
O OUTRO LADO DA MOEDA
Como driblar os preços altos
Publicado em 11/02/2025 às 15:15
Alterado em 11/02/2025 às 15:15
Quando o presidente Lula disse, semana passada, em entrevista a uma rádio da Bahia, que o consumidor devia recusar comprar quando julgasse que o preço dos produtos, sobretudo a alimentação, estivesse alto, muita gente caiu de pau em cima do presidente. Mas as críticas parecem terem sido feitas só por oposição ou por quem nunca vai ao supermercado ou à feira. Quem faz compras semanalmente logo percebe o que subiu muito e o que está mais acessível, sendo aconselhável deixar de lado o que subiu e preferir o que está mais em conta. Pois quem vê o resultado do IPCA de janeiro, com redução do aumento de 0,52% em dezembro para 0,16% em janeiro, sobretudo pela redução na energia elétrica residencial (Bônus de Itaipu) que provocou redução de 3,08% no Item Habitação.
Mas na Alimentação e Bebidas, que tem o maior peso no IPCA (21,7%), tirando o café moído, que voltou a subir mais 8,56%, acumulando impressionantes 50,35% de alta em 12 meses (considerado um absurdo pela imensa maioria da população no país que é o maior produtor de café, mas não sabem que os preços dispararam no mundo pela quebra da safra do Vietnã, o 2º produtor do mundo), a cenoura, que aumentou 38,33%, o tomate, que ficou 20,27% mais caro e a cebola (+7,99%) – mas todos com preços negativos em 12 meses, indicando que a estiagem do verão está prejudicando a produção, portanto, é uma situação passageira - o IPCA mostrou que a entrada no mercado da supersafra de grãos (arroz, soja, milho e feijão) e a queda do dólar já estão produzindo a redução dos preços dos alimentos. Isso já ocorre no arroz com feijão – o básico da alimentação do brasileiro – e no óleo de soja. Mas o índice de difusão de alta (ainda refletindo o dólar e o novo salário-mínimo) só reduziu de 69% em dezembro, para 65% em janeiro, com aumento nos alimentícios de 69% para 71%.
Café solúvel sobe menos que o moído
Até os preços das carnes desaceleraram: depois de subir 7,83% em novembro e 5,49% em dezembro, os preços do contrafilé subiram apenas 1,74% em janeiro, quando as carnes em geral subiram apenas 0,36%. Mas os preços que subiram muito em janeiro, como a cenoura, a abobrinha e o pepino podem ser trocados pela batata inglesa ou ter o consumo reduzido, como o tomate. Há coisas curiosas no levantamento do IBGE. Os preços do café solúvel estão subindo bem menos que os do café em pó. Que tal a substituição, que ainda economiza filtro de papel?
Outro produto que fica mais barato (na variação de preços) é o açúcar cristal. Nas frutas, a seca no interior de São Paulo e Minas Gerais afetou a produção de laranja-pera e limão, que subiram mais de 50%. Mas as lavouras estão se recuperando e os preços estão caindo no limão e na laranja. Idem os preços das mangas, melancias e maracujás. Que podem ser trocados pelo mamão, melão e a banana (em alta). O leite, que teve a produção afetada pela estiagem no ano passado, está com boa oferta devido à recomposição das pastagens com as chuvas de outubro-novembro-dezembro, por isso os preços estão baixando.
OLM
Pressões nos combustíveis
A alta do querosene de aviação em plenas férias provocou aumento de 10,12% nas passagens aéreas e impacto de 0,07 ponto percentual na inflação, superando os 0,04 p.p. do café, do tomate, do ônibus urbano e dos preços dos automóveis novos. O estouro só não foi maior porque além da queda de 0,02 p.p. na batata inglesa, a baixa da energia elétrica teve alívio de 0,55 p.p. Infelizmente, em fevereiro vai ocorrer o inverso – o repique do bônus de Itaipu e novas pressões nos combustíveis, pelo recente reajuste do diesel e a recomposição dos níveis de ICMS (acerto ainda devido às reduções temporárias e eleitoreiras de Bolsonaro, no segundo semestre de 2022.
A gasolina é o item de maior peso entre os 377 produtos e serviços pesquisados pelo IBGE na definição final da inflação (4,97%). Mas além das pressões dos preços externos e do câmbio (amortecidos pela Petrobras com o uso de mais de 70% do petróleo mais leve do pré-sal, que a estatal extrai a baixo custo, garantindo boas margens de realização no refino, comparado à venda do petróleo cru para exportação (em contar empregos e impostos arrecadados), há um fator que tem empurrado para cima os preços da gasolina comum mesmo quando a Petrobras não altera os preços nas refinarias ou não mudam os impostos: o impacto da alta do etanol anidro, que entra com 27% de mistura na gasolina comum.
Em dezembro, o etanol subiu 1,92% e gerou alta de 0,54% na gasolina nas bombas; em janeiro, o etanol subiu um pouco menos (1,82%) e a gasolina 0,61%. No acumulado de 12 meses, o etanol subiu 21,59%, contra apenas 10,71% da gasolina. Quando estava em vigor o PPI (paridade de preços internacionais), até maio do ano passado, os reajustes eram automáticos (e a inflação acelerava mais). Talvez isto explique os problemas do grupo Cosan na produção e comercialização de álcool – também com as lavouras afetadas pela estiagem e incêndios no ano passado.
Dólar em nova jornada de baixa
E o real continuou mostrando resistência contra o dólar hoje. Depois de abrir a R$ 5,7874 e chegar a R$ 5,8243, com temor das tarifas sobre o aço e o alumínio, as cotações não se sustentaram na parte da tarde e a cotação era de R$ 5,76154 às 14:26 (horário de Brasília), com queda de 0,45%.