O Outro Lado da Moeda

Por Gilberto Menezes Côrtes

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O OUTRO LADO DA MOEDA

Três visões sobre a Ata do FOMC

Publicado em 04/07/2024 às 15:44

Alterado em 04/07/2024 às 15:46

Para vocês verem, caros leitores, como até um fato que procura dar maior transparência a uma questão crucial na economia mundial, a divulgação da Ata do Federal Open Market Committee (FOMC, o órgão formulador da política monetária do Federal Reserve, o Banco Central dos Estados Unidos, que afeta boa parte da economia mundial) pode ter três interpretações bem diversas. Com visões tão díspares sobre a direção futura dos juros nos EUA, dá para entender a jogatina que está cercando as cotações do dólar no mercado futuro da B3.

Com o feriado nacional de 4 de julho nos Estados Unidos, os mercados financeiros locais não funcionaram. Nas demais praças foi um dia de fraqueza do dólar. O euro subiu -,24% frente ao dólar e a libra esterlina valorizou 0,20%. O dólar cai 0,3¨% frente ao iene e 0,18% frente ao franco suíço. Nas moedas emergentes, o dólar caiu 0,505 diante do peso mexicano e a maior baixa do dia foi em relação ao real, que teve alta de 1,22% frente ao dólar às 12:30, cotado a R$ 5,4922.

As visões do mercado

Bradesco - Ata do Fed reiterou que o comitê seguirá cauteloso para iniciar o processo de flexibilização monetária, mas as condições têm se tornado gradualmente mais construtivas. No documento, foi sinalizada alguma confiança de que a inflação está retornando para uma trajetória mais benigna, após o progresso ocorrido no 2º semestre de 2023 ter sido interrompido no início deste ano. Também foi apontado que os dirigentes do Fed enxergam um quadro de moderação gradual da atividade econômica e, sobretudo, do mercado de trabalho, que tem caminhado para um melhor equilíbrio entre oferta e demanda por mão-de-obra.

Esse aspecto é relevante pois, de acordo com a ata, revela que a política monetária atual está restritiva e que a normalização do mercado de trabalho irá enfraquecer a demanda agregada. Contudo, o documento apontou algumas vezes que são necessários mais dados favoráveis para que o comitê ganhe maior confiança de que a inflação está convergindo de maneira sustentável para a meta, indicando que o Fed prosseguirá com cautela para iniciar o processo de flexibilização monetária.

LCA Consultores - Ata do FOMC reforça cenário de estabilidade dos juros no curto prazo. Inflação: os membros do FOMC avaliaram em sua reunião em 12 de junho que, embora a inflação permanecesse elevada, houve um modesto progresso em direção à meta de 2% nos últimos meses. Eles observaram que esse progresso era evidente pelas menores variações mensais do deflator do PCE e do seu núcleo por médias aparadas para abril, bem como no CPI de maio. Os participantes entenderam que diversos desenvolvimentos nos mercados de bens e trabalho apoiavam seu julgamento de que as pressões de preços estavam diminuindo.

Alguns diretores destacaram que o crescimento dos salários nominais, embora ainda acima das taxas consistentes com a estabilidade dos preços, havia diminuído, especialmente nos setores intensivos em mão-de-obra. Eles também indicaram que contatos empresariais relataram uma queda no poder de elevar seus preços. A visão geral continua sendo de que dados adicionais favoráveis eram necessários para aumentar a confiança de que a inflação estava se movendo de forma sustentável em direção a 2%.

Mercado de trabalho: os diretores do FED observaram que a demanda e a oferta no mercado de trabalho continuaram a se equilibrar de uma forma melhor, com muitos indicadores a apontar para uma redução na rigidez das condições do mercado de trabalho.

PIB: os diretores esperavam que o crescimento do PIB real neste ano será inferior ao ritmo forte registrado em 2023. Eles também registaram que um crescimento menor da produção neste ano poderia ajudar no processo de desinflação. Vale destacar, que muitos participantes observaram que as famílias de baixa e média renda enfrentam dificuldades crescentes para atender aos custos de vida mais altos. Eles notaram que tais dificuldades eram evidentes no aumento da utilização de cartões de crédito e nas maiores taxas de inadimplência, inclusive nos empréstimos para veículos.

Política monetária: todos os participantes julgaram que, à luz das condições econômicas atuais e suas implicações para o emprego e a inflação, bem como o equilíbrio dos riscos em torno do mandato do FED, era apropriado manter a faixa-alvo para a Fed Fund rate entre 5-1/4 e 5-1/2%. Além disso, julgaram que era apropriado continuar o processo de redução das participações em títulos do Federal Reserve. Ao discutir as perspectivas para a política monetária, os participantes notaram que o progresso na redução da inflação foi mais lento do que o esperado em dezembro passado. Eles enfatizaram que não esperavam que fosse apropriado reduzir a faixa-alvo para a taxa dos fundos federais até que informações adicionais aumentassem a confiança de que a inflação estava se movendo de forma sustentável em direção ao objetivo de 2%.

Genial Investimentos - Ata do Fed volta a aventar possibilidade de alta de juros
A divulgação da Ata do Fed (...) voltou a trazer a possibilidade de alta de juros caso o processo desinflacionário não transcorra como o esperado e volte a sofrer interrupções. Após um período de maior otimismo com a inflação e com os dados de modo geral no final do ano passado, grande parte do mercado e o próprio Fed foram pegos de surpresa com o repique inflacionário que ocorreu no primeiro trimestre desse ano.

Com isso, não só a possibilidade de corte de juros, na época iminente, deixou de ser cogitada, como também o Fed voltou a cogitar novas altas da “Fed Funds rate”. A atividade econômica mais forte no período, além de contribuir para isso, contribuiu para uma revisão altista da taxa neutra de juros, o que também passou a sugerir que o aperto monetário empreendido pelo Fed não havia sido tão intenso quanto se pensava.

Em relação as expectativas de inflação, houve uma mudança relevante no posicionamento de um número considerável de dirigentes, com vários deles citando, pela primeira vez, o risco de desancoragem.

Antes, os diretores do Comitê Federal de Mercado Aberto (FOMC), ao afirmarem que as expectativas de inflação estavam ancoradas, faziam essa declaração olhando apenas para as expectativas de mercado (Survey of Professional Forecasters do Fed da Filadélfia), uma vez que as expectativas de inflação do consumidor (medidas pela Universidade de Michigan) estão desancoradas desde o período da eclosão da pandemia de covid-19.

Agora, a maior demora esperada para levar a inflação de volta para a meta de 2,0%, aliada com o fato de que a métrica de expectativa dos consumidores engloba uma percepção mais abrangente sobre a inflação futura, uma vez que leva em conta uma parcela mais ampla da sociedade norte-americana que não apenas os agentes do mercado financeiro, pode ter feito os membros do FOMC verem maior risco de desancoragem das expectativas.

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