O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

PIB de Lula (6,7%) já supera o de Bolsonaro (5,63%)

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Publicado em 07/03/2025 às 14:30

Alterado em 07/03/2025 às 14:30

O governo força a economia a não perder tração (no consumo das famílias) com a liberação de R$ 12 bilhões no FGTS Foto: Agência Brasil

Bastaram dois anos para o crescimento acumulado de 6,7% da economia brasileira sob o governo Lula – o Produto Interno Bruto (PIB) cresceu 3,4% no ano passado, com forte desaceleração no 2º semestre (0,9%, contra 2,31% no 1º, com apenas 0,2% no 4º trimestre, a menor taxa trimestral de 2024, superar o desempenho de 5,63% nos quatro anos do governo (?) Bolsonaro. O problema é que o passado fica no retrovisor (importante de se consultar para ver se uma freada forte não resulta em abalroamento na traseira) e o importante na economia é o que se divisa à frente, pelo para-brisa e o cenário é de forte desaceleração, salvo na agropecuária.

Depois de uma queda de 3,2% no ano passado, pela quebra, por problemas climáticos, das safras de soja (-4,6%), milho (-12,5%) e laranja (-21,1%), que aceleraram a inflação 4,4% em 2023 e 4,6% em 2024, mas com alta concentrada nos alimentos e bebidas (+7,6% no ano passado, contra 1,03% em 2023, quando houve uma supersafra), o IBGE e a Conab preveem nova safra recorde de grãos em 2024/25, com 322,6 milhões de toneladas, um aumento de 10,5% sobre 2023/24, espera-se que a movimentação da safra movimente a cadeia do agronegócio (sobretudo transporte e armazenagem, que cresceu apenas 1,9% em 2024).

O PIB do agronegócio, incluindo o transporte, armazenamento e a transformação e beneficiamento na agroindústria, além do comércio, serviços e atividades industriais e financeiras da cadeia do agronegócio representa pouco mais de 21% do PIB, segundo cálculos do Itaú – o Cepea estima em 25% mas a agropecuária, isoladamente, representou apenas, 6,5%.

A Indústria cresceu 3,3% (liderada pela indústria de Transformação, que cresceu 3,8%, com avanço de 4,3%, seguido pela alta de 3,6% nas atividades de serviços públicos essenciais (água e esgoto, luz, gás e coleta de resíduos) e o desempenho só não foi melhor porque a indústria Extrativa avançou apenas 0,5%, com queda na extração de petróleo e gás e avanço apenas na mineração.

Na Indústria de transformação, os destaques positivos foram da Indústria automotiva e de equipamentos de transporte; máquinas e materiais elétricos; indústria alimentícia (que deve crescer mais este ano, pela safra maior); a indústria moveleira e a indústria de produtos químicos.

Nas importações, que cresceram 14,7%, contra apenas 2,9% das exportações, os produtos químicos, máquinas e materiais elétricos, veículos automotores e máquinas e equipamentos (que justificaram o crescimento de 7,3% na Formação Bruta de Capital Fixo, com aumento de 9,7% em investimentos em máquinas e equipamentos, indicam uma revitalização de investimentos no parque industrial e de Serviços, que representa 68,8% do PIB e cresceu 3,7%, acima da média do PIB, puxada pelo avanço de 6,2% nas atividades de comunicação e tecnologia da informação. O comércio também cresceu acima do PIB, com 3,8%.

Consumo das famílias em alta

Mas o melhor desempenho da economia no governo Lula, que, mesmo com desaceleração prevista pela Pesquisa Focus do Banco Central para este ano e 2026 (2,01% e 1,7%, respectivamente – o Itaú espera 2,2% e 1,5%, e o Bradesco prevê 1,9% e 1,3%), será melhor que nos quatro anos de Bolsonaro, que amargou recessão de 3,3% em 2020, no 1º ano da pandemia, o que gerou o salto de 4,8% em 2021. E um dos motivos é a política de geração de renda para as famílias, que representou 63,8% da demanda do PIB no ano passado.

O IBGE listou alguns fatores para isso (houve pagamento de R$ 92 bilhões de precatórios caloteados por Bolsonaro desde 2021, motivo pelos quais as contas públicas deram superávit, mas também antecipação ao 1º semestre do pagamento do 13º salário dos aposentados, também adotada por Bolsonaro – e este ano, Lula também repetiu Bolsonaro ao liberar o FGTS para quitação de dívidas e melhorar as finanças das famílias): melhora no mercado de trabalho (crescimento da massa salarial real); Medidas governamentais: programas de transferência de renda às famílias; Crescimento nominal de 10,5% do saldo de operações de crédito do sistema financeiro nacional (recursos livres) para pessoas físicas; e a Selic alcançou 10,9% a.a em 2024 contra13,0% a.a em 2023 [agora ela tende a ir a 15% até junho]; e o IPCA variou 4,4% em 2024 contra 4,6% em 2023.


O risco Trump

Além dos juros altos do Banco Central, que visam derrubar a inflação (via dólar, que estava cotado a R$ 5,7785, com alta de 0,25%, às 11:15) e a contenção do consumo enquanto a maior oferta de alimentos e as últimas medidas facilitando as importações de produtos críticos (café, óleo de soja e equivalentes, carnes e sardinha), o governo força a economia a não perder tração (no consumo das famílias) com a liberação de R$ 12 bilhões no FGTS, a grande incógnita é o estrago que a política tarifária do governo Trump para conter o déficit de trilhões na balança comercial dos Estados Unidos produzirá na cadeia de suprimentos da economia globalizada. O mundo sofreu na pandemia da Covid com a perda de suprimento de chips e itens eletroeletrônicos vindos da China. Agora, o impacto pode ser maior. A LCA Consultores prevê forte desaceleração (com inflação) no PIB dos Estados Unidos. O que pode retardar a queda dos juros e acirrar a guerra entre as moedas dos países atingidos por tarifas.

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