Preços de ovo e café assustam EUA

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Não é só no Brasil e na Europa, onde os conservadores venceram a eleição para a formação do governo da Alemanha, que a inflação vem desgastando a popularidade dos governantes. Até nos Estados Unidos, com pouco mais de um mês de mandato, a popularidade do presidente Donald Trump também caiu. Segundo pesquisa Reuters/Ipsos, a taxa de reprovação do presidente subiu para 51%, refletindo o crescente descontentamento dos norte-americanos com sua política econômica. Entre os principais fatores que impulsionaram esse aumento estão as novas tarifas sobre importações e a preocupação com a inflação.

O estudo aponta que a aprovação de Trump caiu para 44%, enquanto o índice de reprovação, que era de 45% no início do mês, passou dos 50%. A economia se tornou o principal motivo de insatisfação, com a desaprovação na gestão econômica chegando a 53%. Especialistas apontam que as tarifas de 25% sobre aço e alumínio, uma das principais medidas da administração Trump, devem aumentar os custos de produção e ser repassadas ao consumidor. Além disso, a volatilidade no mercado financeiro e a incerteza sobre os rumos da política monetária também têm afetado a confiança dos eleitores.

O “The New York Times” traz na primeira página duas chamadas significativas que mostram as preocupações das famílias americanas já no café da manhã, que tem os ovos como base da primeira refeição do dia: “Para os nova-iorquinos experientes, tudo se resume a ovos baratos e onde encontrá-los”, é o título, com o seguinte complemento: “Os efeitos de um surto de gripe aviária exasperaram os consumidores de uma cidade onde o preço e a disponibilidade de ovos variam de quarteirão para quarteirão”. A reportagem diz que os americanos estão fazendo como as crianças na Páscoa: buscando encontrar ovos baratos.

Quanto ao café, que subiu mais de 50% no Brasil no ano passado, como reflexo da estiagem que quebrou as safras do Vietnã (2º produtor mundial) e da Indonésia (5º), o NYT afirma: “Os preços do café estão no nível mais alto dos últimos 50 anos”, mas afirma que “Os produtores não estão comemorando”, porque a produção da nova safra vai cair, reduzindo o faturamento. Mas o mais grave é que como o café é muito negociado em contratos futuros, quando os preços sobem, os corretores exigem que os produtores e exportadores de café coloquem mais dinheiro na forma de depósitos de margem para cobrir possíveis perdas. Alguns “traders” que venderam futuros são forçados a comprá-los de volta para se afastarem do mercado, elevando ainda mais os preços em um ciclo vicioso.

Estima-se que cerca de US$ 7 bilhões foram depositados em chamadas de margem durante o mês de novembro, quando houve o pico do mercado. Há muitas empresas em dificuldades no Brasil, Colômbia, Vietnã e Indonésia. Hoje, na Nymex, a bolsa de mercadorias de Nova Iorque, o contrato C do café era negociada a US$ 404 para entrega à vista, a operação de vencimento em março era cotada a US$ 394,90, com baixa de 5,10% e o contrato para entrega em maio valia US$ 389,15. O contrato para entrega em dezembro valia US$ 356,15.

No Brasil, Focus vê dólar menor

Na Pesquisa Focus captada até sexta-feira 21 de fevereiro e divulgada nesta segunda-feira pelo Banco Central, o mercado continuou apontando para a alta da inflação, com a projeção do IPCA no final do ano subindo de 5,60% na semana anterior para 5,65% (mediana de 151 entrevistados), enquanto a mediana das respostas dos últimos cinco dias apontou para 5,66%. Em compensação, refletindo o refluxo do dólar desde janeiro, as projeções para a taxa de câmbio no fim do ano caíram de R$ 6,00 para R$ 5,99, enquanto na mediana dos últimos cinco dias baixou para R$ 5,95. E a projeção da taxa Selic continuou estável em 15,00%. Para 2026, o IPCA subiu de 4,38% para 4,40%, mas baixou para 4,36% na mediana dos últimos cinco dias úteis. O dólar seguiu estável em R$ 6,00 em dezembro de 2026 e a Selic ficou estável em 12,50%.

As projeções de curto prazo continuam apontando queda do dólar, mas aumento da inflação. Para fevereiro (amanhã o IBGE divulga a prévia do IPCA-15), o mercado manteve a projeção de 1,37% (1,38% na mediana dos últimos cinco dias, pelo repique das tarifas de energia de Itaipu, que caíram em dezembro e janeiro e pelo aumento da Educação), mas reduziu o dólar de R$ 5,90 para R$ 5,80 (R$ 5,75 na mediana dos últimos cinco dias). O dólar estava sendo negociado hoje ao meio-dia em ligeira queda, abaixo de R$ 5,7290.

Para março, o IPCA oscilou de 0,48% para 0,49%, alcançando 0,50% na mediana dos últimos cinco dias úteis) e o dólar caiu de R$ 5,95 para R$ 5,80. Vale lembrar que a Selic sobe para 14,25% em 19 de março. Já em abril, quando se espera que a baixa do dólar e a entrada da safra agrícola recorde no mercado invertam a tendência de alta dos alimentos, o mercado reduziu a projeção de 0,51% para 0,50% no IPCA e estima que o dólar feche o mês em R$ 5,85 (R$ 5,82 nas respostas dos últimos cinco dias úteis). Na semana anterior, a aposta estava em R$ 5,97.