O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Mercado recebe cortes com pé atrás

Publicado em 05/07/2024 às 15:00

Alterado em 05/07/2024 às 16:42

A libra esterlina reagiu com a maior alta frente ao dólar (+0,36%) no primeiro dia após a vitória do Partido Trabalhista e a indicação do líder do partido, Keir Starmer, como novo primeiro-ministro, mas o índice FTSE caiu 0,60%. O euro subiu 0,24% frente ao dólar, que caiu 0,15% frente ao iene e 0,26% em relação ao franco suíço. As boas indicações de desaceleração da economia nos Estados Unidos (206 mil vagas em junho com quedas em vários setores) fizeram aumentar as apostas de queda dos juros nos UEA em setembro.

O real continuou se recuperando, com valorização de 0,11%, acumulando alta de 2,09% na semana depois de passada a grande especulação no vencimento dos contratos futuros de junho e reagindo ao anúncio pelo governo Lula de que fará cortes em despesas para ajustar o orçamento. Em um mês, a queda do real ainda atinge 4,05%. A moeda brasileira tem pior desempenho que o peso mexicano: o dólar subiu hoje 0,36%, com baixa de 0,99% na semana e alta de 0,99% em 30 dias.

Apesar de cair hoje 0,32% frente à moeda japonesa, e subir 0,04% na semana, o dólar subiu 3,41% em 30 dias e supera as perdas do real: o dólar subiu 13,93% em 12 meses contra 11,43% do real. O comportamento se explica pelo fato de os juros serem praticamente negativos no Japão, e a reação desta semana vem da maior possibilidade de queda nos juros americanos em setembro. No Brasil, porém, ainda há ceticismo quanto à questão fiscal, como expressa a Genial Investimentos.

Genial: fiscal está longe de ser resolvido

“A primeira reação dos investidores ao anúncio do ministro da Fazenda informando que o governo irá fazer um corte nas despesas obrigatórias em 2025 da ordem de R$ 25,9 bilhões foi positiva, com forte valorização do real e queda das taxas de juros dos títulos do governo, revertendo parte das desvalorizações ocorridas ao longo do último mês. Ainda que no curto prazo esta decisão, se efetivamente for implementada, seja positiva, não resolve o problema fiscal”.

“Em 1º lugar, porque nada foi dito em relação ao ano de 2024 e existe uma grande dúvida entre os investidores quanto à capacidade do governo de entregar a meta de déficit primário zero neste ano. As projeções dos analistas mais otimistas apontam para um déficit próximo a 0,7% do PIB”.

“Neste contexto, a divulgação do relatório de receitas e despesas do governo federal no dia 22 de julho ganha grande relevância. A expectativa entre os analistas é que seria necessário um contingenciamento e/ou bloqueio de entre R$ 25 bilhões e R$ 30 bilhões para que o governo consiga atingir a meta de déficit primário zero. Um valor menor que este certamente vai gerar ruído”.

“A partir de 2025, a própria sustentabilidade do Arcabouço Fiscal é ainda mais problemática. Em especial, a vinculação dos pisos do INSS, BPC, Seguro Desemprego e Abono Salarial ao salário-mínimo, combinado à política de aumento do salário-mínimo real, e a vinculação dos gastos com educação e saúde à receita corrente líquida e à receita líquida de impostos fazem com que estes gastos cresçam sistematicamente acima do teto permitido pelo Arcabouço. Ou o presidente da República aceita mudar estas vinculações, e ele tem rejeitado sistematicamente, ou a regra fiscal terá de ser mudada para ser respeitada”, adverte o economista-chefe da Genial, José Márcio Camargo.

Saldo comercial cai com queda de preços

A balança comercial teve superávit de US$ 6,7 bilhões em junho, com saldo acumulado de US$ 42,3 bilhões no 1º semestre, ligeiramente menor que os US$ 44,6 bilhões do mesmo período do ano passado, quando o saldo bateu o recorde histórico. O principal destaque pelo lado das exportações, que tiveram queda de 3,9% nos preços frente a 2023 (a soja perdeu US$ 6,3 bilhões) e aumento de 6% no volume de vendas foi o maior volume embarcado de produtos da indústria extrativa (petróleo e minério de ferro) e agropecuários (açúcar teve + US$ 3,2 bilhões), que compensou boa parte da queda de preços observada até o momento.

Do lado das importações, com queda de 8,8% nos preços e aumento de 13,3% no volume importado, chama atenção o crescimento da quantidade das compras externas de bens de capital, intermediários e de consumo, refletindo investimentos na economia antes de o Banco Central dar uma pausa nos juros.

O pior desempenho da balança comercial resultou em queda no fluxo cambial do 1º semestre (US$ 11,7 bilhões contra US$ 15 bilhões no mesmo período de 2023). Em junho houve saldo de US$ 5,8 bilhões no fluxo cambial. Entretando, como cenário que reforça as apostas contra o real, o Itaú está prevendo que, com a balança comercial perdendo força e saídas no financeiro, o fluxo líquido deve ficar negativo no 2º semestre do ano.

Para o 2º semestre, o Bradesco, o mais otimista entre as previsões: espera que a balança comercial continue em bom ritmo, encerrando o ano com superávit próximo a US$ 90 bilhões. A secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior revisou a previsão para cima – US$ 79,6 bilhões. O Itaú espera saldo de US$ 85 bilhões e a LCA Consultores entre US$ 85 bilhões e US$ 89 bilhões. Mas o Banco Central, no último Relatório Trimestral de Inflação (27 de junho), previu só US$ 59 bilhões.

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