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Crítica - Teatro: Tropicalinha - Caetano e Gil para Crianças

Divulgação -
A reencenação das canções revela a força das letras
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Colocar limites nas pessoas é um conceito que vai da tarefa árdua, convencimento, imposição. E proibição e força muitas vezes são feitas com a desculpa de se colocar limites. E nos contos de fada, nas fábulas, há sempre uma história de limites impostos e injustos que as crianças têm que vencer. O velho Bem contra o Mal, o mais forte contra o mais fraco, o mais inteligente conta o mais poderoso. “Tropicalinha, Caetano e Gil para crianças” é uma peça infantil, mas que é para todas as idades e gerações.

O espetáculo conta a história do Reino de Pindorama, governado por uma rainha autoritária (Martina Blink), que toma o poder e baixa decretos proibindo a música e as cores no lugar. Dois amigos, Caê (Pedro Henrique Lopes) e Gil (Orlando Caldeira), se unem para trazer sons e cores de volta ao reino, em alusão ao movimento tropicalista. Também estão no elenco Flora Menezes (Pobo), Hamilton Dias (Lindoneia) e Rafael de Castro (Juca).

Macaque in the trees
A reencenação das canções revela a força das letras (Foto: Divulgação)

O espetáculo, que integra o premiado projeto ‘Grandes músicos para pequenos’, criado pela Entre Entretenimento, com texto de Pedro Henrique Lopes, direção de Diego Morais e direção musical de Guilherme Borges, não conta de forma linear a história da Tropicália, até porque a opção é muito envolvente para atrair as crianças e jovens. Com todas as características das melhores narrativas, a luta entre a rainha má e os meninos se transforma em perfeita metáfora para o tempo em que vivemos.

A ação se desenvolve de forma linear, intercalando-se as táticas de Caê e Gil para vencer a Rainha Autoritária com as mais lindas canções dos dois artistas, com abrangência na bem-sucedida e talentosa carreira dos dois. Pedro e Orlando desempenham de forma bastante correta, sem qualquer imitação de fala e jeito infantis, o papel de dois meninos aventureiros e corajosos. Martina é a rainha de Alice, mas com um jeito parodístico que acaba por ridicularizar a autoridade que aumenta ainda mais o sentido da peça: a arte vence a todos. 

Mas o melhor está na combinação entre a trama e as canções. No repertório, estão 43 músicas (completas e/ou trechos) deles, individualmente ou em parceria, entre elas “Tropicália”, “Alegria, alegria”, “Vamos fugir”, “Divino Maravilhoso” e “Expresso 2222”. E nessa reencenação das canções, vemos a força das letras e dos ritmos ( as crianças se acabam em “Odara”) para mostrar de que forma a ideia de liberdade, de poder se auto-expressar, é fundamental.

E é interessante que uma atriz faça o papel do bobo/soldado da corte - Flora Menezes - e Hamilton Dias seja Lindoneia. Dessa força da ótima direção, de uma trama baseada no que poderia ser lugar comum, em um elenco animado que não teme levantar a plateia e trazer as crianças para o centro do que está se desenrolando no palco, é que Tropicalinha mostra que ainda é atual e necessário perpetuar nas novas gerações a importância de dizer não ao não.

Serviço

TROPICALINHA – CAETANO E GIL PARA CRIANÇAS - De Pedro Henrique Lopes. Direção de Diego Morais. Direção musical de Guilherme Borges. Com Pedro Henrique Lopes, Orlando Caldeira, Martina Blink, Rafael de Castro, Flora Menezes e Hamilton Dias. Imperator/Centro Cultural João Nogueira (R. Dias da Cruz, 170 – Méier; Tel.: 2597-3897). Sáb. e dom., às 16h. R$ 30. Até 30/09.

*Especial para o JB. Professora do Depto. de Comunicação da PUC-Rio e doutora em Letras