O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

E agora, com Jackson Hole, o que fará o BC?

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Publicado em 19/08/2024 às 13:48

Alterado em 19/08/2024 às 13:48

Em Economia, que é um processo dialético, nada como uma semana após a outra ou um mês ou um trimestre após o outro. Vejam a situação do dólar e das taxas de juros no mundo (a partir dos Estados Unidos) entre a reunião conjunta do FMI-Banco Mundial em abril, em Washington, e a próxima reunião do Federal Reserve Bank de Kansas City, com bancos centrais e representantes do mercado, no fim de semana, em Jackson Hole, Wyomin, também nos EUA. Ambas terão presença do presidente do BC, Roberto Campos Neto.

Em abril, quando o cenário dos mercados internacionais previa início de queda de juros nos EUA em maio (três movimentos de 0,25%), Campos Neto começou a alardear, ainda em Washington, a mudança de cenário, tentando preparar o mercado para a meia trava na queda de juros na reunião do Comitê de Política Monetária (Copom) em maio (na reunião de 20 de março o Copom anunciara nova queda de 0,50% em 9 de maio, e houve um racha na reunião, com metade dos diretores defendendo a manutenção do “foward guidance” e metade, com o voto de minerva de Campos Neto defendendo 0,25%, a 10,50%. Em junho e 61 de julho a taxa foi mantida em 10,50% ao ano.

A turbulência que ocorreu nos ativos nos mercados globais pelas operações de desmonte de apostas de um cenário de juros mais baixos afetou o iene (que tinha juros negativos) e as moedas emergentes, como o real, os pesos mexicano e colombiana e a lira turca. O real chegou a ter desvalorização de 10% em dois meses. O iene perdeu mais de 12%.

Mas, a chegada do outono – e das reuniões do Fed e do Copom dias 17 e 18 de setembro - será precedida pelos debates sobre política monetária na bucólica cidade do meio oeste americano, com guinada notável no cenário, como ficou patente no comportamento dos mercados de câmbio nesta 2ª feira.

Tombo do dólar antecipa juro menor nos EUA

O dólar cai forte ante as principais moedas, antecipando a próxima queda de juros que tende a tirar os atrativos da moeda americana. O euro valoriza 0,31%, a libra esterlina, +0,27%, o dólar perde 0,21% ante o franco suíço e desvaloriza 0,62% perante o iene. No cotejo com o real, o dólar, que abriu hoje a R$ 5,4714, não se sustentou e a cotação, em queda livre, estava em R$ 5,4032 às 13 horas, uma baixa de 1,32%. Às 13:30 caía 1,10%

Desde a taxa recorde de R$ 5,8657, de 5 de agosto, o dólar já recuou 7,7% frente ao real e caiu 6,97% frente ao iene nos últimos 30 dias. É uma reversão de expectativas extraordinárias.

Mas Focus prevê alta para 2025...

Na Pesquisa Focus encerrada 6ª feira pelo Banco Central junto a 154 instituições financeiras, consultorias e institutos de pesquisa, as projeções para o dólar em dezembro de 2024 ajustaram de R$ 5,30 para R$ 5,31 (R$ 5,30 em 2025) e as projeções da Selic foram mantidas em 10,50% em dezembro de 2024, mas elevadas de 9,75% para 10,00% em dezembro de 2025. Isto porque as projeções do IPCA subiram de 4,10% para 4,22% em 2024 (4,21% nas respostas dos últimos cinco dias úteis, refletindo o recuo do dólar).

Para 2025, em função do recuo do dólar e da previsão de que a queda da Selic será mais lenta, a estimativa da inflação caiu de 3,97% na semana anterior para 3,91% (3,87% nas respostas dos últimos cinco dias úteis).

Por que mercado fala em alta de juros?

O cenário que se divisa em Jackson Hole e que já está sendo precificado nos mercados de câmbio de todo o mundo, contrasta com a visão catastrófica de alguns gestores financeiros entrevistados pelo Valor Econômico – Legacy, Asa a WHG preveem que a Selic iniciará escalada em setembro até 12% no 1º trimestre do ano que vem; a Genoa prevê alta até 11,75% e o banco ABC, até 11,25%.

Trata-se de diagnóstico velho, sobre um cenário da semana passada (o Valor prepara a edição de sábado, domingo e segunda na sexta-feira). Qual a lógica de subir juros no Brasil quando o preço do dólar cai forte e as projeções nos Estados Unidos reforçam a baixa de juros a partir de setembro? Para que o Brasil andaria na contramão dos movimentos do Fed?

O presidente Lula pode não entender de economia, mas tem sensibilidade política e bom senso que faltam a boa parte dos economistas e analistas econômicos deste país. O ex-ministro Delfim Netto já tinha percebido isso e elogiava a perspicácia de Lula (na verdade, era um autoelogio, pois Lula virou conselheiro econômico de Lula e Antônio Palocci, desde 2003).

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