
O OUTRO LADO DA MOEDA
Dólar segue em queda; mercado pede + juros
Publicado em 04/09/2024 às 14:37
Alterado em 04/09/2024 às 14:37
A duas semanas da reunião do Federal Open Market Committee -FOMC), o órgão de política monetária dos Estados Unidos, que deve dar início à baixa de juros, o Banco Central do Canadá reduziu os juros para 4,25% ao ano mas o dólar segui em baixa de 0,21% frente à moeda canadense, refletindo seu enfraquecimento ante as principais moedas. O euro avança 0,34%, a libra esterlina sobe 0,26%, o dólar cai 0,84% contra o iene e 0,18% frente ao franco suíço. A baixa se estende diante do peso mexicano (-0,4%) e frente ao real, que valoriza 0,34% frente ao dólar, cotado a R$ 5,6361, às 12:30.
Como advertiu no item 12 da Ata do Comitê de Estabilidade Financeira do de 27 e 28 de agosto e divulgada hoje pelo Banco Central, “O cenário global prospectivo ainda apresenta riscos que podem levar à materialização de cenários de reprecificação de ativos financeiros globais. Incertezas acerca do ritmo da atividade, da extensão do período de juros elevados e dos níveis de equilíbrio das taxas de juros no longo prazo, pressões decorrentes do diferencial de juros sobre as moedas, desmonte de posições concentradas em alguns ativos, preocupações quanto à sustentabilidade fiscal, e suscetibilidade dos mercados a eventuais disrupções de oferta contribuem para manter os riscos de reprecificação de ativos sob atenção”
Cenário do Comef não sugere alta de juros
O Comef adverte que há riscos de estresse no cenário financeiro global e, no campo doméstico, “avalia que a exposição do SFN ao risco da taxa de câmbio é baixa e a dependência de “funding” externo é pequena”. Entretando, “diante dos riscos relacionados à atividade econômica e ao endividamento das famílias e das empresas de menor porte, o Comef segue recomendando que as Instituições financeiras mantenham a prudência na política de gestão de crédito e de capital” num recado claro à fintechs e financeiras em geral.
O cenário descrito pelo Comef, integrado pelos mesmos membros do Comitê de Política Monetária (Copom), que se reúne dias 17 e 18 de setembro para decidir os rumos na política monetária não sugere a alta de juros – antes prenuncia cautela para esperar os efeitos dos desmontes e “reprecificação de ativos financeiros globais”, mas vozes do mercado financeiro, usam agora a alta acima do previsto do PIB do 2º trimestre par justificar alta da Selic.
LCA diz que PIB reforça ciclo de aumento moderado de juros
Segundo a LCA Consultores, na sua atualização de cenário, “as estatísticas divulgadas nos últimos dias contribuíram para moderar o receio de uma recaída recessiva nos EUA, reforçando nossa projeção de corte de 25 pontos-base no juro básico do FED em 18 de setembro. A flexibilização da política monetária nos EUA (e em outras economias centrais) tende a moderar as pressões que vêm sendo observadas nos mercados de ativos e moedas emergentes”.
“No Brasil, vêm crescendo as apostas de que o Banco Central ajustará a taxa básica Selic para cima. Essa hipótese se reforçou nos últimos dias com a divulgação de novos indicadores relativos ao mercado de trabalho e à atividade econômica - que indicam que a economia doméstica segue bastante aquecida.
“O resultado do PIB do 2º trimestre (...) superou largamente as expectativas, (...) com forte crescimento do consumo das famílias, que impulsionou os setores de comércio e serviços - segmentos muito beneficiados pelo dinamismo persistente da massa de renda dos consumidores. (...) o cenário de elevação da Selic (...) parece agora preponderar de forma mais clara. (...) continuamos a avaliar que a elevação da Selic não precisará ser draconiana - sobretudo porque as condições monetárias já se encontram em terreno restritivo e o impulso expansionista advindo da política fiscal deve arrefecer”.
O cenário base da LCA prevê “ciclo de elevação de 150 pontos-base na Selic, que deverá ser promovido ao longo das próximas quatro reuniões do Copom”. A curva projetada para o câmbio foi ligeiramente revista para baixo, uma vez que o diferencial de juros doméstico-externo tende a se ampliar - o que pode atrair capitais estrangeiros para aplicações em renda fixa. A projeção para a inflação de 2025 foi reduzida de 4,1% para 4%, devido ao contexto em que a política monetária estará algo mais restritiva e o câmbio, um pouco mais apreciado. O aumento do PIB também está passando por revisão.
Genial revê PIB
A surpresa altista com o PIB do 2º trimestre fez com que a Genial Investimentos revisasse a projeção “de crescimento para o ano de 2024 de 2,6% para 2,9%. O consumo doméstico seguirá atuando como principal “driver” de crescimento do ano, fato que (...) confirmado pelos números do mercado de trabalho, que apontam para um desempenho robusto no início do 2º semestre”.
“Vale ressaltar que, se por um lado o bom desempenho da atividade econômica tende a ser um fator positivo para o desempenho fiscal brasileiro através do aumento da arrecadação, por outro, acende um sinal de alerta para o Banco Central, visto que o aquecimento da demanda doméstica se mostra um importante fator de risco altista para a inflação no 2º semestre”.
Indústria cai 1,4% em julho, mas não assusta
A indústria teve queda de 1,4% em julho, segundo o IBGE, após forte alta (4,3%) no mês anterior, com retomada de algumas atividades no Rio Grande do Sul. O número de julho deixa um carrego estatístico de +0,9% para o 3º trimestre, após alta de 0,7% no trimestre anterior. Houve queda tanto da indústria extrativa (-2,4%) quanto a indústria de transformação (-1,3%). As paradas programadas em algumas plataformas de petróleo da Petrobras tiveram impacto negativo no resultado.
A análise por categoria de uso indica que a produção de bens intermediários e de bens de consumo encolheu em relação a junho. Já a produção de bens de capital avançou 2,5%. Isso, aliado ao aumento dos insumos típicos da construção civil, sugere nova expansão da formação bruta de capital fixo no 3º trimestre, indicando que a expansão de investimentos do parque produtivo nacional na reciclagem energética da economia e na resposta à demanda.
A Visão do Bradesco: “esperamos uma desaceleração da economia no 3º trimestre do ano, após o crescimento acelerado no trimestre encerrado em junho. Apesar do número negativo de julho, a indústria não deve ser a principal atividade a reduzir a taxa de crescimento da economia nos três meses encerrados em setembro”.
A Visão do Itaú: “Com o dado de hoje, o carrego estatístico da indústria para o 3º trimestre ficou em 0,9%, sendo 1,0% para manufatura e 0,3% para extrativa/mineração. A queda da produção industrial em julho reverte apenas parcialmente a forte alta observada na indústria em junho (pós choque das enchentes no Rio Grande do Sul que havia afetado a indústria em maio). Apesar da surpresa altista, especialmente na indústria da transformação, projetamos alguma desaceleração da atividade econômica ao longo do 2º semestre do ano”.