Bessent acusa China de fazer o mesmo que EUA

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É no mínimo tema para um psicanalista do que para analistas políticos ou econômicos a análise da entrevista do secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Scott Bessent, ao “Financial Times”, de Londres, na qual acusa a China, que proibiu a revenda, por terceiros países aos EUA, de itens produzidos a partir da manufatura de terras raras chinesas.

Esquecendo que quem começou a guerra comercial foi o governo Trump, com o tarifaço às exportações estrangeiras, visando atrair de volta para o território americano a produção de manufaturas que se espalhou pelo mundo com a globalização, Bessent disse que “a economia chinesa está fraca e a China quer derrubar todo o mundo e exportar sua recessão para as outras economias”.

Acaso os tarifaços do governo Trump não produziram estragos na cadeia integrada da produção mundial estabelecida nas últimas três décadas? O Brasil foi uma das vítimas, assim como os vizinhos Canadá e México, que tinham acordos comerciais preferenciais. O fato é que Washington quer levantar argumentos nas conversas que os presidentes Trump e Xi Jinping terão na próxima semana, durante a reunião da Asean.

Aparentemente, a forçação de barra não colou. Mesmo depois da demonstração do prestígio político de Trump, que reuniu em torno do Summit da Paz, de Sharm El Sheik, no Egito, mandatários árabes, muçulmanos (Indonésia e Paquistão) e europeus (embora faltassem o primeiro ministro de Israel e representantes do Hammaz), ainda que o barril do Brent para entrega em dezembro tenha sofrido nova queda, abaixo de US$ 62,00 (-2%), o preço do ouro continuou a disparar, tendo o contrato de dezembro negociado a US$ 4.152 às 12:54 (hora de Brasília), com alta de 0,39% no dia, após ter superado os US$ 4,190 na manhã.

A dependência dos EUA às aplicações dos chineses e países árabes e muçulmanos em títulos do Tesouro americano, dá valor relativo às ameaças de Bessent. Mas os ruídos provocados por Bessent agitaram os mercados de câmbio e provocaram perda do real frente ao dólar. Depois de abrir a R$ 5,4659 e chegar a R$ 5,5175, o dólar era negociado a R$ 5,4760 às 13 hs, com alta de apenas 0,23%.

Serviços derrapam após 7 meses de alta
Embora a receita real de serviços tenha crescido 0,1% em agosto, após alta de 0,2% em julho, segundo o IBGE, resultado que veio acima da estimativa do Bradesco (-0,1%), o carrego estatístico do dado de agosto aponta alta de 0,7% no 3º trimestre, desacelerando frente à alta 1,2% no 2º trimestre. O IBGE revisou para cima os meses de junho e julho, com maior avanço nos serviços prestados às famílias.

Assim, o setor avançou 2,5% na comparação interanual, contra 2,9% e 3,0% nos meses de julho e junho, respectivamente. Os serviços prestados às famílias cresceram 1,0% no mês, após moderação nos meses anteriores. Os serviços profissionais e administrativos aumentaram 0,4% em agosto. Já os serviços de transporte avançaram 0,2%, recuperando parte da queda observada em julho (-0,5%), indicando o fôlego da comercialização da safra recorde de grãos de 2025 (que deve crescer 16,8%, segundo a última estimativa do IBGE, para a China e outros países, face o tarifaço americano..

Para o Bradesco, a pesquisa reponderada pelos pesos do PIB aponta estabilidade do setor de serviços em agosto, após alta de 0,5% em julho e coloca o carrego em 0,7% para o 3º trimestre — desacelerando frente ao avanço de 1,2% no segundo. Mas a alta de sete meses não invalida o quadro de desaceleração: a taxa mensal registrada em agosto foi a menor desse período e as variações interanuais também vêm diminuindo. O cenário segue compatível com um crescimento do PIB de 2,0% em 2025, diz o Bradesco.