Focus: inflação menor no ano eleitoral de 2026

Por

.

Inflação em alta é o maior inimigo de quem tenta a reeleição, mas a tendência de baixa pode ajudar o presidente Lula em 2026. De acordo com as expectativas dos economistas do mercado financeiro, ouvidos na Pesquisa Focus do Banco Central, espera-se IPCA de 4,40% este ano (4,38% na mediana das respostas dos últimos cinco dias úteis). O teto da meta é de 4,50% nos dois anos. Para 2026, o mercado prevê IPCA de 4,16% (4,10%).

O dado mais interessante, além da expectativa de que o dólar fique sob controle (feche 2025 em R$ 5,40 e chegue em R$ 5,50 em 2026) é a descompressão nos preços administrados, em parte pelo bom comportamento do câmbio, conseguido com a elevação da Selic a 15%. De ponta a ponta, o câmbio teve queda de 12,8% este ano na Pesquisa Focus. A alimentação em domicílio deve subir em torno de 2,10% (1,03% em 2023, 7,69% em 2024, e 13,2% em 2022).

À parte a ajuda dos alimentos, que compensou a explosão dos preços administrados (puxados pelos reajustes de mais de 13% na energia elétrica) que devem subir 5,25% este ano (5,29% nas respostas dos últimos cinco dias úteis), houve descompressão em bens industriais. Para 2026, o mercado espera que os preços administrados subam só 3,8%, abaixo do IPCA de 4,2%. A rigor, o único segmento de preços ainda em faixa elevada é o de serviços (mas que tende a cair dos 6,0% deste ano para 5,2% no ano que vem).

A bola está com o Copom

Uma inflação benigna pode render mais frutos se o Banco Central for mais ousado na redução da Selic. Na quarta-feira, o Federal Reserve Bank deve reduzir em 02,5% o piso dos juros nos Estados Unidos a 3,75% e anunciar novo corte para 3,50% em 18 de janeiro. Nas mesmas datas o Comitê de Política Monetária do Banco Central decide sobre juros.

O Copom deve manter a Selic em 15%. Isso aumenta para 11,50% o diferencial de juros que atrai o “turismo especulativo” de dólares no Brasil e segura as cotações, mesmo com pressões de remessas de lucros e gastos em viagens no fim de ano. O mercado espera que sinalize baixa em janeiro e não apenas em 18 de março.

Segundo o Itaú, os preços de bens industriais no IPCA vêm apresentando trajetória benigna ao longo do segundo semestre, com destaque para a deflação em bens duráveis desde setembro. Em paralelo, o núcleo do IPA (Índice de Preços ao Produtor Amplo) industrial também desacelerou e passou a registrar variações negativas nas últimas divulgações.

O Itaú destaca que “o repasse do IPA industrial para o IPCA de bens tem ocorrido de forma mais rápida e ligeiramente mais intensa do que o padrão histórico. Esse comportamento, aliado ao enfraquecimento da demanda por bens sensíveis ao crédito e aos estoques elevados na indústria de transformação, sugere que a queda recente dos preços de bens industriais no IPCA é sustentada por fundamentos macroeconômicos e tende a continuar”. O Itaú projeta “desinflação de bens em 2026”.

Eleitor vota contra a inflação

Eu não me impressiono com o comodismo do jornalismo atual, nos quais os sites e as TVs de notícias exploram a profusão dos Boletins de Ocorrência das polícias pelo país afora. e acaba elevando a questão da segurança pública como a maior preocupação dos brasileiros. Considero a luta diária contra a inflação (a sobrevivência dos rendimentos do trabalho X a marcha dos preços) a principal preocupação dos brasileiros. E isso tem peso na hora do voto.

A inflação foi inimiga de Jair Bolsonaro em 2022 e de Donald Trump em 2018. Mas ele se beneficiou em 2024 com a escalada de preços no governo Biden, detonada pelas consequências da invasão da Ucrânia pela Rússia, em fevereiro de 2022, e as retaliações ocidentais ao país de Vladimir Putin). Em 2022, a alimentação em domicílio subiu 13,2% e, apesar dos cortes de impostos sobre combustíveis, energia elétrica e comunicações (que ainda impactam as finanças da União, estados e municípios) o IPCA fechou o ano em 5,79%, estourando o teto da meta de inflação, de 5,50%.