Na inflação, os suspeitos de sempre
O IBGE divulgou nesta terça-feira o IPCA-15 de dezembro. A prévia da inflação do último mês do ano ficou de 0,25%, um pouco acima dos 0,20% de novembro, mas bem abaixo dos índices de dezembro do ano passado (0,34% no IPCA-15 e 0,52% no IPCA cheio). Com isso, a inflação acumulada em 12 meses caiu para 4,41% e deve fechar o anão abaixo do teto da meta, de 4,50%.
Uma análise dos principais itens em alta no IPCA chama a atenção para duas questões básicas: mesmo com alta em alguns alimentos e bebidas no fim do ano (pela maior demanda de Natal e Ano Novo), os preços se comportaram abaixo da inflação (com alta 3,57%). Os maiores destaques deflacionários foram do arroz e da soja (os cereais e leguminosas acumulam baixa de 22,79% no IPCA-15). Depois de subir mais de 80% no ano passado, o café desacelerou este ano e Bebidas e infusões acumulam alta de 6,60%.
A carne bovina, devido à pressão de fim de ano e à agitação do mercado atacadista esperando a retirada dos tarifaço de 40% pelos Estados Unidos, subiu 1,54% no IPCA-15 e acumula alta de 2,09% no ano. Um produto que preocupa e pede atenção é o óleo se soja (houve excesso de exportação de grãos o ano inteiro, pela demanda da China, que recusa compras nos EUA, e os óleos e gorduras apresentam alta acumulada de 13,52%. Mas o que chamou a atenção foi a alta especulativa da Alimentação Fora do Domicílio, que acumulou alta de 7,81%. Será que estão incorporando a alta do Ifood?
Os itens mais especulados
Cito o Ifood (e outros aplicativos de entrega) porque na metade do mês de dezembro, a contar de 16 de novembro, os transportes por aplicativos (Uber, 99, etc) subiram 9,00%, contribuindo 0,2 pontos percentuais para a inflação de 0,25%. A maior alta foi das passagens aéreas (12,71%), o item mais especulado entre os 377 pesquisados mensalmente pelo IBGE. A trajetória dos índices mensais ao longo do ano parece uma montanha russa: as escaladas de alta são sempre em dois dígitos, enquanto as descidas ficam pela metade.
Oligopólio da aviação afeta turismo
Trata-se de uma distorção causada pelo oligopólio da aviação comercial do país, dominado por três companhias aéreas (Gol, Latam e Azul). Quase todas em dificuldades financeiras, não perdem oportunidade para esfolar os consumidores quando a procura aumenta. E ainda querem controlar (caso da Azul) o tráfego aéreo para o Rio de Janeiro, de preferência concentrando as operações no Aeroporto Santos Dumont.
Trata-se de aeroporto central, como o de Congonhas, bom para voos de negócios e aviões executivos. Mas, devido à pista curta e à proximidade do Pão de Açúcar e da ponte Rio-Niterói é desaconselhável a pouso de aviões de companhias internacionais, para o quê o aeroporto Tom Jobim, no Galeão, é o mais preparado do Brasil (melhor ou igual ao de Guarulhos).
Isso tem uma influência enorme em toda a indústria de turismo, que acabou prejudicando o Rio de Janeiro (porta tradicional do turismo estrangeiro), ao transformar Guarulhos no grande Hub da aviação brasileira, com transtornos a turistas estrangeiros e do país que precisam fazer escala em São Paulo (na ida e na volta) para a maioria das viagens ao exterior. Tem, toda a razão o prefeito do Rio, Eduardo Paes, em se insurgir contra a ideia da Anac de desfazer o acordo que revitalizou o Tom Jobim este ano e reforçou o turismo na cidade.
Os impactos da indexação
Outra evidência paralela à especulação de preços (como a que atingiu o Vestuário, cujos preços acumulam alta de 5,34% no ano, bem acima da inflação, as roupas masculinas subira 5,77% e as femininas 4,195, mas a valorização do ouro provocou alta de 20,56% em joias e bijuterias) foi o comportamento dos preços ligados à inflação passada (aluguéis, Planos de Saúde, Remédios, pedágios e mensalidades escolares lideram as altas e deixam claro que a política monetária do Banco Central tem limitações naturais enquanto persistir o alto grau de indexação na economia.
O item que mais pesou este ano na inflação foi a energia elétrica residencial, que subiu 11,95%. Aluguel e taxas subiram 5,40%. Os planos de saúde (sempre eles) ficaram 6,43% mais caros, mas tiveram ajuda das despesas com médicos e dentistas, que aumentaram 7,31% e dos remédios (+ 5,83%).
Outros vilões foram as despesas pessoais (+5,86%), com destaque para recreação (+6,47%) e fumo (5,21%). Por fim, outro item sujeito a duas sazonalidades foi a Educação (6,26%), com reajustes de matrículas no começo do ano (fevereiro) e na volta às aulas em agosto. Os cursos regulares ficaram 6,53% mais caros. Os livros tiveram alta de 6,06% e os cursos diversos, 5,71%. A informatização da didática provocou alta de somente 1,56% em papelaria (e fechamento de várias lojas de bairro).
