Juro do crédito aperta as famílias

Por

.

O Banco Central divulgou as estatísticas de crédito do Sistema Financeiro Nacional (SFN) até novembro. O montante dos créditos chegou a R$ 20.341 trilhões o equivalente a 160,9% do PIB. Os governos deviam R$ 8,833 bilhões (69,9% do PIB), com os juros mais baixos. As famílias (pessoas físicas), que pagavam os juros mais caros, deviam R$ 4,707 trilhões 37,2% do PIB. O endividamento das famílias tinha atingido 49,7% do PIB em outubro e comprometimento das dívidas representava 29,4% da renda familiar.

Já as empresas, com acesso a emissões de ações, crédito internacional e outros títulos de dívida, acumulavam débitos de R$ 6,802 trilhões (53,8%) do PIB, mas seus compromissos com o SFN eram de apenas R$ 2,265 trilhões, menos que os débitos domésticos com emissão de títulos (R$ 2,296 trilhões), além de R$ 2,013 trilhões em dívidas externas em moeda

Custo alto e inadimplência
Os juros pagos pelas famílias e pessoas físicas no crédito livre atingiu 59,4% ao ano em novembro (alta de 1,1 ponto percentual frente aos 58,5% de outubro e de 6,2 p.p. frente aos 53,2% em novembro de 2024. Com tais condições (e as novas regras de contabilização dos créditos em atraso por mais de 90 dias, com restrições à rolagem), a taxa de inadimplência das pessoas físicas (famílias) saltou para 6,3% em novembro, alta de 1 p.p. frente so 5,3% de novembro de 2024.

Com mais flexibilidade de endividamento (sobretudo pelas grandes empresas), os juros médios das pessoas jurídicas no crédito livre ficaram em 24,5% ao ano em novembro, baixa de 0,6 p.p. frente aos 25,1% em outubro. O principal fator de baixa dos custos foi a valorização do real. A inadimplência das PJs ficou em 2,9% em novembro (baixa de 0,1 p.p. no mês e alta de 0,1 p.p. em 12 meses).

O Banco Central não entra em detalhes sobre a composição do endividamento das empresas, onde as taxas de juros mais altas são cobradas das micro e pequenas empresas, que, por isso mesmo, também possuem as mais elevadas taxas de inadimplência (a média dos balanços do terceiro trimestre, estavam um ponto abaixo do nível de atraso das PFs).

Mas, além de cobrarem as taxas mais elevadas no crédito, o que resulta em maior inadimplência, os bancos esfolam as pessoas físicas nos “spread” (a diferença entre o que pagam nas aplicações financeiras e o que cobram na ponta dos empréstimos). Em novembro, o SFN pagava, em média, segundo o BC 12,5% ao ano às pessoas jurídicas e lhes cobrava 21,2%, com “spread” de 8,3 p.p. Para as pessoas físicas a remuneração era menor (11,0%) e a média dos juros nos empréstimos era de 34,0%, uma boca de jacaré de 23,0% p.p.

EUA crescem menos com Trump
Donald Trump foi eleito com a promessa de tornar a América “grande de novo”. Para isso expulsaria imigrantes ilegais, fecharia o cerco aos novos ingressos e aplicaria tarifas pesadas aos concorrentes dos Estados Unidos. As tarifas acabaram sujeitas a vários recuos pela interrupção nas cadeias produtivas. Os números da economia no terceiro trimestre trouxeram algum alento: o PIB real avançou 4,3% em termos anualizados, acima do consenso (3,3%) e dos 3,8% do 2º trimestre. Ainda assim, o crescimento foi de 2,5% ao ano em média, em 2025, abaixo do observado no governo Biden, +3,2% por ano.

O consumo das famílias se acelerou para 3,5% (vs. 2,5% anterior), sustentado por serviços (+3,7%) e bens (+3,1%), apesar da queda em veículos. Destaque para os gastos com saúde e viagens internacionais. Os dados do consumo evidenciaram que a dinâmica "K-shaped": de aliviar impostos das famílias de maior renda, beneficiadas por ganhos patrimoniais, o que as fariam gastar mais, não foi suficiente para o empuxo da economia. É que as famílias de menor renda enfrentam mercado de trabalho fraco e custo de vida elevado.

O investimento empresarial se desacelerou para 2,8% (vs. 7,3%), com queda em estruturas (-6,3%) e menor ritmo em equipamentos (+5,4%) e propriedade intelectual (+5,4%). Investimentos em data centers atingiram recorde, reflexo da demanda por infraestrutura de IA.

O setor externo contribuiu com +1,6 p.p. para o PIB, após forte impacto no 2º trimestre (recomposição de estoques) de +4,8 pp). Estoques subtraíram 0,22 p.p. O investimento residencial repetiu o trimestre anterior e recuou -5,1%.

Os gastos governamentais cresceram 2,2% (vs. -0,1%), puxados pela defesa (+5,8%). Estados e municípios desaceleraram para 1,8%.

A métrica de vendas finais a compradores privados domésticos (Consumo + Investimentos) subiu 3%, maior alta em um ano, e sinaliza uma demanda interna resiliente. De fato, a média histórica destes gastos é de 2,5% ao ano. A inflação ao consumidor subjacente (PCE) avançou 2,9% no trimestre.

Antes do “shutdown” iniciado em 1º de outubro, a economia crescia em média 2,5% no ano. A paralisação deve reduzir o ritmo no último trimestre. O Fed estima impacto de - 0,2 pp, segundo o presidente Jerome Powell. Mas, espera-se recuperação com a reabertura, o que indica um começo de 2026 mais forte.

Bens de capital tem um forte início de trimestre...

A média móvel trimestral dos pedidos à indústria de bens de capital sem os setores de defesa e aviação avançou ao ritmo anualizado de 8,4% ao ano, com destaque para máquinas, computadores e eletrônicos. Os embarques, proxy para os investimentos, avançou 5,8% ao ano.

...produção industrial oscila na margem

A produção industrial subiu 0,2% em novembro, após queda de 0,1% em outubro, e superou o consenso de +0,1%. A manufatura ficou estável, após recuo de 0,4% no mês anterior. A variação da média móvel trimestral seguiu em desaceleração e ficou estável em novembro. A produção de bens de consumo avançou 0,3%, puxada por não duráveis como alimentos e vestuário. Equipamentos empresariais também cresceram 0,3%, com destaque para transporte.

O destaque negativo foi o setor de insumos industriais, como madeira, produtos metálicos e não metálicos. O aumento geral foi sustentado por forte alta na mineração, enquanto a desaceleração de outubro foi limitada pelo avanço nas utilidades, incluindo energia e gás natural.