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Por Tom Leão

nacovadoleao.blogspot.com.br

TOM LEÃO

‘Fé e fúria’ documenta a guerra religiosa (e silenciosa) ora em curso no Brasil

Cotação: três estrelas

Publicado em 14/10/2022 às 11:14

Alterado em 14/10/2022 às 11:17

Tom Leão Foto: JB

Nos últimos anos, temos lido nos jornais e visto nos noticiários de TV que os ataques a templos religiosos de cultura afro vêm sendo cada vez mais comuns (sobretudo no RJ e MG), bem como seus praticantes sendo abusados em seus bairros e favelas dominados pelo tráfico de drogas. Isso se dá porque, cada vez mais, os traficantes aderem à religião evangélica (não só) e tratam os do candomblé e da umbanda como ‘do demônio’ (sem contra o forte fator racista embutido no contexto). É sobre isso que trata o documentário ‘Fé e fúria’, em cartaz.

Conhecido por seus documentários contemplativos e marcados pelo silêncio, em ‘Fé e fúria’ o mineiro Marcos Pimentel faz um longa pautado pela urgência do tema: a intolerância às religiões de matriz africana em favelas e subúrbios do Rio de Janeiro e de Belo Horizonte. O cineasta conta que, a princípio, imaginava ‘Fé e fúria’ seguindo a linha de seus documentários anteriores, como “A parte do mundo que me pertence” e “Sanã”, mas o tema deste novo filme pedia outro formato.

 

 

Macaque in the trees
'Fé e fúria' mostra a perseguição que religiões afro-brasileiras estão sofrendo (Foto: Divulgação)

 

“Eu estava diante de gente que precisava gritar para o mundo todas as opressões que vinha sofrendo, e senti que precisava abrir espaço para que aquelas pessoas fizessem isso. É bem difícil filmar casos de intolerância no momento em que ocorrem. O intolerante não permite ser filmado. Então, o que temos é quem sofre a intolerância relatando o que experimentou.”

Ciente de que não poderia aplicar uma linguagem que não cabia aos seus entrevistados e entrevistas – pessoas que sofrem com a intolerância –, Pimentel procurou aquilo a que chama de a linguagem mais sincera para que seus personagens se abrissem diante de sua câmera. E conseguiu extrair depoimentos ao mesmo tempo reveladores e revoltantes.

Essas figuras (os ‘depoentes’) chegam, primeiramente, por meio de uma pesquisa com as vítimas desse tipo de intolerância. E chegou a casos divulgados pela mídia, como a menina Kayllane, que levou uma pedrada no meio da rua por estar vestida com trajes de candomblé, e outras pessoas cujas agressões não se tornaram notícia, e que são muitas.

‘Fé e fúria’ aborda também a conduta dos “donos dos morros”, abrindo espaço para que traficantes evangélicos e ex-traficantes, hoje convertidos, discorram sobre o tema. Para abordar esses entrevistados, era preciso não apenas deixar claro o posicionamento do documentário, mas também ouvir as opiniões dessas pessoas. “Em situações assim, estávamos certos de que a confiança não pode ser quebrada, porque disso dependia a segurança e a integridade da própria equipe. Eles sentiram que podiam se abrir e toparam falar”, diz o diretor.

No roteiro e montagem do longa, Pimentel contou com a parceria de Ivan Morales Jr, que o ajudou a, como diz o diretor, esculpir o documentário. Realizado entre setembro de 2016 e julho de 2018, ‘Fé e fúria’ capta um Brasil em transformação, na ascensão dos evangélicos ao poder, que culminou na eleição de Jair Bolsonaro. “Mesmo sem termos filmado no período eleitoral, o filme registra episódios de intolerância, massacre de minorias, reações obscuras entre religião e poder, racismo, fascismo, Bíblia e Deus utilizados para justificar atos injustificáveis, poder armado, tráfico, milícia... É como se estivesse tudo ali, pairando sobre a sociedade brasileira”. Assustador.

Curioso é que muitos esquecem que a tradição de se usar branco no Réveillon veio, em grande parte, das cerimonias afro-brasileiras nas praias cariocas, onde todos sempre usaram o branco (depois, também pelo Dia Mundial da Paz) Hoje, tudo se tornou uma guerra religiosa que faz com que, cada vez menos, se veja praticantes destas religiões nas áreas mais pobres da cidade, justamente as que são dominadas pelo tráfico.

 

STREAMINGS+

O novo filme da 20th Century Studios, ‘Rosalina’, estreia hoje, exclusivamente no Star+. O longa é uma cômica reviravolta da clássica história de amor de William Shakespeare, “Romeu e Julieta”, narrada pela perspectiva de Rosalina (Kaitlyn Dever, de ‘Dopesick’), a namorada que Romeu abandona quando conhece Julieta.

A terceira temporada de ‘Ela dança, eu danço’ estreia no domingo, 16 de outubro, na Lionsgate+ (ex-Starzplay). A série segue o drama, os romances escandalosos, as traições e rivalidades que ocorrem por meio do encontro dos mundos da música e da dança. O rapper Ne-Yo é um dos protagonistas.

 

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A terceira temporada de ‘Ela dança, eu danço’ estreia no domingo, 16 de outubro, na Lionsgate+ (ex-Starzplay) (Foto: Starz/divulgação)

 

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A sensacional série ‘O Urso’ estreou esta semana, no Star+ (Foto: Divulgação)

 

A segunda temporada de “Big Shot: Treinador de Elite” chegou, na surdina, ao Disney+. A produção conta a história do treinador de basquete Marvyn Korn (John Stamos) que, após ser expulso da NCAA por jogar uma cadeira em um árbitro, tenta salvar sua carreira e reputação aceitando um emprego na Escola Westbrook, um colégio de elite só para meninas.

Documentários premiados como “Espero a tua (re)volta”, vencedor do prêmio da Anistia Internacional e do Prêmio da Paz, no Festival de Berlim; “Favela é moda”, vencedor do Festival do Rio; “O barato de Iacanga”, que venceu o IN-Edit; e “Por onde anda Makunaíma?”, vencedor do Festival de Brasília, estão em cartaz, até dia 31 de outubro, e podem ser vistos gratuitamente online no site do cala Curta! (curtaOn.com.br).

A sensacional série ‘O urso’ (‘The Bear’) estreou no Star+. A comédia dramática se passa na cozinha de um pequeno restaurante familiar, em Chicago, e mostra que, atrás do balcão, as coisas são muito tensas.

*“Noturnos”, série original do Canal Brasil, voltou á programação. São seis episódios que adaptam poemas e contos de Vinicius de Moraes em um gênero surpreendente: o terror. O elenco reúne nomes como Marjorie Estiano, Andrea Marques, Bruno Bellarmino, Ícaro Silva e Rafael Losso. Os episódios vão ao ar sempre às segundas-feiras, às 22h45.

 

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