O que esperar do PIB de 2026

Por

.

Há várias maneiras de decompor o desempenho do Produto Interno Bruto (PIB), que teve o magro resultado de +0,1% (pior que as expectativas do mercado, de 0,25 a 0,3%) no 3º trimestre de 2025, segundo os dados do IBGE. Pelo lado da oferta, o PIB se divide em três grandes setores: Agropecuária (representava, pelos dados de 2024, 6,7% do PIB); Indústria (24,4% do PIB, sendo 14,1% da Indústria de Transformação, 42% da Extrativa Mineral e 3,6% da Construção); e o setor de Serviços (68,9%).

O setor de serviços assumiu, nas economias mais desenvolvidas, a dianteira da tração. Isso pode ser visto na revisão das Contas Nacionais do 1º e 2º trimestres contra igual período do ano anterior. No 1º trimestre a agropecuária saltou de 10,2% para 12,9%; a Indústria, repetiu os +2,4% e o setor de Serviços estacionou em 2,1%. Assim, o PIB avançou de 2,9% para 3,1%.

No 2º trimestre, o desempenho do Agro cresceu de 10,1% para 11,5%, a Indústria ficou estável em 1,1% e os Serviços recuaram de 2,0% para 1,9%. O efeito final foi um aumento de 2,2% para 2,4% no PIB. O Bradesco adiantou que os números do agro podem elevar a previsão do PIB de 2,0% para 2,1%.

Mas, do lado da demanda, o fator mais importante é o consumo das famílias (no final de 2024 ela representava 64,0% da formação do PIB). Os gastos (consumo) do governo vinham a seguir, com 18,8% da demanda, a formação bruta de capital fixo (o que traduz os investimentos em máquinas e instalações na economia, tinha peso de 17,0% e as Exportações, de 17,9%. Ou seja, os juros altos desaceleram o consumo das famílias (4,5% em 2024) para 2,2% ao ano no 3º trimestre de 2025, quando variou +0,1%, o que puxou o PIB para baixo, sobretudo em serviços. O cenário continua no último trimestre do ano.

O que esperar para 2026?

O ano eleitoral de 2026 se apresenta com grandes desafios. O mercado projeta maior desaceleração do PIB para 1,5% (previsão do Bradesco e Santander), mas o governo conseguiu aprovar no Congresso a isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil e está anunciando a medida como o “equivalente a um 14º salário. Considerando reduções regressivas do IR até R$ 7.350, é preciso medir esse empuxe estimado em 0,3% a 0,4% do PIB. Além disso, os gastos com inaugurações de obras públicas aumentam no país.

O Banco Central estará atento a este impacto para calibrar a redução dos juros. A maior parte do mercado espera redução em março, mas não seria surpresa para mim se a ocupação informal em aplicativos de entrega no fim de ano (Black Friday e Natal) inverter a situação do mercado de trabalho e produzir preocupante onda de dezembro entre o fim do mês e a primeira quinzena de janeiro. Seria um erro o Copom só agir em 18 de março.

Bradesco analisa o PIB

O PIB avançou 0,1% no 3º trimestre, resultado inferior à nossa projeção (0,3%) e ao consenso de mercado (0,2%). Em relação ao mesmo período de 2024, a atividade cresceu 1,8%, após alta de 2,4% no 2º trimestre”. Pelo lado da oferta, os três grandes setores registraram crescimento na margem, (...) liderados pelos segmentos menos cíclicos da economia. A indústria extrativa, cresceu 1,7% em relação ao 2º trimestre, contribuindo para o avanço de 0,8% do PIB industrial. Os serviços tiveram alta de 0,1% na margem, com destaque para o setor de transporte (+2,7%).

Pelo lado da demanda, o consumo das famílias desacelerou: após altas de 0,6% no 1º e no 2º, avançou só 0,1% nos três meses encerrados em setembro. A formação bruta de capital fixo cresceu quase 1%, beneficiada pela importação de plataforma de petróleo. Com isso, a taxa de investimento recuou ligeiramente de 16,7% do PIB no 2º trimestre para 16,6%. O consumo do governo acelerou na passagem do 2º para o 3º trimestre. O setor externo contribuiu para o crescimento, com aumento mais intenso das exportações.

O Bradesco assinala que “a absorção doméstica — soma do consumo das famílias e do governo mais os investimentos — está em clara desaceleração”. Em 2024, a taxa de crescimento interanual era superior a 5% ao ano; atualmente está próxima de 1%. Para o banco, “a desaceleração da atividade é evidente. A demanda privada — principal canal de atuação da política monetária — ficou praticamente estável nos dois últimos trimestres. O PIB deve se manter próximo da estabilidade no quarto trimestre. E o banco ajustou a projeção de crescimento em 2025 para 2,1%, devido às revisões do PIB agropecuário do 1º trimestre.

Exportações agrícolas crescem 1,8% até outubro

Análise do Departamento de Estudos Macroeconômicos do Bradesco mostra que, apesar dos tarifaços e de restrições às exportações de carne de frango, as exportações da agropecuária acumularam US$ 135,6 bilhões de janeiro a outubro, com aumento de 1,8% sobre os US$ 133 bilhões do mesmo período de 2024 e US$ 300 milhões acima do registrado no mesmo período de 2023.

Para driblar o tarifaço dos Estados Unidos, o Brasil fez um esforço de diversificar exportações. E a safra recorde de grãos, de 355 milhões de toneladas (alta de 16%) gerou mais excedente exportável. A soja, mesmo com preços em média menores, sustentou exportações em altos patamares. A guerra comercial entre EUA e China ampliou a concentração das compras chinesas de soja no Brasil, impulsionando o volume exportado e limitando a queda de preços mais acentuada durante a colheita.

Para milho, as exportações são menores, com um direcionamento maior para a indústria doméstica de etanol. O Bradesco aponta ainda que o mercado de proteína animal tem surpreendido com aumento da oferta doméstica. Em um ambiente de oferta global reduzida e preços brasileiros competitivos, as exportações de carne bovina foram muito fortes.

No entanto, diz, dois desafios limitaram o avanço dos embarques de produtos agrícolas. Primeiro, os embargos à carne de frango brasileira. Após o caso de gripe aviária em Montenegro (RS) em maio, diversos países anunciaram embargos ao Brasil. A lista superou 40% da pauta exportadora. Como foi um caso isolado, o Brasil voltou a ser considerado um país livre de gripe aviária em junho e, nos meses seguintes os embargos foram retirados gradualmente. A China foi o último país relevante a reverter o embargo, no início de novembro.

O volume exportado de frango chegou a recuar 25% em junho em relação ao nível de abril (antes do caso de gripe aviária). E os preços domésticos também acompanharam o movimento, devido ao aumento da disponibilidade interna de carnes. Em outubro, cerca de 12% das exportações seguiam embargadas, sendo que China respondia por cerca de 11%. Mesmo assim, as exportações já tinham retomado o nível de abril, batendo recorde para o mês de outubro. Entre os maiores compradores de carne de frango, México foi o que mais ampliou as fatias, com aumento de 30%. Mas Arábia Saudita, Coreia do Sul, Singapura e Filipinas também compensaram as perdas com a China.