Alta de juros gera inadimplência recorde

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O aumento dos juros bancários, que tem o cartão de crédito como o maior vilão, provocado pela escalada da taxa Selic, mantida em 15% ao ano desde junho, apesar do Federal Reserve, o Banco Central já ter reduzido em meio ponto o piso dos juros americanos nas reuniões de setembro e 29 de outubro, está provocando uma inadimplência recorde no Brasil.

Segundo dados de setembro do Banco Central, os juros médios no crédito livre para pessoas físicas estavam em 58,2% ao ano em setembro (58,3% em agosto). Ou seja, mais de dez vezes a taxa de inflação (5,17%) em 12 meses. Como o endividamento das famílias em agosto de 48,9%, com aumentos de 0,4 p.p. no mês e de 0,8 p.p. em 12 meses, segundo o BC, o Serasa indicou em agosto a existência de 78,8 milhões de CPFs negativados, com dívidas médias em atraso de R$ 6.267. Em janeiro eram 74,6 milhões de negativados.

Mas a situação das empresas, sobretudo as micro, pequenas e médias empresas, também não era confortável, diante dos juros altos. Segundo o Serasa, em agosto havia 8,1 milhões de CNPJs inadimplentes. Em janeiro, o número era de 7,1 milhões de CNPJs em débito e com crédito negativado. Assim, em sete meses houve aumento de 44,2 milhões de CPFs em atraso e de um milhão de CNPJs com crédito suspenso (muitas empresas criam nova razão social, o que indica uma falsa expansão da economia).

Dívida do Tesouro chega a R$ 8,122 trilhões

O Tesouro Nacional divulgou hoje que a Dívida Pública Federal encerrou setembro em R$ 8,122 trilhões. O custo médio do estoque da DPF acumulado em 12 meses subiu de 11,65% ao ano, em agosto, para 12% anual, em setembro; o prazo médio subiu de 4,09 para 4,16 anos.

Com os juros reais tão elevados, os maiores investidores nos papéis do Tesouro (com destaque para os atrelados à taxa Selic) foram as instituições financeiras, com 32,53% do total, somando R$ 2,549 trilhões. Em janeiro, a posição era de R$ 2,059 trilhões, com aumento de 23,8% no ano. O segundo maior investidor foi a Previdência Social, com 23,07%. Para ter liquidez para enfrentar os pagamentos mensais aos aposentadores e outros benefícios (licença médica, seguro-desemprego), a Previdência tinha R$ 1,803 trilhões aplicados em títulos do TN.

O terceiro grupo de investidores eram os fundos de investimento, com R$ 1,632 trilhões. Geridos por instituições financeiras (que ganham com taxas de administração sobre as aplicações dos investidores) pode-se concluir que mais da meta da dívida (R$ 4,181 trilhões) estão em mãos do mercado financeiro. Não é de se admirar de que, com ganhos reais tão altos e fáceis, o mercado se manifeste contra a baixa dos juros mesmo depois do Fed fazer duas baixas.

Isso tem aumentado o “turismo financeiro” de “investidores não residentes” em títulos da dívida pública – em agosto especuladores internacionais e brasileiros com capitais em paraísos fiscais (“off-shores”) tinham R$ 797 bilhões aplicados em títulos do Tesouro Nacional (9,8% do total). Em outras palavras, os rentistas nacionais e internacionais ganharam R$ 75,77 bilhões em juros em setembro sem maior esforço ou correr risco.

A quimera do resultado primário

Diante dos montantes dos juros pagos pelo Tesouro e pelos sucessivos rombos da Previdência Social, vê a não passa de uma quimera a geração de superávits fiscais do governo (receitas menos despesas, sem considerar os juros da dívida. Em setembro, o Tesouro teve superávit de R$ 6,5 bilhões, a Previdência teve déficit de R$ 20,9 bilhões e o Banco Central teve déficit de R$ 88

Nos nove primeiros meses do ano, por sua vez, o resultado foi de superávit R$ 186,4 bilhões do Tesouro, déficit de R$ 286,2 bilhões da Previdência e déficit de R$ 523 milhões do BC.

União cobre R$ 7,65 bilhões em calotes de estados e municípios

A Secretaria do Tesouro Nacional, que acompanha os atrasos de pagamentos das operações de crédito garantidas pela União, teve de desembolsar R$ 665,13 milhões em setembro para evitar que calotes de estados e municípios que tinham a União como avalista, afetassem o crédito do país. No ano, para evitar a “inscrição” da União no cadastro de inadimplentes, o gasto foi de R$ 7,65 bilhões.

Segundo os dados divulgados pela Secretaria do Tesouro Nacional, em setembro, a União pagou em dívidas garantidas dos entes subnacionais, R$ 247,20 milhões do Estado do Rio Grande do Sul; R$ 223,14 milhões do Estado do Rio de Janeiro; R$ 115,52 milhões do Estado de Minas Gerais; R$ 74,25 milhões do Estado de Goiás; e R$ 2,72 milhões do Estado do Rio Grande do Norte. E teve de honrar ainda R$ 2,12 milhões dos municípios de Iguatu – CE; R$ 115,60 mil de Paranã – TO; e R$ 73,90 mil de Santanópolis - BA.