INSS e juros arrombam as contas públicas

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O setor público consolidado registrou déficit primário (receitas menos despesas, sem contar os juros da dívida pública) de R$ 47,1 bilhões em junho, pior do que a expectativa de mercado, de um déficit de R$ 41 bilhões. No acumulado dos últimos 12 meses, o resultado primário segue superavitário em R$ 19,4 bilhões, ou 0,1% do PIB.

Como bem analisou o Bradesco, o déficit primário no mês foi influenciado pela sazonalidade negativa decorrente do pagamento antecipado do 13º salário pelo INSS, com rombo de R$ 105,689 bilhões concentrado nos meses de maio e junho, que fechou com uma conta negativa de R$ 49,364 bilhões). A antecipação explica o déficit primário de R$ 43,5 bilhões do governo federal no mês. Os governos regionais tiveram déficit de R$ 1 bilhão (déficit de R$ 1,4 bilhão dos estados e superávit de R$ 0,4 bilhão dos municípios). As estatais tiveram déficit de R$ 2,6 bilhões no mês (déficit de R$ 6,2 bilhões no ano).

Mas, descontando-se os aumentos de gastos com a antecipação do 13º salário, que estimula o consumo e a economia, o Regime Geral da Previdência Social, que inclui as aposentadorias do funcionalismo (sempre no ápice da carreira) e dos militares (idem), tem sem maior desequilíbrio nos funcionários do Estado, que até hoje não foi estacando (os militares ficaram de fora da reforma de 2019 e os altos salários do funcionalismo dependem de Reforma Administrativa. Assim, os rombos crescentes são cobertos com dívida pública.

Os juros líquidos da dívida pública aumentaram R$ 61,016 bilhões em junho. A conta foi menor que os R$ 92,145 bilhões em maio, inflado pelo impacto da desvalorização cambial, porque o Banco Central teve ganho de R$ 20,9 bilhões nas operações de “swap cambial”. Assim, o resultado nominal (que inclui os juros) apresentou déficit de R$ 108,1 bilhões em junho, menor que o observado no mesmo mês de 2024. Na comparação com junho de 2024 houve pagamento menor de juros no período, favorecido pela valorização cambial.

Ainda assim, as despesas com juros seguem elevadas e somaram R$ 416,166 bilhões no primeiro semestre (3,4% do PIB). Os rombos do INSS somaram R$ 203,054 bilhões, contra R$ 198,221 bilhões nos primeiros seis meses de 2024.

A Dívida Bruta do governo geral subiu 0,5 ponto percentual no mês, para 76,6% do PIB. Já a Dívida Líquida do Setor Público aumentou de 62% em maio para 62,9%. Os juros apropriados contribuíram com +0,5 p.p. na dívida líquida e +0,7 p.p. na dívida bruta. A valorização cambial impactou em +0,5 p.p. a DLSP e em-0,2 p.p. a DBGG. Cada ponto a mais na Selic onera a DLSP em R$ 57,4 bilhões ao fim de 12 meses. A Selic subiu 4,5% nos últimos 12 meses.

Ao analisar o resultado, o Bradesco disse que “a dinâmica da dívida mostrou sinais mais claros de elevação no mês devido ao déficit nominal elevado”. Apesar da dívida bruta ter subido apenas 0,1 p.p. no primeiro semestre, o banco projeta elevação mais acentuada na segunda metade do ano em função da desaceleração da atividade econômica (PIB menor que o projetado) e da piora esperada no resultado nominal. Assim, o Bradesco estima que “a relação Dívida/PIB encerre o ano próxima de 80%”.

Antes das tarifas FMI revê para cima PIB mundial

A projeção de crescimento global, anunciada dia 29, foi de 3,0% para 2025 e 3,1% para 2026 (aumento de 0,2% em 2025 e de 0,1% em 2026) em relação ao “Panorama Econômico Mundial” de abril de 2025. Isso reflete a antecipação de tarifas, tarifas efetivas mais baixas, melhores condições financeiras e expansão fiscal em algumas jurisdições importantes e um dólar mais fraco.

Ocorre que a entrada em vigor das tarifas, anunciada ontem à noite, para valer a partir de 7 de agosto, para a maioria dos países, pode mudar as projeções. O Brasil sofre (até agora) o maior aumento, com as tarifas médias saltando de 2,2% para 33% (50% no máximo). A maior tarifa coube à Síria (41%). A Zona do Euro e o Japão ficaram com 15%. O Canadá recebeu 35% e a Suíça 39%. A Argentina recebeu 10%, como o Reino Unido, Rússia e 90 países. O México negocia 25% e, na China, as conversas estão em torno de 30%.

E os dados fracos da criação de empregos nos EUA em junho (73 mil vagas) derrubou o dólar e as bolsas (o S&P caía 1,61% ao meio-dia – horário de Brasília). O real valorizava 0,86%, com o dólar negociado a R$ 5,55.

A inflação global deve cair para 4,2% este ano e 3,6% em 2026, mas a inflação nos EUA, cujo PIB cresceria apenas 1,9% este ano e 2,0% em 2026, deve permanecer acima da meta. Persistem os riscos de queda decorrentes de tarifas potencialmente mais altas, incerteza elevada e tensões geopolíticas. Para o Fundo Monetário Internacional, “Restaurar a confiança, a previsibilidade e a sustentabilidade continua sendo uma prioridade política fundamental”.

Do lado positivo, o crescimento global pode ser impulsionado se as negociações comerciais levarem a uma estrutura previsível e a um declínio nas tarifas. “As políticas precisam trazer confiança, previsibilidade e sustentabilidade, acalmando as tensões, preservando a estabilidade financeira e de preços, restaurando as reservas fiscais e implementando reformas estruturais muito necessárias” recomenda o Fundo.

Brasil, China e Índia crescem mais

Na revisão do panorama mundial, o Brasil, depois de crescer 3,4% em 2024, desaceleraria para 2,3% este ano (o governo esperava 2,5% antes do tarifaço) e 2,1% em 2026. Entre as maiores economias, o FMI pôs a Índia com a maior projeção de crescimento este ano e em 2026, com 6,4%, superando os 4,8% da China, em 2025, e 4,2%, em 2026. Quarto país mais populoso do mundo, a Indonésia teria alta de 4,8% no PIB nos dois anos.

Nas projeções do FMI, o México seria a economia mais afetada pelos tarifaços dos Estados Unidos, com o PIB caindo de uma expansão de 1,4% no ano passado para apenas 0,2% este ano (nos EUA a queda esperada é de 2,8% para 1,9%). O FMI vê com otimismo a Argentina, com crescimento de 5,5%