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O baby cresceu

O quarto dos seis filhos de Pepeu Gomes e Baby do Brasil se apresenta hoje, às 21h30, em Botafogo

José Peres -
Pedro Baby
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Que a vida começa aos 40, Pedro Baby sente na pele. Nascido em maio de 1978, o quarto dos seis filhos de Pepeu Gomes e Baby do Brasil vive um momento especial. O guitarrista, que se apresenta hoje, às 21h30m, no Coordenadas Bar, em Botafogo, vem tocando dois grandes projetos. O primeiro, profissional: a turnê dos Tribalistas. O outro, pessoal: a chegada do primeiro herdeiro. “Dom, o meu filho, é um presentaço que ganhei na hora certa”, vibra, antevendo-se daqui a alguns anos jogando futebol com o menino. Boa chance de reviver a velha infância, quando brincava de bola nos campos da vida com o pai.

Macaque in the trees
Pedro Baby (Foto: José Peres)

Por falar em filho e “Velha infância”, nasceu do seu violão, em casa, a canção que leva este título. Música presente no primeiro disco dos Tribalistas. Do segundo álbum, são dele “Aliança” e “Fora da memória”. Apresentar-se ao vivo com Marisa Monte, Arnaldo Antunes e Carlinhos Brown tem sido uma experiência enriquecedora: “Encarar 50 mil pessoas é raro hoje em dia na MPB. Fazer parte disso não apenas como músico, mas defendendo minhas canções, emociona.”

Quem o nota no palco de chapéu e com o rosto voltado para o chão fica em dúvida se é timidez ou estilo. Nem uma coisa, nem outra: “Comando 15 pedais, e como gosto de trabalhar a textura dos efeitos, durante as músicas aproveito para testar sons. Olho para baixo para saber onde vou pisar.

Macaque in the trees
Com um ano, Pedro aparece no colo da mãe, no álbum "Pra enlouquecer", de 1979 (Foto: Reprodução)

Na realidade, sempre soube: “Quando criança, comecei a tocar para poder materializar as melodias que surgiam na minha cabeça.” Seu caminho foi a composição: “Gosto de trabalhar em parceria. Adoro ver como minha melodia toca outras pessoas.” Exímio guitarrista, sua principal referência é Pepeu, seguido por Davi Moraes e seu ex-padrasto, Nando Chagas. “O Nando soube me ensinar. Meu pai, por ser autodidata, nunca conseguiu.”

Pedro Baby compreende diversas áreas, do samba ao jazz. Aprecia de Edgar Scandurra e Rodrigo Suricato a Django Reinhart, Wes Montgomery e George Benson. Ainda bebeu nas fontes de Vaughan, Santana, Hendrix e Prince. Abandonou o colégio na sexta série para se dedicar à música. “As pessoas pensam que, por ser filho de guitarrista, nasci sabendo tocar. Pelo contrário. Desenvolvi tudo sozinho, de ouvido.”

Anos mais tarde, quando atingiu certo nível técnico, ficou fácil trocar com Pepeu. “Ele não queria influenciar a minha escolha profissional. Tive de me tornar músico de verdade para dialogar com ele. Era como se dissesse ‘faz teu caminho que lá na frente você me acha’.”

Como compositor, Pedro busca um norte parecido com o do pai, ainda que traga bastante da mãe. “No palco, eu me vejo com o drive dela, aquela energia que ela sabe compartilhar.” Carlinhos Brown endossa: “Ele traz a musicalidade da família Gomes, mas também fica nítido que é filho de uma cantora expressiva, capaz de incendiar.”

Some-se a essa explosão um quê de João Gilberto. “É a minha maior referência harmônica, ao lado do Tom Jobim.” Garante que hoje não o incomoda ser constantemente comparado ao pai. “Considero um privilégio ser filho do Pepeu, mas, quando comecei a tocar, essa herança era um peso, havia sempre um parâmetro.”

O amadurecimento veio de forma repentina, em 1996: “Um amigo meu (Gabriel, filho do cantor e compositor Guarabira) vendeu um carro para irmos morar fora. Cheguei a Nova York aos 17 anos.” Desembarcou na terra do Tio Sam sem falar inglês, mas unha e carne com o violão. “Me tornei guitarrista por necessidade, para ser mais versátil e poder viver de música. Ainda bem que, no violão, eu me garantia.”

Macaque in the trees
O guitarrista brinca com o primeiro filho, Dom, no palco da turnê dos Tribalistas (Foto: Arquivo pessoal)

Isolado, tocou música brasileira na noite. Sem proteção artística de ninguém, foi apenas mais um latino a buscar espaço. Pôde, assim, sofrer naturalmente as pressões que qualquer músico experimenta. Em bares e nos pubs, assinava Pedro Gomes. “Não podia me chamar Baby, porque era menor e tinha cara de criança”. Depois de quase nove anos longe das raízes, voltou pronto. Trabalhou como produtor ou guitarrista de grandes nomes, como Gal Costa. “O Pedro tem potência genética e formação sólida em música brasileira”, enaltece Marisa Monte. “Tem técnica apurada e é uma mão na roda em qualquer banda.”

Sua primeira contribuição fora da curva foi resgatar a mãe. Ele, que, na cabeceira, repousa o livro “Autobiografia de um iogue”, de Paramahansa Yogananda, relutava em ajudá-la na fase gospel. “Ela me chamava e eu fugia. A meu ver, certas canções do seu repertório, como ‘Telúrica’, ‘Cósmica’ e a própria ‘Menino do Rio’, se analisar as letras, ‘Eu canto pra Deus proteger-te...’, são gospel! Quis lhe mostrar que ela não precisava dizer ao público que mudou, afinal, continuava sendo a mesma pessoa.”

A turnê “Baby sucesso” terminou arrasadora. Pedro juntou os pais num show histórico, no Rock in Rio 2015. “Meu maior trabalho foi mostrar aos dois que estava na hora de deixarem certas diferenças de lado.” Pepeu compreendeu que o formato do show havia sido criado em sua homenagem. “Não saí refazendo suas linhas de guitarra, as passei para o sopro”, explica Pedro. “Ele entendeu que não ousei substituí-lo. O show foi desenhado para estarmos nós três juntos.”

No final de 2015, Pedro Baby lançou nas plataformas digitais a música “Beija”, parceria com Arnaldo Antunes. Dois anos depois, a faixa “Bora lá”, dele e Edu Krieger. “É um músico que só vejo crescer”, elogia Arnaldo Antunes. “Cada vez mais desenvolto e com levadas originais, espero que faça logo seu disco.”

A súplica tem fundamento. Afinal, o disco está pronto, mas na gaveta. “Estou tentando entender o mercado. Hoje ninguém tem tempo para digerir disco de dez canções. Se a internet ajuda todo mundo a ter voz, por sua vez não há filtro. No período das gravadoras, quem apresentasse um trabalho mais sólido e maduro alcançava visibilidade. Hoje qualquer um tem, basta impulsionar nas redes.”

Ao contrário da mãe, que o colocou bebê na capa do disco “Pra enlouquecer”, de 1979, é reservado. Casado há seis anos com Gabriela, não revela seu sobrenome por temer exposição. Fora ensaio ou shows, só se afasta de casa nas noites de segunda-feira, e por um motivo justo: “Minha mulher sabe que a peladinha da semana é sagrada”, sorri.

Não fosse músico, adoraria ser jogador. Melhor para os ouvintes. Na apresentação de hoje, apresentará músicas suas e algumas releituras. “Esse momento atual, em que surfo a crista da onda com os Tribalistas, achei ideal para mostrar ao público meu lado compositor e intérprete.”

Esse é Pedro Baby. Cortou o cordão umbilical dos pais famosos, mas continua sendo um “menino do Rio”, que leva a vida “fazendo música, jogando bola”. A aliança com o que aprendeu na velha infância não está fora da memória. Vale conferir hoje. Bora lá?

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Pedro Baby

Com André Gomes (baixo), Kainan do Jêje (bateria), Ricardo Guerra (percussão) e Luciano Lopes (teclados)

Coordenadas Bar (R. da Passagem, 19 – Botafogo; Tel.:3593-5003) Hoje, às 21h30 - Ingressos a R$ 25

Reprodução - Com um ano, Pedro aparece no colo da mãe, no álbum "Pra enlouquecer", de 1979
Arquivo pessoal - O guitarrista brinca com o primeiro filho, Dom, no palco da turnê dos Tribalistas