O OUTRO LADO DA MOEDA
A inflação influi na eleição?
Publicado em 24/10/2024 às 15:27
Alterado em 24/10/2024 às 15:27
Em eleições municipais, temas que incendeiam o debate nacional, como o custo de vida, a inflação e o desemprego, não costumam ter importância, já que as questões citadinas, como a saúde, a educação, os transportes, o saneamento e a segurança, chamam mais a atenção do eleitor.
Entretanto na divulgação do IPCA-15 de outubro do IBGE, a prévia da inflação do mês, vale notar que as duas eleições mais acirradas no 2º turno – em Belo Horizonte e Fortaleza – são justamente as duas capitais com a maior inflação acumulada em 12 meses no IPCA-15, respectivamente 6,04% e 4,88%.
A menor inflação em 12 meses entre as 11 capitais pesquisadas pelo IBGE no IPCA-15, foi a de Recife, com 2,47%, com resultado decidido no 1º turno, com a reeleição do prefeito João Campos (PSB). Salvador, a 2ª capital com menor inflação (3,95%) reelegeu Bruno Reis (União Brasil). E no Rio de Janeiro, com 4,64% foi reeleito o prefeito Eduardo Paes (PSD).
Chama a atenção o fato de que na maioria das cidades, um tema espinhoso na campanha eleitoral, o custo dos transportes públicos, apresente deflação acumulada em 12 meses na maioria das cidades (sinal de que os reajustes foram protelados para depois da eleição). Belo Horizonte é das raras exceções, com alta de 0,45%. Lá o atual prefeito (Fuad Noman – PSD) lidera apertado contra Bruno Engler (PL).
A maior baixa nos preços dos transportes públicos é registrada em Curitiba: -11,79%. Em São Paulo, maior capital do país, que acumula inflação de 4,69%, os transportes públicos baixaram 5,41% em 12 meses, um trunfo para o prefeito Ricardo Nunes (MDB) contra Guilherme Boulos (Psol).
Em Fortaleza, a disputa é de Evandro Leitão (PT) contra André Fernandes (PL). Em Goiânia, estão no 2º turno Sandro Mabel (União Brasil), apoiado pelo governador Ronaldo Caiado, e Fred Rodrigues (PL), com apoio de Bolsonaro. Em Belém, a disputa é entre Igor Normando (MDB), apoiado pelo governador Helder Barbalho (MDB) contra Eder Mauro (PL), apoiado por Bolsonaro.
Em Curitiba a batalha é entre Eduardo Pimentel (PSD) contra Cristina Graeml (PMB). Em Porto Alegre, o prefeito Sebastião Melo (MDB) está à frente de Maria do Rosário (PT).
OLM
A carne mostra força na inflação
A surpresa preocupante na prévia da inflação de outubro foi a alta de 4,18% das carnes no IPCA-15 divulgado pelo IBGE. A alta da carne, liderada pelo aumento de 5,42% no preço do contrafilé, impactou o aumento das refeições fora de casa, teve influência de 0,02 ponto percentual no IPCA-15 e contribuiu para a alta de 0,87% no item Alimentação e Bebidas, que pesou 0,18 ponto percentual na taxa do mês (0,54%). A estiagem pode impulsionar a alta da carne e afastar a picanha dos churrascos da classe média no fim do ano.
Apesar da alta da carne, no acumulado do ano a carne bovina acumula alta de 2,95%, abaixo dos 5,03% da Alimentação e Bebidas e dos 3,71% da taxa do IPCA-15 até outubro. Mas a inversão da influência benéfica da baixa da carne bovina (em outubro do ano passado tinha havido queda de 0,44% no IPCA-15, com alta de 1,42% em novembro e 0,65% em dezembro), pode pressionar a inflação.
No mês, o maior impacto foi da energia elétrica. Com a adoção da bandeira vermelha nível 2, a alta da tarifa saltou de 0,84% em setembro para 5,29% e contribuiu com o aumento de 1,72% no item Habitação, que pesou 0,26 p.p. no índice mensal. Outro item a pressionar foi Saúde e Cuidados Pessoais (+0,49%, com altas de 1,28% em produtos óticos, de 0,62% em artigos de higiene pessoal, de 0,56% em serviços médico-dentários e de 0,53% em planos de saúde. Na direção da baixa, Transportes caíram 0,33% no mês, com contribuição negativa de 0,07 p.p. no IPCA-15, graças à baixa de 11,40% em passagens aéreas.
Alta de preços não se combate com juros
Como se vê, os fatores de alta da inflação neste fim de ano são conjunturais, muito ligados a questões climáticas (energia e alimentos) e, com exceção da escalada do dólar – que é geral no mundo, ante o temor de vitória de Donald Trump nos Estados Unidos, que prometeu aumentar tarifas de importação, o que pode gerar mais inflação nos EUA e uma batalha mais longa da política monetária para debelar a inflação – não são fatores reversíveis com alta de juros.
Quando se observam os economistas que defendem a alta dos juros vê-se que a maioria é de gestores de carteiras de renda fixa, onde os ganhos serão maiores com a elevação da taxa Selic em duas jornadas de 0,50%. Mesmo que isso afunde a economia e o consumo, pelo endividamento das famílias.
A farra das isenções fiscais
O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, já revelou, ano passado, que o governo federal estava abrindo a mão de mais de R$ 480 bilhões em subsídios, incentivos fiscais e desonerações de encargos sociais. Parte do esforço para equilibrar as contas em 2024 foi para fechar ou limitar alguns furos de receitas.
Mas os governos estaduais não fazem por menos. Segundo levantamento da FGV-Direito, em 2025, os governos estaduais no Brasil devem abrir a mão de aproximadamente R$ 267 bilhões em benefícios fiscais.
Quanto mais tempo demorar o parto da reforma tributária, que além da simplificação dos tributos e da inversão da cobrança de impostos e tributos sobre o consumo para a renda e o patrimônio, pretende limitar as guerras fiscais entre os estados, mais oportunidades de acordos lesivos ao Erário podem ser tramadas nos estados. No fim, a bomba estoura no colo do governo federal, com os estados pedindo socorro para rombos nas suas contas.
E, como os governos (estaduais, municipais e o federal) vivem com o meu o seu, o nosso dinheiro dos impostos, a bomba causa dados ao cidadão-contribuinte por perda de qualidade do serviços que devem ser prestado pelo setor público, como saúde, educação, mobilidade urbana, acesso ao saneamento e à habitação e segurança pública.