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Obituário: Helio Jaguaribe, sociólogo e escritor, aos 95

Fábio Motta/AE/Arquivo -
Helio Jaguaribe ingressou na Academia em 2005
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O acadêmico, jurista, sociólogo e escritor Helio Jaguaribe morreu na noite de domingo, em sua casa, no bairro de Copacabana, de falência múltipla dos órgãos. Seu corpo será velado na Sala dos Poetas Românticos, no Petit Trianon, a partir das 10h de amanhã, e sepultado às 15h, no Mausoléu da Academia Brasileira de Letras, no Cemitério São João Batista, em Botafogo. O acadêmico deixa viúva, Maria Lucia Charnaux Jaguaribe, e cinco filhos, Anna, Roberto, Claudia, Beatriz e Isabel.

O presidente da ABL, Marco Lucchesi, assim que foi informado do falecimento de Jaguaribe, determinou que a bandeira da Academia fosse hasteada a meio mastro e afirmou: “Helio Jaguaribe foi um dos últimos grandes intérpretes de nosso país. Estudou o Brasil para transformá-lo, mediante uma abordagem desenvolvimentista, com a fundação do Iseb (Instituto Superior de Estudos Brasileiros), nos anos cinquenta”.

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Helio Jaguaribe ingressou na Academia em 2005 (Foto: Fábio Motta/AE/Arquivo)

Marco Lucchesi disse, ainda, que “para Helio Jaguaribe, ação e pensamento permanecem indissociáveis, como Darcy Ribeiro e Celso Furtado, que o precederam na cadeira 11 da Academia Brasileira de Letras. Cientista político de alta erudição e consciência vigilante, deixou obra vasta e criativa. Cito apenas dois títulos: A dependência político-econômica da América Latina, verdadeiro clássico na área, e Um estudo crítico da história, divisor de águas da interpretação do processo histórico publicado em nosso país. Homem de gestos largos e entusiasmado, Helio continua vivo pelas virtudes de sua obra, saudosa do futuro”.

Nono ocupante da Cadeira nº 11 da ABL, foi eleito em 3 de março de 2005, na sucessão de Celso Furtado, e recebido em 22 de julho de 2005, pelo Acadêmico Candido Mendes de Almeida.

Helio Jaguaribe de Mattos nasceu no Rio de Janeiro, em 23 de abril de 1923, diplomando-se em Direito, em 1946, pela Pontifícia Universidade Católica (PUC).Em 1952, iniciou, com um grupo de jovens cientistas sociais, um projeto de estudos para a reformulação do entendimento da sociedade brasileira, fundando o Instituto Brasileiro de Economia, Sociologia e Política (Ibesp), de que foi secretário geral e diretor da revista do Instituto, “Cadernos de nosso tempo”, de relevante influência no Brasil e na América Latina.

Em 1956, promoveu a constituição do Iseb, uma instituição de altos estudos, do Ministério da Educação e Cultura, no campo das Ciências Sociais, do qual foi designado chefe do Departamento de Ciência Política. Exonerou-se de ambas as funções em 1959, por discordância com mudanças na orientação do Instituto. Passou, então, alguns anos colaborando, sem vínculos permanentes, com diversas instituições acadêmicas, no Brasil e no exterior.

Em 1964, depois de pública condenação do golpe militar, afastou-se do país e foi lecionar nos Estados Unidos: de 1964 a 1966, na Universidade de Harvard; de 1966 a 1967, na Universidade de Stanford; e de 1968 a 1969, no MIT – Massachusets Institute of Tecnology. Retornando ao Brasil em 1969, ingressou no Conjunto Universitário Cândido Mendes onde, por alguns anos, foi diretor de Assuntos Internacionais.

Com a fundação do Instituto de Estudos Políticos e Sociais, em 1979, foi designado decano, função que exerceu até 2003. Nessa data, completando 80 anos, propôs sua substituição por um scholar mais jovem, o professor Francisco Weffort, ex-ministro da Cultura do governo Fernando Henrique Cardoso, que foi escolhido para o cargo. A Helio Jaguaribe foi conferido o título de Decano Emérito e, nessa qualidade, continuou ativamente suas pesquisas no instituto. Foi ministro da Ciência e Tecnologia em 1992 do governo Collor.

Por sua contribuição às Ciências Sociais, aos estudos latino-americanos e à análise das Relações Internacionais, recebeu o grau de Doutor Honoris Causa da Universidade de Johannes Gutenberg, de Mainz, RFA (em 1983); da Universidade Federal da Paraíba (em 1992); da Universidade de Buenos Aires (em 2001). Em 1996, foi agraciado, por sua contribuição às Ciências Sociais, com a Grã-Cruz da Ordem Nacional do Mérito Científico. Em 1999, o Ministério da Cultura conferiu-lhe, por sua contribuição ao desenvolvimento cultural do país, a Ordem do Mérito Cultural.