Nem Trump fecha ou cala o STF

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Em outubro de 2018, depois de ser eleito deputado federal com mais de 1,7 milhão de votos (PSL-SP) Eduardo Bolsonaro disse, numa palestra, que bastava "um soldado e um cabo" para fechar o STF. O tempo passou e nos quatro anos do governo (?) de seu pai, e mais os dois anos e meio do governo Lula, o filho 03 percebeu que o Supremo Tribunal Federal, hoje presidido por Luís Roberto Barroso, e o Poder Judiciário são mais resilientes do que supunha.

Licenciado desde março deste ano do mandato federal pelo PL-SP, para atuar nos Estados Unidos contra o julgamento do Supremo Tribunal Federal que tem como réus, liderados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro, os envolvidos na tentativa de golpe militar que culminou no 8 de janeiro de 2023, ele conseguiu que o governo Trump embaralhasse as cartas e fizesse chantagem contra o Brasil, condicionando a não imposição de 50% de tarifas nas exportações aos EUA (alegando déficit comercial inexistente) à suspensão das ações contra Bolsonaro no STF.

Diante do tiro no pé, que colocou o setor exportador para o mercado americano como refém de uma chantagem, com forte condenação da opinião pública, que refluiu na recuperação do apoio ao governo Lula, não contente com a intervenção americana na soberania brasileira, no Poder Judiciário, o deputado instou o Departamento de Estado a fazer sanções contra oito dos 11 ministros do STF e mais o Procurador Geral da República, Paulo Gonet, autor da denúncia contra o ex-presidente e seus 33 aliados, em julgamento no STF.

A rigor, o Departamento de Estado cassou os passaportes dos oito ministros e familiares, assim como o do PGR e família. Todos não poderão ir aos EUA, mas o julgamento seguirá naturalmente, após o recesso do Judiciário. Atacar o ministro Alexandre de Moraes, que é o relator do caso no Supremo, era o objetivo inicial de Eduardo Bolsonaro. O tirambaço do tarifaço atingiu o Brasil.

Mas a vingança pessoal contra Alexandre de Moraes e os ministros da Suprema Corte que o clã Bolsonaro não julga aliado (além dos dois ministros nomeados por Bolsonaro, Nunes Marques e André Mendonça, foi considerado simpático à família o ministro Luís Fux, que integra o quinteto julgador do golpe) - todos sancionados pelo Departamento de Estado -, não parou por aí.

Em rede social nos EUA, declarou: “O tempo todo a gente tem que expor o nível de várzea que é o Moraes com a caneta do STF. O ideal seria ele fora do STF. Trabalharei para isso também, tá (sic), Moraes? Então, quando a gente fala que o visto foi só o começo, é porque o nosso objetivo será te tirar da Corte. Você não é digno de estar no topo do Poder Judiciário. E eu tô (sic) disposto a me sacrificar para levar essa ação adiante”, disse Eduardo. “O couro é duro, a guerra não acabou. Vai vir mais sacrifício aí pela frente. Eu sei disso, mas eu tô (sic) disposto a ir até as últimas consequências. Será que o Barroso tá (sic)?”, assinalou. Mas foi diante de Moraes que o pai pediu desculpas no STF, chamou os bolsonaristas acampados diante de quartéis de “malucos” e o convidou para ser seu “vice em 2026”...

Focus reduz saldo comercial em US$ 9 bilhões

O resultado do contencioso criado pelos Estados Unidos, por pressão de Eduardo Bolsonaro e o economista Paulo Figueiredo, neto do último ditador brasileiro, o general João Batista Figueiredo, já pode ser sentido na projeção do saldo da balança comercial na Pesquisa Focus, colhida até sexta-feira no mercado financeiro e divulgada hoje pelo Banco Central.

Trump anunciou o tarifaço contra o Brasil dia 9 de julho. Na pesquisa Focus apurada em 27 de junho, a previsão do saldo das exportações sobre as importações era de US$ 74 bilhões. Na semana seguinte a previsão baixou para US$ 70 bilhões e se reduziu a US$ 69,50 bilhões na mediana das respostas até a última sexta-feira. Mas o agravamento da situação dia 18, com a colocação de tornozeleira eletrônica no ex-presidente Bolsonaro (as sanções contra Moraes e os ministros do STF só foi conhecida após o fechamento da pesquisa) a mediano das respostas dos últimos dias úteis teve redução expressiva, para US$ 65 bilhões. E a baixa tende a superar os US$ 9 bilhões.

O mercado, pressentindo que pode haver oferta de produtos não exportados para os EUA para o consumo interno, reduziu, mais uma vez, a projeção do IPCA de dezembro, de 5,17% para 5,10% e 5,07% na mediana dos últimos cinco dias úteis. A expectativa para a cotação do dólar em dezembro ficou estável em R$ 5,65, mas caiu para R$ 5,63 na mediana dos últimos cinco dias.

Hoje, numa jornada quase geral de baixa do dólar ante as principais moedas, a moeda americana era negociada a R$ 5,5545, com baixa de 0,43, às 13:50 (horário do Brasil). O Ouro subia 1,52%, o barril do petróleo tipo Brent para entrega em setembro caí 0,60%, o Contrato C de Café para entrega em setembro tinha baixa de 3,94% na Nymex, o contrato de açúcar (com o mercado tumultuado pelas pressões de Trump contra o xarope de milho da CocaCola) tinha queda de 2,62%. Já o suco de laranja subia 2,59%