda, sua amiga e contemporânea – também de 90 anos –; “Madadayo” (2007), em referência ao filme homônimo de Akira Kurosawa (1910–1998); e “Contos da Lua Vaga” (2014), mesmo nome do célebre filme de Kenji Mizoguchi (1898–1956).

Entre telas expostas na Pinakotheke Cultural, “Matéria III” e “Camargue”, da década de 1950, estiveram expostas no MAM (Museu de Arte Moderna) em 1959, quando Shiró ainda assinava Flavio S. Tanaka. “Um quadro de Shiró explodia como a convulsão da matéria do mundo na liberação daquilo que pareciam forças do caos; a massa pictórica incorpora-se em enervação, e a pintura é uma carnalidade vibrátil”, destaca o crítico Paulo Herkenhoff, em texto do livro de 216 páginas, em 21 por 27 centímetros, lançado pela Editora Pinakotheke, também no pacote das comemorações dos 90 anos do pintor.

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Início de caráter fantasmagórico passou ao visível, segundo o crítico Paulo Herkenhoff (Foto: Jaime Acioli/Divulgação)

Herkenhoff avalia a pintura de Flavio-Shiró conforme a passagem das décadas. Em meados dos anos 1970, por exemplo, ele afirma que “Flavio-Shiró sintetizou sua múltipla herança cultural e condensa seu imaginário em questões que explorará em profundidade nas décadas seguintes. Pintar incluirá ativar a memória produtiva da fantasmática e deixá-la emergir perturbadora ao plano do visível (...) da infância se dividiu entre Sapporo no Japão (até 1932) e a vida ribeirinha às margens do Tomé-Açu, no baixo Amazonas”.

Já a década de 1990, o crítico analisa que “paradoxalmente, este estágio barroco de sua pintura não tem a presença de monstros e fantasmagorias, como pode ter acontecido nas décadas anteriores”. Sobre hoje em dia, afirma que o artista “evoca os contos aterrorizantes japoneses que sua mãe lhe contava para apaziguar o medo infantil antes de dormir”.

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SERVIÇO

FLAVIO-SHIRÓ - Pinakotheke Cultural Rio de Janeiro (R. São Clemente, 300 - Botafogo; Tel.: 2537-7566). Seg. a sex., das 10h às 18h; sáb., de 10h às 16h. Até 17/11. Entrada franca.

Jaime Acioli/Divulgação - Início de caráter fantasmagórico passou ao visível, segundo o crítico Paulo Herkenhoff