
O OUTRO LADO DA MOEDA
Commodities sobem com tarifaço
Publicado em 14/07/2025 às 15:29
Alterado em 14/07/2025 às 15:34
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Além de paralisar o comércio internacional, como alertou o negociador comercial da União Europeia, Maros Sefcovic, a escalada tarifária do presidente Donald Trump desvalorizará mais o dólar (prevê o banco suíço UBS) – a moeda americana tem hoje poucas oscilações ante as principais moedas e sobe 0,30% frente ao real, cotado a R$ 5,5730 – e já provoca forte alta de preços das commodities antecipando inflação para os Estados Unidos.
A ameaça de tarifas de 50% contra as exportações brasileiras para os Estados Unidos, a partir de 1º de agosto, além de causar transtornos nos negócios já contratados de manufaturados e semielaborados (como aviões, celulose, motores e peças para veículos - aço e alumínio já estão taxados com 25% - afeta principalmente os preços de commodities das quais o Brasil é grande fornecedor ou concorrente dos EUA.
A reação das bolsas de mercadorias foi fortemente negativa nos preços de dois produtos dos quais os EUA são dependentes, como o cobre e o suco de laranja. A tributação de 50% sobre o cobre chileno fez o metal acumular alta de 15% em um mês, apesar da baixa de 1,00% nesta segunda-feira. Já o suco de laranja, fornecido quase 80% pelo Brasil, teve nova alta de 8,4% hoje, acumulando 39,50% em uma semana e 14,50% em 30 dias.
Outros produtos oscilam muito. No café, que tem no Brasil o maior fornecedor dos EUA, o contrato C para entrega em setembro sobe hoje 5,72% na Bolsa de Mercadorias de Nova York (Nymex) e acumula alta de 8,41% em uma semana, invertendo o movimento de baixa nos mercados pela melhora da safra no Vietnã, 2º maior produtor de café, líder na variedade robusta) e pela colheita no Brasil. Para se ver como o tarifaço prejudica os americanos, em 30 dias o contrato C do café ainda tem queda de 12,42%. Em Londres – à margem do tarifaço - o café acumula queda de 17,19%, mesmo com alta hoje de 10%. Milho e soja caem de preços, mas o óleo de soja dispara. O petróleo Brent cai 1,15%, contado a US$ 69,55 o barril para entrega em setembro.
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Juro alto derruba PIB do BC em maio
Como não podia deixar de ser, a elevação das taxas de juros segue tirando o fôlego da economia. Em maio, quando já era negativo o impacto positivo da movimentação da supersafra de grãos, o IBC-Br (a prévia do PIB do Banco Central) teve queda de 0,74%, com ajuste sazonal. A indústria caiu 0,50%, os serviços ficaram estáveis. A produção do agro encolheu 4,25% em maio.
O interessante é que o Banco Central revisou o dado de abril (em vez de alta de 0,16%, o crescimento foi de apenas 0,05% - portanto a desaceleração foi mais forte. E cabe destacar que a taxa Selic ainda estava em 14,75% ao ano em maio. Ela foi elevada para 15% em 18 de junho.
Itaú revê projeções após tarifaço
O Itaú divulgou hoje a atualização do cenário de julho, já incorporando os impactos do tarifaço dos Estados Unidos, que pode favorecer o enfraquecimento dólar. Mesmo assim, o banco manteve a projeção da taxa de câmbio em R$ 5,65 em 2025 e 2026.
O Itaú manteve a projeção de crescimento do PIB em 2,2% para 2025 e 1,5% para 2026. Mas considera a tendência baixista no 2º trimestre e pelo impacto de tarifas impostas pelos EUA no crescimento à frente. Para 2026, manteve um viés altista na projeção. Em relação ao mercado de trabalho, as estimativas para a taxa de desemprego permanecem em 6,4% para 2025 e 6,9% para 2026.
O banco revisou a projeções do IPCA de 2025 de 5,3% para 5,2%, com destaque para a queda em alimentos, influenciada pelo recuo no preço de milho, além da redução do IPI sobre automóveis. Esses efeitos são apenas parcialmente compensados por reajustes pontuais já anunciados de energia elétrica e loterias. Para 2026, manteve projeção em 4,4%.
A previsão do resultado primário foi mantida em -0,6% em 2025 e revisada para -0,9% (de -0,8%) em 2026. Enquanto a perda de receita em 2025 com a queda do IOF deve ser substituída por leilões extraordinários de excedente do pré-sal no próximo relatório bimestral (22/jul), o Itaú não vê compensação imediata para 2026, e, consequentemente, ainda espera piora no próximo ano.
Diante da incerteza elevada e os efeitos defasados da política monetária, o Copom deve ter encerrado o ciclo de alta na última reunião, no nível de 15,00%. O Itaú espera início de corte de juros apenas no 1º trimestre do próximo ano, com a Selic encerrando o ano de 2026 em 12,75% a.a.